Pesquisa mostrou que plantas espontâneas aumentaram a abundância total de aracnídeos e de insetos predadores naturais de pulgões, como a joaninha, dentro de áreas cultivadas de pimenta
Experimentos conduzidos pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), no Campo Experimental Vale do Piranga e em propriedades de produtores de pimenta na Zona da Mata Mineira, testam os efeitos do manejo de plantas espontâneas no controle biológico de pragas.
A ideia consiste em manter espécies como serralha, mentrasto e picão-preto ao redor e nas entrelinhas de campos de pimenta e hortaliças como forma de atrair inimigos naturais, que atuam como predadores e parasitoides dos insetos-pragas.
“As plantas espontâneas aumentaram a abundância total de aracnídeos e de insetos predadores dentro de áreas cultivadas de pimenta, bem como provocaram redução no ataque de pulgões às plantas”, comenta Madelaine Venzon, coordenadora do Programa Estadual de Pesquisa em Agroecologia da Epamig, empresa vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).
De acordo com a pesquisadora, a adoção dessa estratégia em sistemas agroecológicos é facilitada, uma vez que não são necessárias a aquisição de sementes ou o uso de plantas desconhecidas pelos agricultores. Além disso, a técnica testada com hortaliças e pimenta pode ser adaptada para outras culturas.
Consórcio com plantas espotâneas
Alguns cuidados são necessários para impedir a competição entre as plantas espontâneas e o que é cultivado. Neste caso, a recomendação é impedir a associação das plantas no período crítico da cultura (geralmente no primeiro terço de desenvolvimento no caso de hortaliças), permitir o crescimento das plantas espontâneas em faixas alternadas com a cultura e promover o espaçamento maior nas entrelinhas da cultura principal.
“Quando se conhece as plantas espontâneas que são mais atrativas aos inimigos naturais-chave, pode-se realizar a remoção seletiva das outras plantas, para aumentar a efetividade do controle biológico”, ensina Madelaine.
Outro ponto importante é o monitoramento de insetos indesejáveis que também são atraídos pelas espécies espontâneas e que podem atacar a cultura principal.
“Recomenda-se monitorar, principalmente no período da entressafra, e realizar o controle das possíveis plantas hospedeiras de artrópodes fitófagos”, completa. O mesmo cuidado deve-se ter com plantas hospedeiras de patógenos.
Acompanhamento
Dentre as espécies espontâneas avaliadas, o mentrasto (Ageratum conizoides) atraiu um grande número de aranhas, que utilizam as plantas como substrato para construção de teias, usam suas inflorescências como local de captura de presas e também se alimentam do pólen e do néctar.
Além das aranhas, essa planta abriga diversos predadores e seu pólen e néctar são usados por joaninhas e crisopídeos para complementar dieta de presa de baixa qualidade ou quando não há presas disponíveis.
As inflorescências do picão-preto (Bidens pilosa) fornecem pólen e néctar para predadores como joaninhas e crisopídeos. O picão-preto hospeda pulgões, que não atacam os cultivos principais, mas que servem de presas alternativas para predadores e de hospedeiros para parasitoides de pulgões que atacam as plantas cultivadas. Os diversos tipos de serralha também são importantes no fornecimento de alimento para inimigos naturais.
Experimentos conduzidos no laboratório de controle biológico da Epamig Sudeste comprovaram a adequação nutricional do pólen e néctar dessas plantas espontâneas para insetos predadores.
“O incremento da diversidade local com essas plantas aumenta também a abundância de invertebrados que podem representar recursos alimentares para os besouros carabídeos, como uma alternativa às espécies-pragas associadas com os cultivos. As plantas espontâneas também fornecem locais de refúgio para estes besouros predadores, aumentando a sua persistência dentro do agroecossistema”, destaca Madelaine.
Os experimentos integram o projeto “Plantas espontâneas como mediadoras de interações ecológicas e seus efeitos no controle biológico conservativo de pragas”, financiado pelo Conselho de Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Fonte: Epamig