Quando o aparecimento não é controlado, a Amaranthus palmeri – identificada pela primeira vez em 2015, no Estado de Mato Grosso – pode provocar perdas no rendimento das culturas agrícolas, chegando a 91% no cultivo de milho, 79% na cultura de soja e 77% no plantio de algodão
As perdas econômicas da agricultura brasileira, ocasionadas pela presença de plantas daninhas resistentes a herbicidas, podem chegar à marca de R$ 9 bilhões, segundo alerta o pesquisador e engenheiro agrônomo Décio Karam, da Unidade Milho e Sorgo (MG) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)..
Mestre em Agronomia e doutor em Weed Science (Ciência de Plantas Daninhas, em tradução livre para o português), ele destaca que esse problema, identificado nos mais diversos sistemas de produção agrícola, ainda é motivo de preocupação considerando que, atualmente, 28 espécies já foram catalogadas como resistentes a herbicidas em diferentes níveis, em todo o território nacional. Ainda aponta para cerca de 50 relatos de resistência semelhante feitos por produtores rurais de várias partes do País.
“A estimativa do custo de resistência, apenas na área de soja no Brasil, está entre R$ 3,7 bilhões e R$ 6 bilhões, somente computando os gastos para o manejo das espécies resistentes. Porém, quando se insere uma perda de 5% devido à competição imposta por essas plantas, os custos chegam a até R$ 9 bilhões”, revela o agrônomo.
Associado a essa perda econômica, ele também cita outro fato significativo em torno das popularmente mais conhecidas como ervas daninhas: a ausência de novos mecanismos de controle e/ou manejo da resistência para os próximos dez anos, levando em conta que os ingredientes ativos dos herbicidas são os mesmos há décadas.
“A buva, o capim-amargoso e o capim pé-de-galinha Amaranthus palmeri (identificado em 2015, no Estado de Mato Grosso) exigem estratégias para prevenir a resistência. A chave é o manejo integrado”, afirma Karam, acrescentando que a entrada dessa última planta “inimiga”, em território mato-grossense, foi causada pelo trânsito de máquinas agrícolas vindas de áreas infestadas.
Milho, soja e algodão
Segundo o Instituto Mato-grossense do Algodão (IMA-MT), quando o aparecimento não é controlado, a Amaranthus pode provocar perdas no rendimento das culturas agrícolas, chegando a 91% no cultivo de milho, 79% na cultura da soja e 77% no plantio de algodão, conforme indica uma bibliografia norte-americana.
Karam também indica outro fato que merece atenção: a resistência do capim pé-de-galinha ao glifosato. “Em algumas regiões do Brasil, o problema é mais sério que o provocado pelo capim-amargoso”, relata.
De acordo com o agrônomo da Embrapa, é possível prevenir o aparecimento da resistência, conforme destaques abaixo:
- Rotação de herbicidas com aplicação sequencial, mistura de herbicidas com residual semelhante, aplicação de produtos em escapes e rotação de culturas;
- Manejo integrado de plantas daninhas (integração dos métodos de controle) com o acompanhamento das mudanças da flora e limpeza dos equipamentos.
Manejo do ‘tiguera’
Pesquisador da Fundação ABC, localizada no Estado do Paraná, Evandro Maschietto comenta que o problema de plantas daninhas com resistência a herbicidas é maior na cultura do milho, após o trigo e a soja.
“O milho voluntário ou tiguera pode provocar perdas de 64,4% na produtividade da soja (considerando a presença de quatro plantas de milho tiguera por metro quadrado). A presença de apenas uma planta por metro quadrado provoca perdas de produtividade de quase 30% na soja”, apresenta.
Ele ainda relata sobre ocorrências de azevém resistente, com relatos de produtores que utilizam até 16 litros por hectare de glifosato sem eficiência de controle, além da buva: “Uma única planta pode produzir até 200 mil sementes e essas sementes podem se espalhar facilmente”.
A agressividade do capim-amargoso também preocupa, conforme relata Maschietto, cuja competição com o milho e a soja pode provocar perdas significativas de produtividade.
Entenda como ocorre a resistência
Segundo a Embrapa Milho e Sorgo, a resistência é definida como a habilidade herdada de uma planta daninha em sobreviver e reproduzir-se, após a exposição a uma dose de herbicida normalmente letal (dose de bula) para a população natural. “É de ocorrência natural, devido à evolução das plantas daninhas no sentido de se adaptarem às mudanças do ambiente e ao uso das tecnologias agrícolas”.
Na prática, de acordo com a estatal, o surgimento da resistência ocorre pelo processo de seleção de biótipos resistentes, já existentes na população presente nas áreas de produção, por causa de aplicações repetidas e continuadas de um mesmo herbicida ou de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, durante determinado período de tempo.