Bactéria é responsável pelo secamento dos ramos e morte das plantas
Uma parceria entre a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/ USP) e o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) visa identificar, em algumas espécies de cigarrinhas, os vetores da bactéria Xylella fastidiosa, responsável por causar danos como secamento dos ramos e morte das oliveiras.
A bactéria, que já causou prejuízos consideráveis em olivais no Sul da Itália, tem causado a preocupação entre os olivicultores brasileiros, já que vem sendo detectada na Serra da Mantiqueira. Segundo o pesquisador do Centro de Citricultura Sylvio Moreira/IAC, Helvécio Coletta-Filho, a Xylella fastidiosa é patógeno que vive dentro das plantas de oliveira, especificamente nos canais condutores de água e sais minerais das raízes para as folhas (vasos do xilema), o que justifica os sintomas de murcha e secamento.
Ele acrescenta que, além da transmissão por insetos vetores, a doença pode se proliferar por meio da retirada de ramos de plantas contaminadas para a obtenção de mudas. “Os sintomas demoram de dois a três anos para se manifestarem, mas, mesmo as plantas assintomáticas podem transmitir a bactéria. Por isso são necessários cuidados na escolha do material a ser plantado”, observa.
Estudos
O levantamento integra um projeto sobre as cigarrinhas nas oliveiras, aprovado pelo professor João Roberto Spotti Lopes, do Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq/ USP. De acordo com o pesquisador da EPAMIG, Pedro Moura, o trabalho foi realizado em pomares de produtores na Serra da Mantiqueira e em três pomares do Campo Experimental da EPAMIG em Maria da Fé, com o apoio em campo da entidade, aliado ao conhecimento do pesquisador Helvécio Della Coletta-Filho que já estudava a Xylella fastidiosa na cultura dos citros.
O professor João Roberto, da Esalq, informa que o projeto é divido em etapas. “Nessa fase de levantamento dos vetores, fizemos coletas quinzenais durante quase cinco anos e identificamos quais as espécies predominantes”, explica e acrescenta que, na sequência, são avaliados quais estão carregando naturalmente a Xylella fastidiosa e quais têm a capacidade de transmitir essa bactéria.
“Com base nessas informações e também em características como abundância, épocas de ocorrência, flutuação populacional, vamos definir as espécies-chave para o manejo, na busca pelo controle da doença na oliveira”, completa e destaca que o trabalho em conjunto das entidades busca entender melhor como ocorre a disseminação da bactéria nas oliveiras, tanto na identificação dos vetores, como também nos impactos à planta.
A bióloga Joyce Adriana Froza, responsável pela coleta dos vetores, informa que, durante seu doutorado, e com base nas cigarrinhas coletadas nos pomares de oliveira, foram feitos experimentos para avaliar a transmissão da bactéria. “Em breve publicaremos os resultados para apontar quais das espécies identificadas se mostraram transmissoras”, explica Joyce. Os resultados também serão tema de uma circular técnica elaborada em conjunto pelas instituições participantes.
Outras espécies
O levantamento encontrou outras espécies não identificadas de cigarrinhas no Campo Experimental. “Quando identificamos que aquele indivíduo encontrado é uma nova espécie há todo um trabalho a se fazer, registros em imagens com critérios específicos, publicação de artigo em revista científica de grande impacto na área de taxonomia, além do depósito dos exemplares usados para a descrição em um museu de referência”, detalha Joyce Froza, acrescentando que também foram identificadas outras duas novas espécies nos municípios de Wenceslau Braz (MG) e de São Bento do Sapucaí (SP).