Epidemia da doença afeta produção do cereal no sul do País. Escolher cultivares resistentes é a maneira mais recomendada por especialistas para a prevenção
Também conhecida como “mofo”, o oídio de trigo é uma das primeiras doenças foliares a aparecer durante a safra do cereal. A agrônoma e especialista em fitotecnia Leila Maria Nastamilan, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Trigo, comenta sobre as formas mais indicadas para prevenir e tratar o mal.
“Os métodos mais eficientes para controle da doença são o uso de cultivares com resistência genética e a aplicação de fungicidas, em tratamento de sementes ou nas folhas”, explica pesquisadora.
Ela ensina que “o inóculo de oídio mantém-se, na entressafra, sobre plantas voluntárias de trigo e é disseminado facilmente pelo ar durante períodos sem chuva. É uma doença explosiva, pois o ciclo da doença é bastante rápido, entre 5 e 25 dias”.
Como o fungo desenvolve raças, tornando-o capaz de infectar cultivares consideradas resistentes em anos anteriores, a Embrapa Trigo realiza anualmente testes de avaliação da reação de plântulas e de plantas adultas, a fim de verificar quais delas são menos suscetíveis.
“Várias cultivares lançadas pela Embrapa Trigo, com bom nível de resistência a oídio, estão disponíveis, como BRS Belajoia, BRS Parrudo e BRS Reponte”, exemplifica a agrônoma.
Epidemia
O mofo, ocasionado pelo fungo Blumeria graminis f. sp.tritici., está causando uma enorme epidemia nesta de safra 2019, impulsionada principalmente pelo clima seco observado no mês de agosto, no Rio Grande do Sul. O problema não se observa em cultivares resistentes, que continuam com boa sanidade.
“Em Passo Fundo, cidade do interior do Estado, há registros de reduções entre 10% e 62% no rendimento de grãos, enquanto na média de anos normais de ocorrência da doença, os danos foram de de 5% a 8%”, alerta Nastamilan.
O analista de transferência de tecnologia da Embrapa Trigo, Marcelo Klein, esteve visitando lavouras de trigo em 46 locais do Rio Grande do Sul na última semana de agosto e avalia a severidade da doença.
“Em algumas lavouras já foram realizadas três aplicações de fungicidas sem atingir o controle da doença que continua se espalhando. Cada aplicação custa, em média, R$ 90,00 por hectare. Certamente esses produtores vão investir somente em cultivares resistentes ao oídio nas próximas safras”.
Controle químico
Embora não seja veiculado pela semente, o fungo pode ser controlado, em cultivares vulneráveis, pelo tratamento de sementes com o triadimenol.
Segundo a agrônoma da Embrapa , “o controle químico do oídio de trigo em cultivares suscetíveis é mais econômico via tratamento de sementes do que por meio de aplicação de fungicidas nos órgãos aéreos”.
“Em planta adulta, o monitoramento da doença deve ser semanal, a partir do afilhamento, determinando-se a porcentagem de plantas com sintomas da doença. A primeira aplicação deve ocorrer quando o nível de doença atingir o limiar de ação, conforme as Informações Técnicas para Trigo e Triticale, Safra 2019”, completa Nastamilan.
Rotação de culturas
A especialista afirma que a rotação de culturas não é efetiva para controle do oídio, já que o patógeno se encontra presente em qualquer período do ano, e lembra que “deve-se evitar adubação nitrogenada em excesso, que torna as plantas mais suscetíveis”.
Semeaduras mais precoces também são capazes de diminuir os danos da doença, pois as plântulas ficam expostas a menores quantidades de inóculo, justamente em estádio de desenvolvimento de maior vulnerabilidade .
Ocorrência
Apesar de atingir principalmente a região Sul do Brasil, o oídio também ocorre em lavouras irrigadas e em áreas de altitude nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. E está presente em todas as regiões produtoras de trigo do mundo, especialmente de clima temperado.
O fungo é de fácil identificação, pois desenvolve uma espécie de pó branco sobre folhas e colmos. “Ele afeta a planta diminuindo a fotoassimilação e aumentando a respiração”, explica a pesquisadora da Embrapa, ressaltando que “quando ocorre cedo, a doença reduz o número de espigas por área e, mais tardiamente, diminui a quantidade de grãos por espiga e o tamanho desses grãos”.
Cultivares resistentes
A cultivar de trigo BRS Belajoia, lançada este ano, vem comprovando a sanidade foliar na safra de 2019, quando grande parte das lavouras de trigo enfrenta dificuldades para controlar esta doença.
De acordo com o agrônomo e também especialista em fitotecnia, João Leonardo Pires, a resistência da cultivar BRS Belajoia ao oídio e a manchas foliares permite economizar com fungicidas na fase vegetativa do trigo.
“Vimos lavouras com a cultivar chegarem à colheita com apenas duas aplicações de fungicidas especialmente destinadas a controlar a giberela no espigamento”, conta Pires, lembrando que a variedade também dispensa gastos com redutor de crescimento e aplicação de nitrogênio no espigamento. “Na densidade de semeadura também é possível economizar, já que o uso de 300 sementes aptas/m² apresentou rendimento de grãos semelhante ao uso de 500 sementes aptas/m²”.
Já a BRS Parrudo além de resistente ao oídio, também é menos vulnerável a doenças como giberela, vírus do mosaico, ferrugem e nanismo amarelo. É indicada para os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
A BRS Reponte pode ser utilizada para panificação, mas também se enquadra no perfil de trigo exportação. Também possui resistência ao oídio e apresenta boa sanidade em relação a outras doenças que, somada às características fisiológicas da cultivar, permite ao produtor o uso de um manejo racional de insumos.