Bactéria transmitida por inseto obriga produtor de frutas cítricas a derrubar árvores
Com cerca de 3 milímetros e ciclo de vida que dura entre 12 a 43 dias, o psilídeo é devastador para a produção de frutas cítricas, com potencial para causar a destruição de pomares inteiros. E, como se sabe, a produção brasileira não é pequena. São cerca de 19,3 milhões de toneladas das diversas variedades de laranja, limão e tangerina – também conhecida como mexerica e bergamota.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que cerca de 86% dessa produção é exclusivamente de laranja – o que faz do Brasil o maior exportador global –, 8% de limão e 5% de tangerina. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Brasil é o maior produtor de frutas cítricas do mundo.
Desafios
Cultivadas em mais de 688 mil hectares, essas frutas enfrentam sérios desafios sanitários que comprometem a produção e a qualidade. Segundo o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), Júlio Borges Garcia, o psilídeo é um dos principais exemplos, pois sugam a seiva das árvores, as enfraquecendo, e são vetores de uma grave doença, o greening.
“As fêmeas desse inseto põem de 600 a 800 ovos. O ataque desses inimigos, bastante comuns no clima tropical, impede o desenvolvimento ideal da planta e favorece a presença de formigas, atraídas pelo ‘vazamento’ do líquido doce das frutas”, explica o especialista e alerta que a situação mais grave é a transmissão das bactérias que integram o grupo Candidatus liberibacter.
Garcia reforça ainda que essas bactérias são causadoras do greening, doença sem cura que pode ser “transmitida” de uma árvore para outra por meio do inseto. “Folhas amareladas ou com manchas irregulares são sintomas desse importante problema fitossanitário. Árvores com esses sinais precisam ser constantemente vistoriadas, para que seja feito diagnóstico precoce. Como não há tratamento, as plantas infectadas devem ser eliminadas dos pomares”, orienta.
Na visão do executivo, sem as árvores, que demoram anos para crescer, haverá uma redução na quantidade de frutas. “Economicamente, isso representa menos receita para os produtores e para o país. Socialmente, pode representar aumento no preço de citros in natura ou derivados, como sucos industrializados.”
Registros
O agravamento da doença – que é centenária, mas começou a ser registrada no Brasil a partir dos anos 2000 – fez com que pesquisadores de várias partes do mundo buscassem na ciência a solução para o problema.
Se ainda não há tratamento, há, porém, um método de prevenção: o uso de inseticidas para controlar o psilídeo. ”Tecnologias avançadas e seguras estão disponíveis para auxiliar os agricultores a combater esse inseto”, informa o presidente da entidade.
Ele destaca que a indústria de defesa vegetal, com base na ciência, tem desenvolvido soluções eficazes para proteger os pomares e que esses insumos passam por rigoroso processo regulatório, que leva em média 5 anos para aprovação e envolve três órgãos especializados, como os Ministérios da Agricultura, Saúde e Meio Ambiente.
“Essa é a garantia de que os insumos agrícolas só são liberados mediante comprovação de sua segurança para quem planta, quem consome e o meio ambiente”, arremata Garcia.