Ao contrário da cigarrinha-das-folhas, mais comum e já controlada com certa eficácia, a cigarrinha-das-raízes age de forma mais silenciosa e subterrânea (Foto:Ihara/Divulgação)
Uma praga pouco conhecida vem se tornando motivo de grande preocupação para produtores de cana-de-açúcar em diversas regiões do Brasil. Trata-se da cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata), um inseto que ataca principalmente as raízes da planta e pode causar sérios prejuízos econômicos, afetando tanto os agricultores quanto a indústria sucroenergética.
Ao contrário da cigarrinha-das-folhas, mais comum e já controlada com certa eficácia, a cigarrinha-das-raízes age de forma mais silenciosa e subterrânea.
Suas ninfas vivem no solo, onde se alimentam da seiva das raízes, comprometendo o desenvolvimento da planta. O resultado é uma redução significativa na produtividade, além de impactos indiretos como a queda na qualidade da matéria-prima destinada à produção de açúcar, etanol e bioenergia.
Segundo especialistas, infestações intensas podem causar perdas que ultrapassam 30% da produtividade em algumas lavouras, dependendo do grau de infestação e do estágio de desenvolvimento da cultura. Isso se traduz em prejuízos expressivos para o setor, que já enfrenta desafios relacionados ao clima, ao custo de produção e à instabilidade de preços.
A presença da cigarrinha-das-raízes tem sido registrada com maior frequência nos últimos anos, especialmente em regiões com maior incidência de chuvas e temperaturas elevadas — condições ideais para a multiplicação do inseto.
Segundo a pesquisadora científica do Centro de Cana do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Leila Luci Dinardo-Miranda, apesar da redução recente das populações devido a períodos mais secos, a praga não deve ser negligenciada, ainda mais porque a cigarrinha das raízes continua sendo relevante nos canaviais em razão das condições favoráveis proporcionadas pelo manejo da cana.
“A colheita mecanizada de cana crua deixa a palha no solo, mantendo umidade, o que favorece a incidência do inseto. Além disso, algumas variedades de cana são mais suscetíveis à praga”, explica Leila.
Técnicos agrícolas recomendam que os produtores fiquem atentos aos sinais precoces de infestação, como o amarelecimento das folhas e o enfraquecimento das touceiras, e que adotem estratégias de manejo integrado de pragas. A rotação de culturas, o uso de variedades mais tolerantes e o monitoramento constante das lavouras são medidas essenciais para conter a disseminação da praga.
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As ninfas atacam as raízes e os adultos se alimentam das folhas, injetando toxinas na planta, o que leva ao amarelecimento e seca das folhas.
Em variedades suscetíveis, o colmo (tipo de caule que emerge acima da superfície do solo em segmentos compostos por um nó e um entrenó, que se constitui num reservatório onde, em condições favoráveis, é acumulada grande quantidade de sacarose) pode secar completamente, reduzindo o teor de açúcar, aumentando a fibra e dificultando a extração industrial.
Além disso, quando os colmos começas a secar, formam microfissuras que facilitam a entrada de fungos e bactérias, podendo causar também a podridão vermelha. Isso gera problemas na indústria, como a contaminação dos processos durante a extração do açúcar.
O engenheiro agrônomo e gerente de Marketing Regional da IHARA, Marcos Vilhena, reforça o impacto econômico do inseto. “O controle inadequado pode gerar uma queda de 30% do TCH por hectare, podendo chegar até 50%. Em regiões como Ribeirão Preto, onde a produtividade é mais alta, em torno de 130 toneladas por hectare, o prejuízo pode ser bem significativo. Essa porcentagem de quebra e o preço da tonelada da cana em torno de R$ 150,00 significam uma perda financeira de R$ 4.500 por hectare”, alerta.