Área total irrigada cresce em números parecidos ao de estabelecimentos agropecuários que utilizam a irrigação: 47,6%, somando mais de 500 mil imóveis rurais e um espaço total de 6,7 milhões de hectares, segundo o IBGE
Uma das técnicas de manejo mais importantes para o desenvolvimento da produção agrícola, a irrigação vem ganhando mais espaço na agricultura brasileira. Dados do Censo Agropecuário de 2017 indicam que o número de estabelecimentos agropecuários, que fizeram uso desse processo, tem um aumento de 52,6%, em comparação ao último Censo, de 2006.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 11 anos, a área total irrigada também cresceu em números parecidos: 47,6%. São mais de 500 mil estabelecimentos e área total de 6,7 milhões de hectares.
Ter acesso a essa tecnologia permite que o produtor rural não dependa, exclusivamente, da chuva para o cultivo. “A planta precisa ser bem nutrida com água. Não havendo escassez de água, a plantação fica com o máximo de potencial. E acaba produzindo mais”, explica Marcelo de Souza Oliveira, analista do IBGE.
Conforme o Instituto, há diversos métodos de irrigação disponíveis atualmente. De acordo com o Censo Agro, os mais utilizados pelos produtores no Brasil foram a irrigação por gotejamento, a molhação, a aspersão convencional e a microaspersão.
Oliveira esclarece que nem sempre a área de produção recorre à irrigação por conta do clima seco. “Às vezes, um rio passa perto da área de plantação, por exemplo. Então, a irrigação pode explorar isso. Nada mais é que planejar o uso da água, sem esperar a chuva que poderá ou não vir daqui a alguns meses”, justifica.
Atrativos
O analista do IBGE acredita que projetos vinculados à irrigação favorecem e tornam mais atraente a área para quem quer produzir. Isto se reflete nos números de Sergipe, por exemplo, Estado onde houve crescimento de mais de 90% no número de estabelecimentos com uso da irrigação entre 2006 e 2017.
Para Saymo Fontes, engenheiro agrônomo e gerente técnico do Senar, o Estado tem um histórico de insegurança dos produtores em relação à baixa ocorrência de chuvas.
“Há também a necessidade de otimização do uso da terra e da busca da estabilidade da produção ao longo do ano”, complementa.
De acordo com o engenheiro agrônomo, os principais desafios para o produtor rural que deseja ter sua propriedade irrigada são o acesso à água – principalmente em locais como o semiárido sergipano – e a elevada salinidade e sodicidade do lençol freático.
Fora disso, tanto o acesso à energia elétrica de qualidade quanto o elevado custo para implantação dos sistemas tornam o procedimento muito caro para o produtor que pensa em fazer isso por conta própria.
Dessa maneira, alguns projetos e iniciativas governamentais voltados para a irrigação são fundamentais. Um deles é o Platô de Neópolis, projeto do governo estadual de Sergipe, que conta com uma infraestrutura para produção agrícola na região do Baixo São Francisco.
Cultivo de coco-da-baía
Segundo Ricardo Barroso, técnico na área de operação e manutenção da Associação dos Concessionários do Distrito de Irrigação de Neópolis (Ascondir), instituição que capta e distribui a água do Rio São Francisco ao longo do projeto, o Platô de Neópolis só existe por conta da irrigação.
“Em um ano, temos apenas uns quatro meses de chuva, que vai de abril a junho. Por isso, a irrigação faz com que o projeto exista e produza o ano inteiro”, assegura.
Um dos produtos mais importantes no Platô de Neópolis é o coco-da-baía. E cultivá-lo só é possível por conta da irrigação por microaspersão.
Essa técnica, a mais utilizada no Estado, alcançando mais de três mil estabelecimentos agropecuários, consiste em lançar a água de forma rápida e eficiente, com precipitação suave e uniforme, sendo considerada de fácil manutenção.
Cultura do arroz
Além do coco, o arroz também é muito comum em Neópolis. Por lá, os agricultores apostaram na irrigação por inundação há mais de 40 anos. Um desses produtores é José Leite, de 64 anos, que possui uma propriedade no Perímetro Irrigado de Betume.
Ele participa do projeto da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que engloba, além de Neópolis, os municípios de Ilha das Flores e Pacatuba, no Baixo São Francisco.
José é dono de um dos 2.860 lotes contemplados pelo projeto. O agricultor familiar conhece bem a importância da irrigação para sua plantação. “O arroz era plantado somente no período de chuvas, mas com a irrigação podemos plantar independentemente do período do ano”, diz o agricultor.