Vasos, jardineiras e canteiros na varanda, ou mesmo dentro do apartamento, são ótimas opções para fazer uma horta doméstica e ter legumes e verduras frescas disponíveis para a família
Em tempos de Covid-19, cientistas têm recomendado distanciamento social para que a população possa se preservar e permanecer saudável. Várias ações estão sendo propostas e difundidas nas redes sociais e noticiário em geral, entre elas, o cultivo de hortaliças em casa, sugerida pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Para o engenheiro agrônomo da Divisão de Extensão Rural da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), Osmar Mosca Diz, “é bastante benéfico para a saúde física e mental que as pessoas utilizem seu tempo em família para montar uma horta própria, que pode ser instalada até mesmo em um pequeno espaço”.
Osmar Mosca Diz explica que “o cultivo de hortaliças vem ganhando cada vez mais a atenção e adesão das pessoas que buscam a satisfação de cultivar e colher seu próprio alimento, contribuindo assim para um estilo de vida mais saudável”.
A seguir, ele ensina e dá dicas de como fazer sua horta doméstica, aproveitando o momento em que você está em casa e pode produzir sua própria comida, valorizando seu tempo com um trabalho prazeroso, que traz como resultado um alimento saudável, com menor custo.
Canteiros, jardineiras e vasos
Segundo o engenheiro agrônomo, por ser muito versátil, a horticultura tem a facilidade de poder ser praticada, desde o plantio em pequenos vasos, jardineiras ou canteiros de uma casa (inclusive de um apartamento), e ainda em escala comercial, no âmbito de uma propriedade rural.
Ele aconselha que o primeiro passo no cultivo de hortaliças é preparar bem a terra, de maneira que ela se mantenha bem arejada e adubada adequadamente, com bom teor de matéria orgânica e, também, descompactada, em grumos soltos e fáceis de revolver.
Para a adubação da terra, em nível doméstico, Mosca Diz recomenda utilizar farinha de casca de ovos (“pode ser feita em casa, moendo a casca de ovo seca”), farinha de ossos, torta de mamona, fosfato natural de rocha (“que podem ser adquiridos em lojas agropecuárias”), húmus de minhoca, cinzas de fogão ou forno à lenha, calcário, pó de conchas e composto orgânico, entre outros insumos de origem natural.
O engenheiro agrônomo argumenta que, no caso de cultivo em canteiros, é necessário que a superfície de cultivo esteja nivelada para não escorrer as águas das chuvas e das regas. “Isso promoverá uma boa germinação das sementes e um crescimento satisfatório das plantas, tendo em vista um bom desenvolvimento de suas raízes”.
Semeio e transplante das mudas
Com o terreno pronto, é hora de pensar em semear ou, então, transplantar as mudas de hortaliças, acrescenta Mosca Diz. Ele ensina que as mudas poderão ser produzidas em bandejas de isopor, em embalagens plásticas (como as garrafas Pet de refrigerante e água mineral), caixas reaproveitáveis de sucos (néctares) e de leite (entre outras).
Segundo o técnico, a produção das mudas pode ser feita “até mesmo no próprio canteiro, numa pequena área reservada – que será a sementeira – e cuja função é oferecer às sementes as condições necessárias para a germinação e o desenvolvimento inicial das plantas.
As plântulas (plantas recém-germinadas), cultivadas na sementeira por algumas semanas, serão, posteriormente, transplantadas para o local de cultivo definitivo, de acordo com as recomendações (porte e espaçamento) para cada espécie” orienta.
Cuidados com a sementeira
O técnico da CDRS adverte que é preciso se ter cuidado ainda maior na sementeira do que no restante do canteiro, peneirando a terra, retirando os torrões e protegendo-a da ação direta do sol e da chuva. Para isso, ele recomenda utilizar uma cobertura com sombrite ou, então, alguma outra cobertura disponível, tal como aparas de grama dispostas diretamente sobre a terra, por exemplo.
“Precisamos sempre lembrar que a ação direta do sol sobre a superfície do solo provoca o seu ressecamento e esterilização. Já o impacto direto da chuva acarreta uma compactação na superfície do solo, dificultando a emergência das plantas. Numa escala maior de cultivo, há a desestruturação do solo e sua predisposição ao processo da erosão”.
Osmar Diz aconselha que nessa pequena parte do canteiro (a sementeira), sejam semeados alface, almeirão, chicória, couves diversas, entre outras espécies de hortaliças, “aquelas que requerem transplante posterior”.
Quanto semear
Ele aconselha semear pequena quantidade de cada vez, a fim de não desperdiçar e também para que se possa calcular o total de mudas que se desenvolverá dentro de algumas semanas.
“A tendência normal é lançar muitas sementes e depois não ter espaço para plantar as mudas. Utilizando-se sementes em demasia, as mudinhas vão crescendo muito juntas umas das outras, o que compromete o seu desenvolvimento, podendo até mesmo ocasionar doenças e ainda dificultar o transplante”, explica o engenheiro agrônomo.
Já no caso de haver um espaço maior, ele diz que as bandejas de isopor são de grande auxílio e “se optar por elas, existem aquelas que têm células maiores, destinadas ao semeio de tomate, pimentão, pepino, berinjela (plantas maiores) e outras com células menores e em maior número, disponibilizadas para as verduras em geral, como por exemplo, alface, chicória, almeirão, entre outras”, detalha.
O técnico explica que, nas bandejas, é possível semear um número mais exato de plantas que se deseja produzir para um determinado período de tempo, conforme o espaço disponível para plantio nos canteiros.
Mudas em bandejas
Osmar Diz informa que as mudas produzidas em bandejas, ao serem transplantadas, são mais facilmente adaptadas ao novo local de produção porque preservam, integralmente, seu sistema radicular.
“Isso representa uma grande vantagem em relação ao transplante a partir das sementeiras, situação em que se dá um maior estresse por conta do rompimento de suas raízes”, revela.
Ele acrescenta que “nas células das bandejas onde serão semeadas as hortaliças, deverá ser colocado um substrato constituído por terra vegetal produzida na propriedade, resultante de compostagem, por exemplo, ou adquirido nas agropecuárias. No caso de se optar por fazer a mistura, será preciso uma medida de húmus de minhoca, juntando-se a ela uma medida de terra peneirada e outra de composto orgânico peneirado” sugere.
O engenheiro agrônomo orienta que, caso não haja um desses componentes, é viável utilizar uma medida de terra acrescentando a ela uma medida de composto orgânico peneirado ou, até mesmo, outra fonte de matéria orgânica peneirada.
“Após o preenchimento das células da bandeja com o substrato, pode-se proceder a uma leve compactação com a palma da mão e, em seguida, com a ponta do dedo, um graveto, ou um lápis, fazer um pequeno buraquinho onde será colocada a semente. Cada célula da bandeja deverá receber de uma a três sementes da hortaliça que se deseja produzir, podendo-se semear vários tipos numa mesma bandeja. A quantidade de sementes por célula depende do vigor e do tamanho e cada espécie de hortaliça”, pondera Osmar Diz.
Em relação ao tamanho das sementes, o técnico da Secretaria de Agricultura de São Paulo assegura que para aquelas de maiores proporções, como as de couve e beterraba, por exemplo, deve-se colocar apenas uma semente em cada célula da bandeja.
“Entretanto, é recomendável semear um número um pouco maior do que aquele de mudas que se deseja obter, para o caso de acontecer alguma falha na germinação ou no ‘pegamento’ das mudas”.
Diz esclarece que nos envelopes de sementes constam informações sobre o poder germinativo e as datas de colheita e de validade. “Após a semeadura, é necessário molhar com delicadeza e deixar as bandejas protegidas da ação direta do sol e da chuva, preferencialmente à meia-sombra”, acrescenta.
Como e quando regar
O técnico ensina que a rega das bandejas deverá ser diária e, em casos de dias muito quentes, será preciso aumentar a frequência para duas ou três vezes. Ele aconselha a utilização de um pequeno borrifador (500 ml), ou de um regador de porte menor.
“Como as bandejas são frágeis e relativamente grandes, pode-se pensar em cortá-las em pedaços para que caibam dentro de uma pequena caixa de madeira (por exemplo, aquelas usadas para acondicionar uvas, ou similares). Isso facilitará o transporte e o manejo da bandeja”, garante.
Ele informa que o ideal é que as bandejas em que foram semeadas as hortaliças, fiquem suspensas para que os furos inferiores recebam claridade, de maneira que as mudinhas não desenvolvam raízes além dos furinhos “a claridade inibe o desenvolvimento das raízes das mudas”, explica.
Osmar Diz recomenda ainda que, após a semeadura (tanto em sementeiras, quanto nas bandejas), o restante das sementes seja guardado em suas próprias embalagens revestidas, primeiro por um saco de papel e, posteriormente, por outro de plástico, bem fechadas e colocadas no interior da geladeira (frio e escuro).
Hora de transplantar para o canteiro
Em geral, as mudas devem ser transplantadas quando estiverem apresentando (no caso de alface, almeirão, chicória e couves) em torno de três a quatro folhas definitivas (sem contar aquelas duas primeiras que nascem, uma de cada lado).
Já o transplante de mudas de hortaliças como tomate, pimentão e berinjela, será feito quando as plantas estiverem portando, no máximo, de 15 a 20 centímetros de altura.
“Dias nublados, antes ou logo após uma garoa, são ideais para fazer o transplante, de acordo com o técnico da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. “Caso seja necessário fazer essa operação num dia ensolarado, é recomendável dar preferência para o final da tarde ou início da manhã (bem cedo), evitando-se os horários mais quentes do dia”.
Osmar Mosca Diz, aconselha ainda que, tanto a bandeja quanto o canteiro onde as mudas serão transplantadas, estejam bem molhados antes do transplante das mudas. “Molhar a bandeja facilita a remoção das mudas e molhar a terra no canteiro favorece o pegamento delas”, explica.
“Terminado o transplante, é preciso molhar novamente e cobrir o terreno com palha, deixando-se expostas apenas as folhas das hortaliças. A palha irá manter o solo mais úmido, mas, mesmo assim, é aconselhável molhar a terra durante toda a primeira semana após o transplante das mudas, caso não chova. Molhar com pouca água, somente na pequena área ocupada pela muda. Quando as mudinhas estão bem novas, suas raízes ocupam uma pequena porção de terra, então, seria um desperdício de água molhar todo o canteiro, com mangueira, nessa fase. Use o regador, de preferência”, orienta o engenheiro agrônomo.
Ele lembra que, no caso da sementeira, o procedimento correto é molhá-la imediatamente antes do transplante e retirar as mudas com muito cuidado, com a ajuda de uma pequena pá de mão, tenho sempre o cuidado de levar a muda para o canteiro com o máximo de terra possível junto à raiz.
Espaçamento e semeadura corretos
Em relação ao espaçamento, o técnico recomenda para as hortaliças folhosas (alface, almeirão, chicória etc), de 25 a 30 centímetros entre plantas. “A partir das bordas do canteiro até a primeira mudinha, é bom deixar a metade desse espaçamento”.
No caso de hortaliças como o tomate, pepino, berinjela, e couves (couve de folha, brócolis, couve flor e repolho), ele sugere que fique um espaço de 80 centímetros entre cada planta.
Osmar Diz explica que tanto a cenoura quanto o rabanete não aceitam o transplante, devendo ser semeados diretamente no canteiro, distribuindo-se as sementes em sulcos transversais de aproximadamente dois centímetros de profundidade, a uma distância entre eles de 20 a 25 centímetros. “As sementes são assim distribuídas, com parcimônia, ao longo do sulco e depois cobertas com uma camada de terra fina peneirada (sem torrões)”.
O engenheiro agrônomo finaliza explicando que a beterraba e a rúcula aceitam ser transplantadas e podem ser semeadas em sementeiras ou bandejas, “mas vão muito bem também na semeadura direta, como recomendado para cenoura e rabanete”.