Cultivares BRS Leila e BRS Mediterrânea se mostram resistentes em simulação de aumento de temperatura. Pesquisadores tentam antecipar os possíveis impactos das mudanças climáticas na produção das folhosas (Foto: Italo Ludke/Embrapa)
A Embrapa obteve resultados positivos com as cultivares de alface crespa BRS Leila e BRS Mediterrânea em experimentos que simularam um aumento de 5ºC na temperatura ambiente.
Os testes, que aumentaram a temperatura média de 25ºC para 30ºC durante 45 dias, demonstraram que essas cultivares mantêm um desempenho superior comparado a outras nove variedades testadas.
O estudo, liderado pelo pesquisador Carlos Pacheco da Embrapa Hortaliças (DF), teve como objetivo avaliar o efeito da temperatura sobre o desenvolvimento de plantas de alface, antecipando os possíveis impactos das mudanças climáticas.
Ele explica que trabalharam “com duas faixas de temperatura do ar, uma conforme a média histórica observada e outra projetada em um cenário extremo de mudanças climáticas globais (MCGs) para o Brasil: 25ºC/20ºC e 30ºC/25ºC, dia e noite, respectivamente”.
Os experimentos foram realizados na Câmara de Crescimento Vegetal do centro de pesquisa, uma instalação capaz de simular parâmetros atmosféricos como temperatura, umidade relativa do ar e concentração de gás carbônico. Este ambiente controlado permite aos cientistas avaliar o comportamento das plantas em condições climáticas futuras.
Pacheco lembra que as hortaliças folhosas são particularmente suscetíveis ao calor e, entre elas, a alface é a mais consumida no Brasil, segundo a Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (Abcsem).
“Isso torna nosso trabalho crucial para a adaptação às mudanças climáticas”, comenta o pesquisador..
Características das cultivares da Embrapa
A BRS Leila e a BRS Mediterrânea se destacaram devido a características específicas que lhes conferem resistência ao calor.
“A BRS Leila apresenta um atraso no florescimento da planta, permitindo que ela resista em média dez dias a mais de calor em comparação às demais alfaces testadas”, explica o pesquisador Fábio Suinaga, desenvolvedor das duas cultivares.
Por sua vez, a BRS Mediterrânea atinge o ponto de colheita mais rápido, cerca de sete dias antes das cultivares similares no mercado.
“Com um ciclo produtivo mais curto, ela fica menos exposta ao calor e evita o florescimento precoce”, detalha Suinaga.
Ele acrescenta que o florescimento antecipado pode causar problemas como alongamento do caule, redução do número de folhas e produção de látex, o que dá um sabor amargo à alface, diminuindo seu valor comercial.
Outras cultivares comerciais, submetidas às mesmas condições de temperatura elevada, apresentaram uma série de problemas, como pendoamento, queima de borda, clorose, necrose e morte das plantas, tornando-as inadequadas para a comercialização.
“Observar que nossas cultivares permaneceram firmes a 30ºC demonstra que temos material genético adaptado a condições adversas”, celebra Pacheco.
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Enfrentamento das condições adversas
O trabalho com as cultivares de alface faz parte de uma série de estratégias para enfrentar as condições climáticas adversas.
“Atualmente, estamos focados na tolerância ao calor, e na próxima etapa iremos estudar o estresse hídrico, tanto por excesso quanto por falta de água, além da tolerância à salinização e o comportamento em relação ao uso de bioinsumos”, conta Pacheco.
Fonte: Embrapa