Saiba como evitar a presença desses moluscos que podem trazer danos ao cultivo de hortaliças e flores (Foto: Piqsels)
Com tanta dedicação e esforço para manter bonita e saudável sua horta do quintal ou jardim de casa, a última coisa que se deseja é que “intrusos” invadam e danifiquem as hortaliças e flores.
Caracóis, caramujos e lesmas são presença frequente em diversas plantas ornamentais ou alimentícias e podem causar perdas significativas e algumas espécies são, até mesmo, transmissoras de doenças. Do mesmo modo, produtores rurais constantemente sofrem com os estragos que eles causam. Mas será que estes animais são todos iguais? A presença deles é sempre algo ruim?
Francisco José Zorzenon, pesquisador do Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo explica que “lesmas, caracóis e caramujos são moluscos gastrópodes, muitas vezes responsáveis por perdas econômicas na produção de hortaliças e plantas ornamentais, além de também causarem incômodo pela simples presença”.
Diferença entre caramujos e caracóis
O pesquisador do IB ensina que a principal diferença entre os dois é a existência de uma concha bem desenvolvida nos caramujos e caracóis e ausente (ou pouco desenvolvida) nas lesmas.
“Enquanto os caramujos são de hábito marinho, os caracóis vivem em ambiente terrestre ou aquático de água doce. Já as lesmas são, na maior parte das vezes, terrestres, ainda que existam espécies em ambientes aquáticos”, esclarece o especialista.
Segundo ele, existem no Brasil muitas espécies nativas destes moluscos. “Apesar de sua presença ser indesejável para muitas pessoas por causa de seu aspecto viscoso, eles não causam problemas significativos para jardins ornamentais e hortas em quintas, pois a maior parte delas está integrada aos seus habitats”, informa Francisco Zorzenon.
Desequilíbrio e prejuízo
Quando se trata de produção comercial de hortaliças, entretanto, ele relata que desequilíbrios na população dos moluscos podem trazer prejuízos importantes para o produtor rural, pois “provocam tanto danos quantitativos quanto qualitativos, que, além de causarem redução na produtividade, depreciam o produto, encolhendo seu valor devido à presença de muco ou mesmo dos próprios animais nas hortaliças”, pontua o especialista.
“Em plantas ornamentais”, ele continua, “também podem causam danos estéticos e, em alguns casos, quando em infestações severas, são considerados pragas limitantes, levando ao depauperamento e destruição das plantas”.
O pesquisador do Instituto Biológico pondera que os prejuízos econômicos são variáveis, dependendo do tipo de cultura atacada. Em algumas situações, como no cultivo de feijão em plantio direto, por exemplo, pode haver uma redução de até 20% na produtividade devido à presença dos moluscos-pragas. “Batata e batata-doce são também culturas bastante afetadas”, relata.
Habitat
Zorzenon explica que caracóis e lesmas vivem em locais úmidos e sombreados, danificando plantas geralmente durante a noite. Em condições climáticas de nebulosidade e com alta umidade, eles podem ser vistos também durante o dia, normalmente após as chuvas. Quanto mais escuro e úmido o local, melhor para as lesmas e caramujos.
“Por isso, as lesmas em jardins escondem-se em vasos, entre as sombras de grandes folhas de plantas ou próximas a fontes de água, o que torna difícil sua localização. Esses animais raspam com uma estrutura chamada rádula, as folhas, caules e brotos novos, podendo, em infestações severas, levar a morte das plantas”, alerta.
Espécies exóticas
De acordo com o especialista, o problema pode ser mais grave pela presença disseminada de espécies exóticas, consideradas invasoras. “A introdução do caracol-gigante-africano (Achatina fulica) no Brasil para fins comerciais em substituição ao escargot (Helix spp.), fez com que ele se tornasse uma praga agrícola e urbana de importância econômica”, revela.
O caramujo-gigante-africano normalmente é de grande porte, sua concha é escura, algumas vezes rajadas com cores mais claras e borda da concha fina (diferente do Megalobulimus sp., caramujo também de grande porte, nativo, cuja concha é mais clara e de borda espessa).
Zorzenon ressalta que, por ser uma espécie exótica e extremamente agressiva, tanto na procura por alimentos quanto em sua reprodução, o caramujo-gigante-africano não possui inimigos naturais, o que propicia um aumento muito rápido de sua população, fazendo com que já seja possível encontrá-lo em todas as partes do país.
Além disso – evidencia – compete com as espécies nativas, podendo levar à diminuição da diversidade de moluscos de uma região, causando considerável impacto ambiental.
“Fora os danos econômicos, também possui importância sanitária, pois pode transmitir vermes causadores de doenças graves à saúde humana, que podem levar a perfuração intestinal e hemorragia abdominal, resultando, em alguns casos, em óbito”, alerta o especialista, ressaltando que “não se deve tocar no animal sem o auxílio de luvas ou de uma sacola plástica”.
Como controlar a população de caracóis e lesmas na propriedade?
Prática muito difundida, o uso do sal colocado diretamente sobre os moluscos para abatê-los é, segundo o especialista, incorreta. “Esse procedimento deve ser evitado, pois em excesso poderá causar a redução da fertilidade do solo, afetando diretamente o vigor das plantas”, adverte.
Para ele, a escolha da melhor medida – ou conjunto de medidas – a serem empregadas depende de vários fatores, como tamanho da propriedade, tipo de cultivo e grau de infestação. Confira abaixo as práticas que o pesquisador do IB indica como sendo as mais racionais e eficientes no controle de lesmas e caracóis:
Catação: A coleta manual de adultos é realizável quando a extensão cultivada for pequena, ou em áreas urbanas domiciliares (jardins, quintais etc.). É preciso coletá-los com luvas de borracha ou sacos plásticos, devido às doenças que podem transmitir. Os indivíduos deverão ser destruídos em água fervente ou manualmente (sem contato direto com as mãos). Também podem ser acondicionados em sacos plásticos de cor escura, bem fechados, deixando-os ao sol por algumas horas.
Iscas tóxicas: Normalmente à base de metaldeído (produto medianamente tóxico e de uso domissanitário), são “pellets” que devem ser distribuídos na dose de 50 gramas por metro quadrado, propiciando uma redução de mais de 80% da população infestante. Há ainda, no mercado, iscas à base de fosfato férrico, também em forma de “pellets” e de menor impacto ambiental (menos tóxicas a animais silvestres, domésticos etc.), que devem ser utilizadas obedecendo as orientações do fabricante. As iscas tóxicas só deverão ser usadas quando a espécie infestante causar danos significativos, evitando assim a aplicação desnecessária e a eliminação de espécies não-praga.
Armadilhas atrativas: São feitas com estopa ou panos embebidos em cerveja ou leite, colocados junto à cultura infestada. As armadilhas devem ser posicionadas ao anoitecer e recolhidas no dia seguinte bem cedo. Tanto a cerveja quanto o leite atraem lesmas e caracóis, os quais deverão ser recolhidos e destruídos manualmente ou em água fervente. Também poderão ser colocados restos de hortaliças (talos, folhas etc.) como atrativos, sobre jornais ou lona plástica.
Cal ou cinzas: apesar de menos eficiente quando comparado a outros métodos, a cal ou as cinzas podem ser dispensadas em faixas de 20 cm de largura em volta da cultura. Estas faixas dificultam o acesso de lesmas e caracóis às plantas. Após cada chuva, ou semanalmente, é necessário repetir o procedimento.