O consultor e especialista em manga há 30 anos, Eduardo Ferraz, mostra soluções e como deve ser o manejo correto para uma produção fora da sazonalidade tradicional
A região do Vale do São Francisco, em Petrolina, Pernambuco e Juazeiro, Bahia, é famosa pela fruticultura, em especial, na produção de mangas e uvas. De acordo com dados da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), somente de janeiro a outubro do ano passado, foram mais de 121 mil toneladas de mangas exportadas pelo Brasil, dois quais 92% saíram dos campos do Vale, um aumento de 32,6% em relação a 2018.
O engenheiro agrônomo e especialista em manga há 30 anos, Eduardo Ferraz, foi um dos responsáveis por iniciar os estudos na região, nos anos 90, quando se atingia no máximo a produção de 15 toneladas por hectare.
O trabalho teve como ponto de partida o monitoramento de níveis nutricionais no desenvolvimento da planta. Em live, realizada pela Fertiláqua – grupo de nutrição e fisiologia de plantas, o agrônomo explica os fatores que levaram ao sucesso do cultivo da fruta mesmo fora da época.
“Anteriormente o nível de informação era baixo e alguns consultores usavam essas referências como base para trabalhos. Para nós, observando o campo, muitos índices deixavam a desejar e precisávamos construir e criar referenciais diferentes para melhorar o nível de desenvolvimento. E foi aí que vimos que o potencial produtivo da cultura poderia ser maior”, conta.
Banco de dados
Com o banco de dados inicial, criaram curvas de absorção nas folhas e frutos e fizeram ajustes e modificações no fornecimento de elementos minerais e sua distribuição nas fases fenológicas da cultura. O objetivo foi entender a quantidade necessária de nutrientes minerais demandados por cada fase.
O segundo trabalho de mapeamento para chegar a níveis altos de produtividade foi em relação ao controle hormonal da planta para descobrir a resposta em questões prioritárias como o florescimento.
“Até então, se sabia que a planta respondia melhor na época de frio, entre maio e julho. E como o desafio era produzir o ano todo, era necessário entender o equilíbrio hormonal e saber como manejá-lo”, lembra Ferraz.
Outro ponto de destaque no estudo foi sobre a arquitetura da copa. Com a taça aberta, modelo utilizado na época, havia sombreamento das laterais da planta, menos fotossíntese, perda de vigor vegetativo e, posteriormente, começava a morrer.
Quando foi invertido o sentido da poda para uma arquitetura trapezoidal, com faces mais expostas a luz, observou-se o aumento na reserva de carboidrato, isto é, energia. A diferença do nível de carboidrato total foi de 5 a 12% (taça aberta) para ate 23% (trapezoidal).
“Percebi que não era só a parte mineral que influenciava o potencial produtivo, mas também como a planta produzia e acumulava os carboidratos para produção dos frutos”, esclarece.
Fonte de energia
Durante o desenvolvimento da planta, o carboidrato é utilizado de diversas maneiras, como no combate ao estresse. Ele é produzido por fotossíntese, armazenado nas folhas, brotos e raízes como amido, e quando a planta necessita, é transformado em sacarose e usado como fonte de energia.
“Estresses fazem a planta perder muita reserva. O que fizemos foi atenuar estes estresses e aí notamos que acumulou carboidrato para o outro ciclo, sendo possível manter níveis bons de brotação, floração e frutificação”.
Segundo o especialista, enxergar o que planta está mostrando é a chave do sucesso. “Poder entender e se antecipar a problemas impacta no aumento da produtividade. E para chegar a resultados excelentes, tem que analisar esse conjunto de fatores e manejá-los de forma sincronizada, pois cada componente de produção tem sua importância”, afirma.
A cultura da manga, considerada bianual na literatura, vem sendo produzida há anos durante o ano todo em regiões como o Vale do São Francisco. “Quebramos esse paradigma e mostramos que é possível ter uma produção fora da época apenas tradicional, basta utilizar soluções e manejo correto. Hoje, trabalhamos com 50 a 58 toneladas por hectare e enxergamos na região o potencial de chegar em até 80 toneladas por hectare. Continuamos trabalhando para atingir esse patamar”, conclui.