Técnica consiste na cobertura dos parreirais, melhorando o controle da umidade e protege as plantas contra doenças e danos climáticos (Foto: Henrique P. Santos/Embrapa)
A utilização do cultivo protegido está mudando a vitivinicultura em Nova Trento, município do Vale do Rio Tijucas, em Santa Catarina. Desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), um projeto tem demonstrado como essa técnica pode melhorar a produção de uvas viníferas em regiões de clima subtropical, enfrentando desafios como alta umidade e doenças fúngicas.
O projeto, iniciado em 2020, surgiu com diversas incertezas.
“No início do projeto, em 2020, havia uma série de dúvidas, como: ‘seria possível produzir uvas viníferas sob cultivo protegido na região de clima subtropical?’; ‘essas uvas teriam qualidade adequada para vinificação?’; e, por fim, ‘os vinhos produzidos teriam um padrão de qualidade?’”, lembra o professor Alberto Brighenti, coordenador da iniciativa e docente do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFSC.
O trabalho, desenvolvido em uma propriedade na comunidade de Vígolo, conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu) e é acompanhado por técnicos e pesquisadores do Núcleo de Estudos da Uva e do Vinho (Neuvin). A iniciativa também tem apoio da prefeitura de Nova Trento e parceria com o viticultor Ricardo Cipriani, empresário do setor de fruticultura e egresso do curso de Agronomia da UFSC.
Cultivo protegido e seus benefícios

Cultivo em ambiente protegido minimiza o impacto de estresses climáticos decorrentes do excesso de chuva, granizo, geadas e baixas temperaturas, Foto: Arquivo/Prefeitura de Jundiaí
Para enfrentar o clima subtropical úmido, propício à disseminação de doenças fúngicas, o projeto adotou o cultivo protegido. Essa técnica melhora o controle da umidade e protege as plantas contra doenças e danos climáticos.
“A cada ciclo produtivo, os parâmetros de avaliação e seus resultados têm se tornado mais sólidos. As consecutivas obtenções de dados possibilitam uma comparação de resultados fundamentada e segura para sustentar a adequação de técnicas e, consequentemente, contribuir para o desempenho do setor vitivinícola da região”, pontua Brighenti.
O cultivo em ambiente protegido minimiza o impacto de estresses climáticos decorrentes do excesso de chuva, granizo, geadas e baixas temperaturas, além de impedir que os frutos sofram ataques de pássaros no período da colheita e minimizar a incidência de ataque de pragas, insetos e doenças, o que promove e melhora a qualidade final do produto.
Após quatro anos de estudos e experimentos, a produção vinícola se tornou comercial, com o lançamento da marca “O Herege”, que conta com um espumante elaborado com a variedade Chardonnay e um vinho rosé produzido a partir de uvas Marselan. [
Os pesquisadores também estão testando o cultivo de variedades PIWI (Pilzwiderstandsfähige Rebsorten), híbridos com genes de resistência a doenças fúngicas, como a Calardis Blanc.
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A produção total de uvas em Nova Trento é de 510 toneladas, em uma área de colheita de 30 ha. Foto: O Herege/Divulgação
Outro avanço obtido com o cultivo protegido foi a implementação de duas colheitas por ciclo produtivo, resultado do ajuste no calendário de colheita e podas, permitindo maior produtividade das variedades cultivadas. De acordo com o Censo Agropecuário de 2022, a produção total de uvas em Nova Trento é de 510 toneladas, distribuídas em uma área de colheita de 30 hectares, com um rendimento de 17.000 kg/ha.
A adoção do cultivo protegido pode representar um salto para os produtores locais.
“Com base nos resultados obtidos, os produtores poderão ser apresentados à alternativa de produzir uvas viníferas sob cultivo protegido. Essa prática resultara em uma redução significativa de perdas causadas por intempéries, como granizo ou chuvas excessivas. Além disso, o cultivo protegido permite um manejo mais efetivo das doenças e a redução da aplicação de defensivos químicos, devido à diminuição da umidade no ambiente de cultivo”, explica Brighenti.
“Essa prática também viabiliza o reajuste do calendário de podas e colheitas, aumentando a produtividade do vinhedo”, acrescenta.
A expectativa é que os avanços alcançados com o cultivo protegido em Nova Trento sirvam de exemplo para outros produtores da região, impulsionando a vitivinicultura local e contribuindo para a geração de novos empregos e empresas no setor.