Frutos são responsáveis pela renda de muitos pequenos produtores brasileiros. Segundo o IBGE, em 2021, foram extraídas 74 mil toneladas
A Embrapa Cerrados e a Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater-GO) lançaram, no dia 9 de novembro, em Goiânia (GO), seis cultivares de pequi, três com espinhos no endocarpo (caroço) e três sem espinhos. Os novos materiais reúnem elevada produtividade e qualidade de polpa, atendem a necessidades de agroindústrias e de consumidores e contribuem para a preservação da espécie.
“Foram 25 anos de pesquisa e de trabalho em parceria, conduzidos pelas duas instituições, com a participação também de produtores”, relata o pesquisador Ailton Pereira, da Embrapa Cerrados. “Chegamos a esse resultado com muito trabalho, esforço, ciência e tecnologia.”
As cultivares foram registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para cultivo em pequena escala na região de Goiânia e em outros locais com condições edafoclimáticas semelhantes, mediante avaliações prévias.
A partir de agora, produtores rurais poderão plantar o pequizeiro em pomares comerciais, utilizando um adequado sistema de produção, com garantia de uniformidade, qualidade, precocidade e produtividade.
GOBRS 101, GOBRS 102 e GOBRS 103 são os nomes das cultivares sem espinhos. Já as cultivares GOBRS 201, GOBRS 202 e GOBRS 203, possuem espinhos. Essas últimas são mais produtivas do que as sem espinhos. A GOBRS 201, a mais produtiva delas, alcança produtividade média anual de 85 kg por planta. A variedade que possui a polpa mais espessa é a GOBRS103 (sem espinhos)m que possui espessura média de polpa de 7 a 8 mm, o que favorece a produção agroindustrial.
Diversificação genética
“Estamos lançando seis cultivares ao mesmo tempo pela necessidade de diversificação genética da plantação”, esclarece Pereira. Segundo ele, o objetivo é favorecer a fecundação cruzada e o aumento da produção de frutos. “Trata-se também de uma medida preventiva contra futuras doenças ou pragas. É uma estratégia que deve ser adotada para minimizar o risco fitossanitário”, alerta.
Além de evitar acidentes ao consumir e manusear o produto, essa característica favorece a mecanização do processo de extração da polpa e facilita o acesso à amêndoa. “Outra vantagem do pequi sem espinhos é que a polpa dele possui sabor mais suave o que, com certeza, vai agradar ao público que hoje tem resistência ou mesmo rejeita consumir o fruto”, acredita.
Com o lançamento de variedades sem espinhos, o consumo desse fruto de aroma e sabor marcantes e que faz parte da culinária e da cultura regional, principalmente dos estados de Goiás, Minas Gerais, Tocantins e do Distrito Federal, deve aumentar, na opinião do pesquisador.
O pequi pode ser servido puro ou como ingrediente de outros pratos, salgados e doces. O arroz e a galinhada com pequi não podem faltar no cardápio regional. O fruto também é usado na agroindústria em produtos como conservas, molhos, licores, sorvetes e picolés.
Pesquisa
A pesquisa visando ao cultivo do pequi começou no fim dos anos 1990 com os estudos de produção de mudas por sementes (propagação sexuada) e por reprodução vegetativa (propagação assexuada). “Naquela época, havia muita demanda especialmente da agricultura familiar. No entanto, os agricultores não conseguiam ter sucesso no plantio, pois o pequi, assim como outras espécies do Cerrado, tem problema de germinação”, explica a pesquisadora Elainy Pereira, da Emater Goiás.
O trabalho de multiplicação começou a partir da propagação sexuada (por semente), inicialmente para atender os agricultores que buscavam essencialmente recuperar áreas degradadas. “Foi necessário desenvolver tratamentos para superar a dormência do pequi e, assim, aumentar a porcentagem de germinação. Em seguida, foram conduzidos estudos relacionados a substratos, adubação, pragas e doenças; tudo isso buscando produzir uma boa muda”, conta.
As avaliações genéticas de seleção de clones avançados terão continuidade em novas áreas nas estações experimentais da Emater Goiás em Anápolis e em Porangatu (GO), e no campo experimental da Embrapa Cerrados. O objetivo é validar dados de pesquisa e dar prosseguimento ao processo de seleção de novas cultivares geneticamente superiores e sua recomendação para diferentes regiões do Cerrado.
Símbolo do Cerrado
Frutífera nativa do Cerrado, o pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.) é a árvore símbolo do bioma. É encontrado em quase toda a Região Centro-Oeste do Brasil e em parte das Regiões Sudeste, Norte e Nordeste do País. O pequizeiro é uma espécie arbórea e pertence à família Caryocaraceae. A frutificação ocorre entre os meses de outubro a março e sua colheita é feita quando os frutos maduros caem no chão.
Muitas famílias, especialmente de pequenos agricultores, geram renda a partir da comercialização dos frutos que são coletados no campo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a extração do pequi no Brasil em 2021 superou 74 mil toneladas, sendo Minas Gerais responsável por mais da metade da produção nacional.
Mudas
De 10 a 31 de outubro, está aberta oferta pública pela Emater GO para manifestação de interesse dos viveiristas e agricultores familiares interessados em adquirir mudas de pequi das novas cultivares. São ofertados lotes com seis mudas enxertadas, sendo três cultivares de pequizeiro com espinhos e três cultivares sem espinhos.
Cada viveirista poderá adquirir de cinco a até dez lotes por CNPJ, enquanto agricultores familiares poderão adquirir até dois lotes por CPF. Os contemplados serão comunicados nos próximos dias para que sejam iniciados os trâmites de aquisição das mudas. A retirada dos lotes está prevista para o mês de dezembro, na sede da Emater, em Goiânia.