Sintomas de uma das principais doenças do cultivo de maçã (foto) e da pera podem ser confundidos com outras doenças, sendo necessário um pouco de experiência em seu reconhecimento
O cancro europeu, embora seja uma das principais doenças que atacam pomares de maçã e pera no Brasil e no mundo, ainda é um mistério para muitos produtores rurais da fruticultura nacional. O problema acomete, principalmente, as plantações dos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que são responsáveis, por exemplo, por cerca de 90% da produção de macieiras do País.
Pesquisador da Unidade Uva e Vinho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o agrônomo e doutor em Agronomia Sílvio André Meirelles Alves pondera: “Nas principais cidades produtoras do Brasil, os técnicos já conhecem a doença. Porém, em cidades com menor expressão ou com produtores em áreas mais isoladas, pode haver desconhecimento”.
Em entrevista à A Lavoura, ele diz que o maior problema está na diagnose: “Os sintomas do cancro europeu podem ser confundidos com outras doenças, sendo necessário um pouco de experiência no reconhecimento”.
Primeiro caso no Brasil
No Brasil, o primeiro caso de cancro europeu – também chamado de cancro de néctria – foi registrado no ano de 2002, causando sérios prejuízos aos fruticultores. Na época, foi erradicado, mas voltou a aparecer três anos atrás. No entanto, ainda não é possível quantificar as perdas de lá para cá.
“O prejuízo é muito dependente da incidência, da proporção de plantas doentes. E isso é variável de quadra para quadra da propriedade. Também há muita variação da incidência entre as cidades. Ainda há cidades que não foi constatada a doença e são consideradas áreas livres”, informa Alves.
Em campo, é observado que as macieiras Gala e Fuji são mais sensíveis ao cancro, mas não há explicação concreta para esse fenômeno. “É sabido que há variedades menos sensíveis do que Gala e Fuji, no entanto, essas variedades não são cultivadas no Brasil”, ressalta o pesquisador.
A doença
Causada pelo fungo Neonectria ditíssima – Neonectria galligena ou Nectria galligena –, a doença vem trazendo prejuízos pela morte de mudas e diminuição do vigor das plantas.
Alves explica que essa doença provoca um cancro (ferimento) em alguma parte lenhosa da planta: “A partir daí, há produção de novos esporos e, então, plantas vizinhas são infectadas. Se ramos dessa planta forem usadas para formação de novas mudas, as novas mudas ficam sem sintomas e expressam a doença, após a implantação do novo pomar”.
O agrônomo orienta que a principal medida de controle é a poda fitossanitária: “Em outras palavras, o cancro deve ser retirado das partes doentes. Infelizmente, no momento, não há controle biológico eficiente disponível (somente com aplicação de fungicidas)”.
Ele também informa que o ideal é aplicar um fungicida no local da poda, além de fazer pulverizações após a colheita da fruta e na estação do outono.
De acordo com o agrônomo, já existem pesquisas científicas no exterior para o desenvolvimento de novas variedades mais resistentes a essa doença.
“Há iniciativas na Suécia, Holanda, França e Nova Zelândia e, possivelmente, em outros países também. Eles estão tentando transferir genes de plantas resistentes que não são produtivas.”
Monitoramento
Com o reaparecimento do cancro europeu em território brasileiro, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Embrapa Uva e Vinho, em parceria com a Associação Brasileira dos Produtores de Maçã (ABPM), universidades e empresas privadas, articulam um projeto, desde 2012, para conhecer, monitorar e controlá-lo nas principais regiões produtoras de fruticultura do País.
Conforme a Embrapa, esse trabalho também conta com a participação de instituições estaduais, como a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação do Rio Grande do Sul (Seapi), a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) e a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar).
No Brasil, de acordo com o pesquisador Sílvio Alves, o monitoramento do cancro europeu é feito por técnicos responsáveis das unidades produtivas e enviado anualmente ao órgão estadual de defesa vegetal.
“O órgão estadual de defesa vegetal também realiza fiscalização dos pomares e viveiros. Não há números precisos divulgados. Um relatório ainda está em confecção. Sabemos, informalmente, que a realidade é diferente entre os três Estados do Sul do Brasil”, comenta o agrônomo.
Gravidade
Embora existam tantos mistérios a serem desvendados em torno do cancro europeu, o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho alerta para a gravidade do problema.
“A doença é grave e os prejuízos são conhecidos de cada produtor, de acordo com sua realidade (incidência). A perspectiva futura é que as quadras agrícolas com maior incidência sejam substituídas por novas e que as medidas de controle já divulgadas e publicadas em instruções normativas no Mapa e publicações técnicas da Embrapa sejam implementadas para manter as áreas com mínima incidência.”
Mais informações sobre o projeto, publicações técnicas e outros dados sobre o cancro europeu estão disponíveis em http://ow.ly/emlA30hJ4Zl.