Mais conhecida pelo chimarrão, tradicional bebida gaúcha, a erva-mate é responsável pela geração de milhares de empregos no Sul do País, porém ainda carece de profissionalização da produção. Pensando nisso, estão sendo disponibilizadas novas ferramentas tecnológicas que auxiliam o produtor na melhoria de práticas agrícolas
A erva-mate é o principal produto florestal não madeireiro do Brasil. Seu cultivo é totalmente agroecológico, uma vez que é plantado em áreas sombreadas e não exige desmatamento de florestas nativas.
O investimento na cultura é sinônimo de fonte de renda no Sul do País, envolvendo 100 mil trabalhadores somente no Estado do Paraná. Entretanto, é preciso que os agricultores estejam atentos às boas práticas de cultivo e cuidem com dedicação de cada pé plantado para produzir mais e melhor. Além disso, entram em campo novas tecnologias que auxiliam e profissionalizam cada vez mais a produção.
“A adubação de ervais comerciais ainda não faz parte do dia a dia da maioria dos produtores de erva-mate”, explica Ives Goulart, engenheiro-agrônomo e analista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Florestas do Paraná.
“A adubação é fundamental para o bom desenvolvimento dos plantios de erva-mate. É necessária uma mudança de hábito do produtor de erva-mate, com a adoção de práticas como análise de solo e adubação, para um equilíbrio entre saída e entrada de nutrientes no sistema”, ressalta Goulart.
Produção brasileira
Em 2018, o País produziu 393 mil toneladas, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Paraná é responsável por concentrar 87% de toda a produção de erva-mate, em especial a erva-mate do tipo envelhecida, que tem como destino o Uruguai. Já o Rio Grande do Sul se caracteriza pela produção de erva-mate fina e verde, utilizada no tradicional chimarrão.
Segundo Delmar Santin, também engenheiro florestal especialista em nutrição de erva-mate: “Devemos tratar a cultura da erva-mate de forma profissional, como se trata outras culturas. Enquanto produtores com baixa adoção de tecnologia colhem cerca de sete toneladas por hectare por colheita, produtores com alta adoção de tecnologias chegam a colher mais de 20 toneladas”.
Novas tecnologias
Pensando na melhoria do sistema de produção de erva-mate, a Embrapa Florestas criou o aplicativo Ferti Matte que vai auxiliar produtores de erva-mate e técnicos rurais a interpretar a análise de solo de ervais comerciais e recomendar a adubação nas fases de plantio, formação de copa e produção.
Para gerar os dados, o usuário deve fornecer informações de análise de solo (o aplicativo tanto realiza simulações quanto trabalha com dados reais) de um talhão.
O próprio sistema analisa as informações e gera um relatório com recomendações de aplicação de cada macronutriente. Além disso, a fase em que se encontra o erval também é considerada, pois as diferentes fases apresentam necessidades nutricionais diversas. Por isso, o Ferti Matte trabalha com os cenários de adubação de plantio, na etapa de formação de copa e na produção.
Além de gerar os relatórios, que ficam armazenados no aplicativo para consultas posteriores, o software gera uma base de dados que pode ser acessada pela Embrapa Florestas. Com essas informações, os cientistas serão capazes de identificar demandas de pesquisa e de transferência de tecnologias vindas do setor produtivo. Poderão perceber, por exemplo, se é necessário um reforço de mensagens sobre o manejo dos ervais.
No entanto, Goulart ressalta: “o Ferti-Matte não substitui a figura do técnico, pois não ajusta a dosagem recomendada à formulação pretendida. É o técnico, junto com o produtor, que define a formulação e a dosagem de campo”.
Ciência aplicada
Esta tecnologia se soma ao sistema Erva 20, que reúne resultados de pesquisa que, se adotados, podem aumentar a produtividade e a qualidade dos ervais comerciais, dependendo do seu potencial produtivo.
Além de um manual, o Erva 20 disponibiliza o aplicativo Manejo Matte, para auxílio no manejo dos ervais; o Planin Matte, para análise econômica; e agora o Ferti Matte. O aplicativo é baseado na recomendação de adubação para erva-mate publicada no livro “Propagação e nutrição de erva-mate”, pioneiro em informações sobre nutrição da espécie e fruto de mais de dez anos de pesquisas.
Santin ressalta que a nutrição tem papel fundamental para quem quer ter uma produção profissional, produtiva e que disponibilize matéria-prima de qualidade. Ele também explica que ervais com menos de 50% de sombreamento precisam de adubação, pois a exportação de nutrientes com a colheita precisa ser reposta. Os níveis de nutrientes extraídos do solo pela cultura são equivalentes aos demandados por milho e soja, por exemplo.
Resultados de pesquisa indicam que a erva-mate é uma cultura exigente em nutrientes. “Com o passar dos anos e sucessivas colheitas, o sistema natural não consegue repor tudo o que foi retirado e a planta acaba crescendo com menor vigor e redução de produtividade”, explica Santin.
Os macronutrientes são indispensáveis para a erva-mate. Nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio precisam ser repostos nos cultivos comerciais da espécie. “A aplicação de calcário, que na maioria das outras culturas é realizada por causa do pH, na erva-mate tem outro fim: a reposição de cálcio e magnésio. Por essa razão, as doses de calcário recomendadas são bem menores, quando comparamos com as culturas agrícolas”, orienta Goulart.