A BRS Ticuna tem produtividade de até 20 toneladas por hectare, entre 20% a 30% maior que as cultivares mais usadas
Chega ao mercado de frutas nova opção para a produção de geleias e sucos, a amoreira-preta BRS Ticuna, desenvolvida pela Embrapa Clima Temperado, especialmente com foco no processamento.
A pesquisadora Maria do Carmo Bassols Raseira, coordenadora do projeto que desenvolveu a nova amoreira, conta que “o tamanho do fruto é atraente aos olhos e, aliado à acidez acentuada, faz com que a cultivar ocupe um espaço para fins industriais”.
Rendimento
A especialista revela que um hectare pode render até 20 toneladas de frutas, posicionando a nova cultivar entre as mais produtivas. “E é superior ao material de referência, a amoreira BRS Tupy”.
Maria do Carmo explica que a BRS Ticuna “é uma cultivar de amoreira-preta (amora-preta) obtida por hibridação controlada, altamente produtiva e testada nos mais variados ambientes e sistemas de cultivo”.
De acordo com a pesquisadora da Embrapa, ela foi testada principalmente nos estados da Região Sul do País, “o que não significa que não tenha adaptação a outras regiões”, afirma.
Parceria
Maria do Carmo ressalta que desde 2018, a BR Ticuna vem sendo avaliada pela pesquisa nos Campos de Cima da Serra, numa parceria entre a Estação Experimental de Vacaria (RS), a Embrapa Uva e Vinho e a Embrapa Clima Temperado, em Pelotas (RS).
“O material foi apresentado há um ano aos produtores, para que conhecessem a nova cultivar e tivessem acesso ao material com os parceiros já licenciados para produção de mudas”, salienta.
Acidez elevada
Ela destaca ainda que a amoreira BRS Ticuna é uma cultivar com plantas de porte ereto, frutas grandes e colheita mais tardia que a cultivar Brazos. “A sua acidez mais elevada limita a acessibilidade para o consumo in natura e a direciona para a indústria, a qual, logicamente, paga menos em comparação ao preço obtido no mercado de frutas frescas”.
Por isso, ela sublinha que, “para compensar, é importante que uma cultivar seja altamente produtiva”, pondera.
Melhor retorno
Na opinião da especialista, o fato de as frutas não serem comercializadas in natura com facilidade pode estimular o produtor a plantá-la. “Porém, além da produtividade superior, a menor necessidade de tratamentos fitossanitários nessa cultura é capaz de compensar economicamente o fruticultor proporcionando melhor retorno”, acredita.
Ela esclarece que a BRS Ticuna, como a maioria das cultivares de amora-preta, é bastante rústica, sendo necessário o controle de ferrugem e cuidados com a mosca-das-frutas ( Drosophila suzukii ). “Um cientista relata que uma cultivar é considerada resistente a doenças”, diz.
Frutas mais firmes
O pesquisador Embrapa Clima Temperado Rodrigo Frazon, explica que uma nova variedade tem características semelhantes à de outra amoreira, a Brazos, bastante antiga e introduzida no estado norte-americano do Texas. “A BRS Ticuna é mais produtiva, produz frutas mais firmes e apresenta menor reversão de cor das frutas após a colheita”, compara o cientista.
Ele revela que a maior contribuição desse material ao mercado industrial é a acidez elevada do fruto, benéfica para o processamento. “Isso diminui a necessidade de ajustar a acidez por meio de aditivos”, detalha Franzon.
Teste dos produtores
De acordo com o fruticultor Roque Casset, um dos produtores que testaram a nova cultivar de amoreira, ela se destacou pela sua produtividade. “A BRS Ticuna produz entre 20% a 30% a mais que as variedades BRS Tupi, BRS Caiguangue e BRS Guarani e tantas outras que se têm à disposição”, relata.
Produção em sistema orgânico
A pesquisadora Maria do Carmo aponta oportunidades para a nova cultivar, como o seu direcionamento para produção de doces, principalmente geleias e chimias, sem a necessidade de adição de ácidos. “Além disso, há a possibilidade de cultivo no sistema orgânico”, reforça.
Ela assegura que a cultivar é adequada à produção mais sustentável, por ser um alimento mais limpo e de maior qualidade.
Preço
A especialista destaca que a industrialização da amora é bastante utilizada devido ao baixo período de conservação da fruta. “Mesmo produtores de frutas para o mercado in natura destinam parte da produção para a industrialização, em períodos de picos de safra”, revela.
Maria do Carmo explica que o preço médio pago ao produtor varia em função da época de produção e da forma de comercialização. “A indústria, dependendo da região do País, paga ao produtor entre R$ 4,50 e R$ 6 por quilo”.
A pesquisadora complementa que “se uma fruta é congelada, esse valor varia entre R$ 8 e R$ 15; contudo, em áreas próximas a grandes centros consumidores, o preço pode chegar a até R$ 20 por quilo de amora produzido”, enfatiza.
Mercado em expansão
Os dados referentes ao mercado de amora-preta no Brasil não são precisos, segundo a especialista da Embrapa Clima Temperado.
“Em 2014, havia uma área plantada superior a 500 hectares (ha) e, atualmente, estima-se uma área superior a 1,2 mil ha e em expansão, de acordo com informações coletadas com os produtores do Sul e Sudeste”, contabiliza.
Ela salienta que a cultura está ocupando, por exemplo, áreas de altitude no Nordeste brasileiro, como a Chapada Diamantina, na Bahia, região não tradicional de cultivo. Entretanto, sua produção tem maior destaque no Rio Grande do Sul, “onde também é tradicional a indústria de doces e conservas, exatamente o nicho da nova cultivar”, conta.
Segundo a cientista, não há dados atualizados sobre a produção de amora-preta no mundo. “Os dados mais recentes são de 2007, segundo os quais a produção mundial de amora-preta, em 2005, ocupou 20 mil hectares, sendo 7,7 mil ha cultivados na Europa, 7,2 mil ha na América do Norte, 1,6 mil ha na América Central, 1,6 ha na América do Sul, 297 ha na Oceania e 100 ha na África”, afirma.
Fonte: Embrapa Clima Temperado