Documento inclui períodos de semeadura e níveis de risco climáticos para a cultura do grão-de-bico
Portaria do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), publicada dia 8 de novembro, no Diário Oficial da União, incluiu o grão-de-bico no zoneamento agrícola de risco climático. Os fundamentos da iniciativa foram os estudos coordenados pela Embrapa Hortaliças, de Brasília, DF, no âmbito da Rede Zarc, com o apoio do Ministério.
O documento inclui períodos de semeadura e níveis de risco climáticos para a cultura do grão-de-bico tipo kabuli, em cultivos de sequeiro e irrigado, por município, considerando o clima, os tipos de solos e ciclos das cultivares recomendadas para o Brasil.
Segundo Marcos Braga, pesquisador da Embrapa Hortaliças responsável pelo trabalho, o estudo teve como objetivo evitar que as adversidades climáticas coincidam com as fases mais sensíveis da cultura do grão-de-bico, minimizando as perdas agrícolas.
Os resultados do Zarc do grão-de-bico abrangem todo o território nacional e todas as cultivares inscritas no Registro Nacional de Cultivares (RNC) do Mapa estão aptas para o plantio. Entre os materiais desenvolvidos pela Embrapa Hortaliças estão as cultuvares BRS Aleppo, BRS Cristalino, BRS Cícero, BRS Kalifa e BRS Toro.
De acordo com o Mapa, o zoneamento visa reduzir os riscos relacionados aos problemas climáticos e permitir que produtor identifique a melhor época para plantar, considerando a região, a cultura e os diferentes tipos de solos.
Os agricultores que seguem as recomendações do Zarc estão menos sujeitos aos riscos climáticos e poderão ser beneficiados pelo Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e pelo Programa de Subvenção ao prêmio do Seguro Rural (PSR). Muitos agentes financeiros só liberam o crédito rural para cultivos em áreas zoneadas.
A Cultura
O grão-de-bico é considerado a terceira leguminosa mais importante no mundo, sendo o continente asiático o principal produtor e consumidor. Os dois principais tipos de grão-de-bico cultivados são desi e kabuli, que respondem, respectivamente, por cerca de 80% e 20%, da produção mundial. O tipo kabuli, de grãos maiores e na cor bege, é cultivado, principalmente, na região do Mediterrâneo, incluindo Sul da Europa, Ásia Ocidental e Norte da África.
No Brasil, o cultivo é recente e se ampliou nos últimos anos com o apoio das pesquisas da Embrapa com diversos parceiros. No período entre 2013 a 2016, a área cultivada passou de 26 hectares para 460 hectares. No País, a produtividade média da cultura é de 2 mil quilos por hectare, sendo o tipo kabuli o mais cultivado, comercializado e consumido. O consumo ainda é baixo entre os brasileiros, cerca de 40 gramas/ano por indivíduo.
Avaliação de risco
O grão-de-bico é uma planta anual, cultivada em condições de clima temperado e tropical. O ciclo da cultura pode variar dependendo da cultivar e das condições climáticas da região do cultivo. Para a elaboração do ZARC, os pesquisadores adotaram ciclos com duração média de 110 e 130 dias, identificando como ciclo precoce e ciclo tardio. Foram considerados aptos para o cultivo os solos Tipo 1, Tipo 2 e Tipo 3, especificados na Instrução Normativa número 2, de 9/10/2008.
As datas de plantio e municípios favoráveis para o cultivo do grão-de-bico em sistemas sequeiro e irrigado foram classificadas de acordo com o nível de risco climático de 20%, 30% ou 40% em função dos seguintes critérios:
– Risco de deficiência hídrica severa ao não atingir o limite mínimo do Índice de satisfação das necessidades de água (ISNA), sendo dispensável esses limites para o cultivo irrigado;
– risco de ocorrência de temperaturas baixas deletérias à cultura por meio da probabilidade de ocorrência de valores de temperaturas mínimas menores ou igual a 4°C;
– risco de ocorrência de temperaturas muito altas durante o período reprodutivo, com possibilidade de provocar abortamento de flores e frutos, por meio da probabilidade de ocorrência de valores de temperaturas máxima superiores ou igual a 35°C;
– risco de ocorrência de excesso de chuvas na colheita, por meio da probabilidade de ocorrência de valores de chuva maiores ou iguais 100 mm, no estágio de maturação, ou seja, nos últimos dois decêndios, 20 dias.
Braga acrescentou que, na definição de condições adequadas ao desenvolvimento normal da cultura, foram consideradas desfavoráveis as regiões e decêndios com temperatura mínima média abaixo de 12°C, nos períodos da germinação até o início da maturação dos grãos, nas duas condições de cultivo.
Parceria
Os estudos do Zarc do grão-de-bico tiveram o envolvimento de especialistas da Embrapa Agricultura Digital, Embrapa Cerrados, Embrapa Agropecuária Oeste, e de produtores e técnicos que trabalham com a cultura. Diversos encontros on-line foram realizados entre os parceiros. “Produtores de diversas regiões responderam um questionário sobre os aspectos agronômicos do desenvolvimento do grão-de-bico nas diferentes regiões. Essas informações foram importantes para termos um panorama da produção da cultura no Brasil”, informa Braga.
Para o pesquisador Warley Nascimento, chefe-geral da Embrapa Hortaliças e responsável pelas pesquisas de melhoramento genético com as leguminosas secas (ervilha, lentilha e grão-de-bico), a inserção da cultura no Zarc representa “um grande avanço para um maior estímulo ao fomento desta cultura no país, uma vez que dá ao produtor uma informação mais precisa em termos de locais e épocas de produção e garantia de produção, já que a maioria deles desconhecem ou tem pouca experiência com esta espécie”.
Os resultados do Zarc do grão-de-bico estão apresentados em tabelas de classe de risco (20%, 30% e 40%) por município, tipo de solo, ciclo e decêndio do ano, disponibilizados pelo Mapa no Painel de Indicadores; nas portarias de Zarc por estado, no aplicativo Zarc Plantio Certo (IOS, Android).