Foram identificados 34 usos culinários associados às variedades locais, representados por usos alimentares diretos, potencial culinário e atributos alimentares apreciados pelos agricultores (Foto: Esalq/Divulgação)
Milho verde, pamonha, curau, angu, canjica, pipoca, mingau, sopa, suco. Esses são alguns dos atributos culinários que temos como referência do milho. Há outras dezenas de aplicações deste que é considerado o “cereal das Américas”.
Assim como seu uso nas cozinhas de norte a sul do continente, sua diversidade genética tem a mesma riqueza e ganha agora uma importante atualização.
Um estudo apresentado no Programa de Pós-graduação em Genética e Melhoramento de Plantas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) identificou distintos micro-centros e regiões de diversidade genética do milho em distintos biomas das terras baixas da América do Sul – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pampa.
“A espécie ainda encontra-se sob diversificação, sob o manejo dos agricultores familiares, tradicionais, quilombolas, ribeirinhos e indígenas”, conta a pesquisadora Flaviane Malaquias Costa, autora da tese de doutorado, orientada pela Profa. Elizabeth A. Veasey.
Variedades crioulas
Flaviane, Natalia de Almeida Silva, Rafael Vidal, Elizabeth A. Veasey e Charles R. Clement, compõem a equipe do projeto “Raças de Milho das Terras Baixas da América do Sul: ampliando o conhecimento sobre a diversidade de variedades crioulas do Brasil e do Uruguai”, coordenado pelo Grupo Interdisciplinar de Estudos em Agrobiodiversidade – InterABio.
A pesquisadora frisa que as contribuições trazidas pelo levantamento abrangem temáticas propostas pelos distintos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A pesquisa envolveu a participação de 261 agricultores familiares e tradicionais, sendo que 129 foram entrevistados. O Projeto integrou uma Rede de 29 instituições do Brasil e do Uruguai.
“Nosso escopo demonstra a realização de uma pesquisa aplicada e a sua interface direta com a sociedade, o que gerou impacto social”, completa.
A pesquisa reforça que todas as áreas apresentaram variedades de milho com nomes locais exclusivos, o que indica que em cada local existe uma diversidade própria, já que o nome da variedade é considerado um indicador de diversidade e um importante marcador de caracterização da diversidade.
Usos culinários
Além disso, os usos e as preferências atribuídas às variedades locais de milho estão associadas às características que os agricultores consideram importantes, especialmente para a alimentação, que influenciam a seleção das suas variedades locais.
Flaviane conta que foram identificados 34 valores de usos culinários associados às variedades locais, representados por usos alimentares diretos, potencial culinário e atributos alimentares apreciados pelos agricultores.
“Foram identificadas 29 raças de milho e três complexos raciais, dentro das quais 16 são novas raças, que nunca haviam sido catalogadas pela literatura anteriormente”.
Como produtos do projeto, a classificação das raças com suas características morfológicas, distribuição geográfica e usos principais, gerou a publicação de um livro e um catálogo, que consistem na terceira referência do estado da diversidade de raças do nosso território, não atualizada desde 1977.
Os resultados da pesquisa encontram-se também publicados no artigo “A new methodological approach to detect microcenters and regions of maize genetic diversity in different areas of Lowland South America”, no periódico científico Economic Botany.
O trabalho compõe parte da tese de doutorado, agraciada com o Prêmio de Tese Destaque na USP – 10a edição, nas áreas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, em 2021.
“Os dados gerados por este estudo atribuem respaldo científico às raças e variedades locais de milho e aos sistemas agrícolas tradicionais da região, bem como poderá subsidiar políticas públicas envolvendo estas áreas”, finaliza Flaviane.
Acesse o livro “Milhos das Terras Baixas da América do Sul e Conservação da Agrobiodiversidade no Brasil e no Uruguai”, no link abaixo.