Especialistas indicam práticas de agricultura sustentável que podem ser importantes aliadas da natureza, mantendo a produtividade das lavouras
Dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) indicam que um terço dos solos do mundo está degradado. Isso significa que perderam, em algum grau de intensidade, sua capacidade de gerar serviços ecossistêmicos, como regulação hidrológica, sequestro de carbono ou retenção de nutrientes para a produção de alimentos.
Para evitar que esse quadro se intensifique, a agricultura tem um papel fundamental. Por meio de técnicas sustentáveis de plantio é possível aumentar a qualidade do solo, permitindo que ele continue sendo uma importante fonte de serviços naturais que beneficiam toda a sociedade.
Conheça algumas:
Plantio Direto
O plantio direto é o cultivo de plantas agrícolas sob os restos vegetais do cultivo anterior, chamados de palha, evitando assim o revolvimento do solo. Essa prática reduz os efeitos erosivos, visto que a camada de resíduos vegetais atua como um escudo contra a água e o vento.
André Ferreti, gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), explica que o plantio direto é uma prática fundamental para se evitar a perda do solo por meio da chuva.
“Essa camada de resíduos vegetais protege o solo da gota de chuva, que quando bate direto no solo, além de facilitar a erosão, compacta-o de tal forma que ele vai perdendo a capacidade de deixar a água se infiltrar”.
Rotação de Culturas
“É uma técnica tão antiga quanto a própria agricultura, mas que foi deixada de lado nos últimos anos por questões econômicas e de políticas agrícolas”, observa o engenheiro agrônomo Carlos Hugo Rocha, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR).
A rotação de culturas é a alternância entre o que é plantado numa mesma área, evitando o desgaste nutricional do solo e seu desequilíbrio químico e biológico. Pode-se por exemplo plantar soja numa safra e depois alternar para o plantio de milho, escapando assim da prática da monocultura, prejudicial a vida e à conservação do solo.
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
Assim como a técnica anterior, a ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) também é uma forma de rotação de cultura, só que mais complexa. Nela, o agricultor alterna entre o plantio da lavoura, o plantio de pastagem para o gado e combina essas duas culturas com o plantio de árvores, como o eucalipto ou espécies nativas.
“Isso minimiza os impactos negativos e maximiza os potenciais benéficos, pois são três formas de plantio distintas que atuam em frentes diferentes na conservação do solo”, explica o especialista da RECN.
Preservação das APPs e áreas ripárias
Outra técnica agrícola que ajuda na conservação do solo é a proteção das APPs (Áreas de Preservação Permanente) ao redor da propriedade rural e das áreas ripárias. As áreas ripárias são aqueles ecossistemas diretamente relacionadas a um curso d’água.
Já as APPs são definidas no Código Floresta Brasileiro como “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”.
Retorno da Matéria Orgânica
Por fim, uma das técnicas essenciais é garantir o retorno da matéria orgânica ao solo. Esse, no entanto, é o grande “calcanhar de Aquiles” da agricultura brasileira. Devido ao clima tropical, os nutrientes da matéria orgânica que cai no solo são rapidamente absorvidos pela terra. Ao mesmo tempo, isso faz com que seja rapidamente degradada, obrigando a utilizando de fertilizantes químicos para compensar a perda nutricional do solo antes da colheita.
“Nisso, a agricultura orgânica é essencial. Quanto mais aprimorado é o manejo agronômico, mais você cria um solo que não precisa de produtos nocivos à vida do solo, como fertilizantes químicos e agrotóxicos. O próprio solo, através de seus organismos, fornece os nutrientes que as plantas necessitam. Isso já existe na pequena escala, mas precisamos criar oportunidades para expandir para uma escala maior”, explica Rocha.
Para ele, é possível levar essas práticas para todo o Brasil, principalmente com a coordenação de políticas públicas que garantam investimentos em práticas sustentáveis e orgânicas.