Mercado de insumos biológicos está cada vez mais consolidado no País
Provocando perdas gigantescas, a ocorrência de pragas agrícolas nas lavouras é um dos principais e mais antigos desafios enfrentados pelo produtor rural.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), estima que entre 20 a 40% da produção agrícola mundial é perdida, a cada ano, em consequência das pragas que atacam as culturas no campo.
No Brasil, a perda anual decorrente do ataque de insetos nas lavouras é estimada em aproximadamente 7,7%, valor correspondente a quase 25 milhões de toneladas de produtos agrícolas.
Segundo diagnóstico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-Embrapa, no topo das principais vilãs está a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), uma praga de difícil controle que ataca importantes culturas comerciais como soja, feijão e milho, onde a redução de produtividade causada pela lagarta pode atingir 60%.
Novas tecnologias
A principal técnica para o controle de pragas agrícolas utilizada nas lavouras costumava ser o uso de defensivos químicos, porém, atualmente novas tecnologias, mais sustentáveis, têm surgido para diminuir o uso de químicos, reduzindo custos na gestão dos cultivos e minimizando os impactos ao agricultor e ao meio ambiente.
Os biodefensivos vêm conquistando cada vez mais espaço no mercado e, entre as novidades, um microbiológico que traz em sua formulação exclusiva um vírus, que infecta a praga sem trazer riscos à saúde humana e à natureza.
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Lagarta-do-cartucho
Com nome comercial de Destroyer, o produto sustentável é resultado de uma parceria público-privada entre a Life Biological Control e a Embrapa Milho e Sorgo, que há décadas se dedica a resolver o problema da lagarta-do-cartucho.
A doutora em entomologia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) e CEO da Life Biological Control, Cristiane Tibola, explica que o Brasil é um país tropical e que, graças às suas características, possibilita que sejam colhidas três safras durante o ano.
Entretanto, segundo ela, esse fato acaba criando uma espécie de “ponte verde” para os insetos praga, causando um aumento da sua incidência no campo e gerando populações cada vez mais resistentes aos inseticidas químicos e às tecnologias OGM.
A profissional destaca que o mercado de insumos biológicos está cada vez mais consolidado.
“Hoje, o mundo, a agricultura e mesmo os produtores, têm exigido a utilização de mais produtos sustentáveis, ou seja, aqueles que utilizam o próprio poder da natureza para propiciar o controle de pragas agrícolas, como é o caso do baculovírus”, ressalta Cristiane.
Baculovírus no cultivo de milho
De acordo com informação da entomologista, foi justamente as características sustentáveis do produto que atraíram o interesse dos técnicos da Fazenda Lagoa Bonita, localizada no município de Itaberá, no interior paulista.
Ela destaca que a propriedade é referência na produção de grãos como milho, soja, trigo e feijão, entre outras culturas.
“No entanto, foi para um projeto especial direcionado para o cultivo de um milho diferenciado, que a Lagoa Bonita descobriu o produto microbiológico”, detalha a CEO da Life Biological Control.
Mercado diferenciado
Cristiane salienta sublinha que os biodenfensivos atendem a um mercado diferenciado, que exige técnicas e produtos sustentáveis para os cultivos. “O novo baculovírus irá proteger o milho da fazenda que será usado especificamente como matéria prima para a produção de um suplemento alimentar”, informa.
Sérgio Braun, gerente técnico da propriedade, explica que esse milho também poderá ser utilizado no preparo de ração animal. “Por isso, estamos implantando, cada vez mais, a utilização de biodefensivos”.
Redução expressiva da praga
Ele revela que, “após a aplicação de produto microbiológico, o resultado foi uma redução expressiva da lagarta-do-cartucho, especialmente na redução de indivíduos adultos”.
Segundo o gerente técnico da Fazenda Lagoa Bonita, a aplicação do baculovírus foi numa área de 30 hectares com milho verão da safra 23/24. “Percebemos uma presença menor de indivíduos adultos, o que significa o controle da infestação”, comemora.
Braun completa que “conseguimos eliminar uma aplicação do inseticida químico, o que melhora a rentabilidade e torna a produção mais sustentável”.
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Produção sustentável
O profissional frisa que esse modelo de produção sustentável vem sendo implantado em diversas propriedades no Brasil e no mundo. “Especialmente em casos de certificados, desde ambientais, de prática correta para o descarte de embalagens, e de mão de obra, como é o caso da Fazenda Lagoa Bonita.”
Por isso, na opinião do gerente técnico da propriedade, é essencial a utilização de produtos ambientalmente e socialmente corretos, que não agridam nem o meio ambiente nem os trabalhadores do campo.
Braun conta que na fazenda que administra, “são plantados mais de 400 hectares na safra de verão e 1.100 hectares na safrinha, com produtos como a cevada, plantada exclusivamente para o mercado francês”.
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Nível de exigência
Ele considera que a crescente utilização de insumos cada vez mais eficientes e sustentáveis é “um caminho sem volta”. “É uma tendência global de necessidade de reduzir produtos químicos, com maior número de produtores usando”, aposta.
Braun sustenta que o nível de exigência dos produtores está aumentando e afirma que “quem não faz uso atualmente, vai acabar se adequando por necessidade mesmo. É um mercado que vai crescer muito a curto prazo”, conclui.