A combinação entre irrigação e adubação (fertirrigação) é capaz de driblar os efeitos negativos das mudanças climáticas no cultivo da fruta, melhorando a produtividade de pomares no Sul do Brasil
A comprovação acima foi conseguida por estudos científicos realizados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Uva e Vinho, sediada em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul (RS). Após quatro safras, experimentos evidenciaram que a aplicação simultânea de fertilizantes e água originaram plantas mais equilibradas e com maior carga produtiva.
Outro resultado importante foi o aumento médio de produtividade de 34% para cultivares do Grupo Gala e superior a 120% na cultivar Fuji Suprema. Ambas são responsáveis por 90% da produção brasileira de maçãs.
Segundo a Embrapa, a irrigação sempre foi prática obrigatória para a fruticultura em regiões tropicais e subtropicais, mas não para as de clima temperado, uma vez que a distribuição de chuvas era capaz de suprir a maior parte da necessidade hídrica da macieira.
Mas este panorama mudou nos últimos anos, quando a escassez pluvial e o forte calor castigaram a região produtora e vinham tirando o sono dos pomicultores brasileiros.
Solução encontrada
O trabalho da ciência trouxe a solução e alívio para os pesadelos dos produtores de maçã: além de aumentar a produtividade, a conjugação entre as técnicas de irrigação e fertilização demonstrou ser capaz de gerar maçãs mais vermelhas, uniformes e graúdas, características importantes para o mercado interno e de exportação, que crescem a passos largos no Brasil.
De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM), de importador, o País passou a abastecer não apenas o consumo interno, como também a exportar 15% de sua colheita.
Os custos da prática de irrigação variam de R$ 8 mil a R$ 10 mil por hectare. Mas o pesquisador da Embrapa Gilmar Ribeiro Nachtigall garante que o retorno do investimento é bastante rápido e ocorre no primeiro ou segundo ano de produção. Há dez anos, ele conduz pesquisas em áreas comerciais nos municípios gaúchos de Vacaria e Monte Alegre dos Campos, em parceria com a Agropecuária Schio, Agrimar e Netafim.
Maçã de qualidade e maior produtividade
Para os adeptos do ditado popular que diz que “maçã todo dia, vida sadia”, Nachtigall assegura que o uso da irrigação e da fertirrigação também não tem contra-indicações, pelo contrário.
“A cada fase da cultura registram-se benefícios específicos. Logo após o plantio e durante todo o crescimento, a disponibilização da quantidade certa de água garante macieiras mais bem formadas, com maior número de ramos, o que possibilita produção mais elevada de maçãs. Os resultados mostraram que as plantas irrigadas começam a produzir frutos antecipadamente, ou seja, um ano antes do que no sistema convencional (sem irrigação), reduzindo os custos de implantação do pomar”.
Realidade que está sendo vivenciada na safra 2019/2020 pelo produtor Cláudio Andreazza, de Caxias do Sul (RS). Ele se diz impressionado com o resultado da fertirrigação em seu pomar. Andreazza fez a implantação no ano passado e, na avaliação dele, as plantas cresceram como se houvesse passado três anos. “É impressionante o resultado! Já neste ano a previsão de safra é de dez toneladas por hectare e as frutas estão bem graúdas”, anima-se com os resultados do sistema.
Para o pesquisador da Embrapa, “a falta de água antes, ou nas primeiras semanas após o florescimento, pode ter um efeito negativo no crescimento das brotações e também afetar o desenvolvimento dos frutos. Esta situação pode, inclusive, diminuir o tamanho final da maçã, trazendo resultados negativos aos ganhos do produtor”.
Nachtigall explica que com a irrigação na fase de plena produção há maior produtividade e qualidade dos frutos, com uma cor vermelha uniforme.
Pesquisas
Ele relata que “ao longo das pesquisas da Embrapa, foram conduzidos experimentos com o uso da irrigação, ou seja, somente com fornecimento de água; e outros com fertirrigação, no qual o sistema, além da água, é utilizado para adubar as macieiras com diferentes nutrientes. Os resultados mostram que os dois manejos resultam em plantas mais equilibradas e com maior capacidade de carga produtiva, sendo a fertirrigação um pouco superior”.
Veja abaixo os resultados comparativos entre os dois sistemas.
O cientista informa também que pesquisas indicam ainda que as cultivares possuem necessidades diferentes no que se refere à água e nutrientes.
“Por isso, os experimentos estão sendo conduzidos com as duas principais cultivares plantadas no Brasil, a Fuji e a Gala. Foi identificado que elas apresentam respostas distintas, de modo que os sistemas de irrigação e fertirrigação devem ser instalados de forma independente, para respeitar o ciclo e as necessidades hídricas e nutricionais de cada uma”, esclarece.
Bons resultados também em outros países
A irrigação e a fertirrigação são práticas adotadas em importantes países produtores de maçã, como Estados Unidos, Canadá, Chile e Espanha. No Brasil, passaram a ser consideradas mais recentemente, a partir das variações climáticas verificadas, que têm sido motivo de preocupações para os produtores desta fruta no sul do Brasil.
A irregularidade e má distribuição das chuvas estão causando problemas para a qualidade e produtividade de macieiras. Estimativas da Embrapa mostram que atualmente a área de macieira com irrigação ou fertirrigação no sul do Brasil ultrapassa os 200 hectares, número que possui potencial de crescimento expressivo nos próximos anos, segundo Nachtigall.
O pesquisador relata que a utilização da irrigação e fertirrigação abrange grandes, médios e pequenos produtores de maçã. “Entretanto, percebe-se maior adesão dos pequenos e médios, cujas características envolvem o uso de tecnologias de ponta em seus pomares”, avalia.
“Percebemos que os resultados que apresentamos referentes aos benefícios da irrigação e da fertirrigação estão chamando a atenção e fazendo com que os produtores considerem investir nessas práticas”, comemora o pesquisador da Embrapa.
Resultados satisfatórios
Parceiro na realização dos experimentos há cinco anos, André Weber, agrônomo e responsável técnico da Agropecuária Schio, está bastante satisfeito com os resultados na área de 20 hectares. Ele destaca o aumento do calibre das frutas e uma produção mais homogênea, fatores importantes na hora da comercialização dos frutos.
“Hoje qualquer produtor que for realizar o plantio de novas áreas precisa investir em duas coisas: fertirrigação e cobertura com tela”, aconselha.
- A fertirrigação é capaz de mitigar efeitos da escassez pluvial e do forte calor que vinham afetando, nos últimos anos, as macieiras na Região Sul do Brasil.
- A constatação resulta de estudos realizados pela Embrapa Uva e Vinho (RS)
- A associação entre técnicas de irrigação e de adubação garantiu, após quatro safras, aumento médio de produtividade de 34% para cultivares de maçã Gala.
- No caso da maçã Fuji Suprema, os ganhos foram superiores a 120%.
- Além disso, a conjugação das técnicas gerou produtos de melhor qualidade, atendendo a padrões exigidos pelo mercado interno e para a exportação.