Reaproveitamento do material mostra vantagens para a produção agrícola e para o meio ambiente.
Anualmente, são produzidas cerca de 6 milhões de toneladas de cascas de ovos no mundo. Dar destino adequado a este material, rico em cálcio, é a ideia por trás de um projeto desenvolvido no Laboratório de Química de Materiais Avançados (Laqma) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que resultou em um fertilizante contribuiu para o reaproveitamento do material e demonstrou ter vantagens para a produção agrícola e para o meio ambiente.
A técnica utiliza um processo de moagem mecanoquímico, em que os materiais reagem para formar novos produtos por meio da energia térmica e de fricção da própria moagem. A casca é colocada em um moinho de esferas de alta energia juntamente com fosfatos de potássio, que reagem para formar novos compostos capazes de fornecer fósforo, cálcio e potássio, três componentes essenciais para o desenvolvimento das lavouras.
Segundo o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a técnica é um desdobramento do trabalho para o reaproveitamento do amianto. “O principal constituinte do amianto é o carbonato de cálcio (CaCO3) que, por sua vez, também é o principal constituinte das cascas de ovos”, aponta Borges.
Sendo assim, de acordo com o especialista, por apresentar composição química parecida, as cascas de ovos também poderiam ser aproveitadas para a produção de fertilizantes ecológicos inteligentes. “Ou seja, fertilizantes que sejam produzidos a partir de resíduos ou rejeitos e apresentem maior eficácia agronômica quando comparados com fertilizantes convencionais”, explica o pesquisador.
Processo
O pesquisador informa que, para o desenvolvimento da técnica, foi escolhido um método que minimizasse a produção de subprodutos ou resíduos indesejáveis. A vantagem de ser um processo a seco, por exemplo, evita a necessidade de etapas dispendiosas de secagem, ao contrário de outros processos que utilizam a água como solvente.
“O processo deve focar no uso de materiais provenientes da indústria alimentícia que, ao beneficiar o produto, traz diversas vantagens, como aumento da vida útil, mas também produz uma grande quantidade de resíduos”, aponta Borges.
Sustentabilidade
Em relação à sustentabilidade do produto, a menor solubilidade em água torna o produto mais eficiente e com menos impacto ambiental. “Além da reutilização que evita que o material acabe descartado em aterros sanitários ou mesmo em terrenos inapropriados, contribuindo negativamente para poluição do meio ambiente, o produto apresenta outras vantagens”, destaca o pesquisador.
Na opinião do professor do Departamento de Química da UFRP, Fernando Wypych, por ser menos solúvel em água, o novo fertilizante funciona de uma forma mais sustentável, pelo fato de a sua liberação ser controlada. “Quando chove, os fertilizantes convencionais liberam os nutrientes de uma vez, enquanto os de liberação controlada são estimuresponsivos, ou seja, respondem aos estímulos das plantas, mantendo os teores constantes ao longo do ciclo de produção”, comenta Wypych.
Ele acrescenta que além de sobrecarregar as plantas com nutrientes, em um primeiro momento, esses produtos são levados facilmente pelas chuvas, o que priva as plantas de seus benefícios em um momento posterior. “Por conta disso, a menor solubilidade do novo fertilizante combate o problema da eutrofização causada por produtos convencionais”, avalia o professor.
Viabilidade econômica
Para Borges a nova técnica deve ganhar aplicação comercial em breve. Os pesquisadores fizeram dois pedidos de patentes relacionadas ao projeto. Ele explica que uma proposta proveitosa para a indústria seria um sistema que combinasse diferentes fontes de materiais baseados em carbonato de cálcio, com foco principalmente no amianto e nas cascas de ovos que foram estudadas na pesquisa.
Outro ponto interessante é que a técnica cria um subproduto que pode ser utilizado para a produção de hidroxiapatitas, um material à base de fósforo e cálcio, que tem grande afinidade biológica e é utilizado para a produção de próteses ósseas e dentárias. Com maior valor agregado, a substância torna a aplicação mais atrativa comercialmente.