O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), ambos vinculados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), faz um alerta ao mercado de produtos agrícolas, em especial para a citricultura, por meio de um comunicado à imprensa, a respeito de formulações que estariam sendo produzidas com N-Acetil-Cisteína (NAC).
De acordo com o Instituto Agronômico, o NAC é uma molécula já usada para tratamento de infecções bacterianas das vias aéreas de humanos e seu uso no manejo de doenças em plantas é uma descoberta do Instituto, patenteada e já licenciada para a empresa Ciacamp. Somente essa companhia “detém, legalmente, o direito de fazer uso da tecnologia e já produz um fertilizante foliar, a partir dessa descoberta inédita do Instituto”.
Após quatro anos de estudo dentro do Laboratório do Centro de Citricultura “Sylvio Moreira”, a patente Nº PI 1101176-9 confere ao IAC o direito de impedir outra instituição e/ou empresa de, sem o consentimento do Instituto, produzir, usar, colocar à venda, vender ou importar produto que seja oriundo dessa patente, informa a instituição em nota.
“O IAC vem alertar que qualquer fabricação que incorpore reivindicações da patente de invenção PI 1101176-9, anúncio, exposição, distribuição e venda violam os direitos do detentor IAC”, diz o comunicado assinado por Marcos Antônio Machado, diretor-geral do IAC/APTA, divulgado no dia 30 de outubro de 2019.
Conforme o Instituto, “o ineditismo da descoberta está no fato de o princípio ativo ser uma molécula já aprovada para uso em humanos, com nenhum impacto ambiental, além de menor custo de produção”.
“Até 2013, quando o IAC fez essa revelação, o tratamento era feito à base de agroquímicos, que são onerosos e impactam a natureza”, destaca o IAC, em comunicado oficial.
Utilização do NAC
O fato de o NAC ser uma molécula usada como medicamento, sem prejudicar as pessoas, facilita o acesso a este produto. Entretanto, o emprego da sua aplicação na fabricação de insumos citrícolas é condicionado ao licenciamento, em razão da patente do IAC.
“Patenteamos junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) o uso do NAC para controle de doenças em plantas de citros”, diz Machado, ao explicar que a utilização do NAC é liberada, seu uso no manejo de plantas é que foi patenteado pelo IAC.
Alessandra Alves de Souza, pesquisadora da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, que atua no IAC e liderou a pesquisa, ressalta que embora já adotado na medicina, o NAC nunca havia sido testado para combater doenças de plantas. “Essa molécula mostrou-se eficiente no controle de fitopatógenos dos citros, incluindo a Xylella fastidiosa”, garante.
Dose usada na planta
A dose usada na planta é bem menor do que a adotada em seres humanos. O NAC foi avaliado como estratégia para inibir ou desagregar o biofilme bacteriano, formado na superfície das folhas pela bactéria do Cancro Cítrico.
“Esse biofilme protege as bactérias de estresses ambientais, entre eles o calor e raios UV, e de compostos antimicrobianos que possam afetar o desenvolvimento da bactéria, dentre eles o cobre, muito usado no controle químico do Cancro Cítrico”, explica Alessandra.
A fim de tornar a bactéria mais vulnerável, a equipe buscou encontrar uma estratégia para retardar ou inibir a formação dessa capa protetora nas folhas antes da infecção.
Sem o filme que a protege, de acordo com o IAC, a bactéria ficaria mais suscetível aos estresses ambientais e aos compostos antimicrobianos. Consequentemente, seriam reduzidos também os focos da doença e a quantidade de produtos químicos aplicados.
Resultados
Essa pesquisa teve duração de quatro anos. “Os resultados mostraram que essa molécula não só reduziu a quantidade de bactérias capazes de colonizar a folha, como também teve efeito de desprendimento da comunidade bacteriana que vive sobre as folhas”, explica.
Segundo Alessandra, a aplicação de NAC com cobre reduziu em até mil vezes a concentração de bactérias nas folhas. “Daí concluímos poder se tratar de nova estratégia de manejo do Cancro Cítrico.”
A equipe segue estudando novas formas de aplicação do NAC a fim de encontrar respostas ainda mais eficientes. Os novos passos envolvem testes em campo para controle da CVC e testes em casa de vegetação para manejo de outras doenças bacterianas.
Clique aqui para ler o comunicado oficial do Instituto Agronômico de Campinas, no site da APTA.