Substâncias altamente tóxicas afetam negativamente a estratégia nutricional voltada para o ganho de peso dos rebanhos e podem até mesmo causar a morte do animal
Pouco se fala sobre o inimigo oculto presente na pecuária de corte intensiva nacional: as micotoxinas. Substâncias potencialmente tóxicas capazes de afetar consideravelmente o desempenho zootécnico afetando o ganho de peso e em casos extremos levar a óbito os animais contaminados.
De acordo com a zootecnista e gerente técnica da VLN Feed, Jane Gonçalves, esse era um tema comumente debatido entre profissionais ligados ao segmento de monogástricos – animais que apresentam estômago simples -, porém, recentes pesquisas demonstraram os impactos negativos causados pelas micotoxinas entre os ruminantes e seu efeito nocivo para a saúde do rúmen.
“Adicionalmente às perdas produtivas na pecuária intensiva, há também os danos econômicos gerados pela contaminação”, explica Jane Gonçalves, acrescentando, “elas podem gerar perda do mercado consumidor e exportador, ou seja, atingem o setor como um todo.”
Ela salienta que a literatura aponta mais de 400 tipos, sendo as mais comuns três cepas de fungos: Aspergillus spp, Fusarium spp e Penicillium spp. “Cada um desses fungos pode produzir vários tipos de micotoxinas, dentre os mais vistos na alimentação animal são: a aflatoxinas, ocratoxina, zearalenona, fumonisina e deoxinevalenol”, explica a especialista.
Detoxicação
Inúmeros motivos levam a presença destas substâncias na alimentação animal, entre os principais fatores: o transporte de grãos, o armazenamento (silos), a compactação no momento de formar silagens ou a presença das substâncias em fenos.
“A detoxicação dos compostos tóxicos produzidos pelos fungos nas matérias primas contaminadas pode ser de diversas formas, como por exemplo o tratamento térmico, irradiação, ozonização, extração por solvente, inativação química, acidificação ou o uso de produtos naturais como extratos herbais”, destaca.
Gonçalves salienta que o uso de adsorventes de micotoxinas na dieta ou ração só ocorre quando não há mais possibilidade de detoxificar. “Estes aderem à micotoxina e impedem sua absorção no trato digestório, tornando-as inerte e não tóxicas para os animais. Há adsorventes inorgânicos e orgânicos, sendo os principais: silicatos, carvão ativado, produtos de clorofila e derivados de parede celular de levedura.
No mercado há uma variedade à disposição, desde aqueles com a presença de um único componente ou misturas que variam suas inclusões e amplitudes de ação”, alinha a especialista que considera que o ideal é a utilização de um adsorvente de amplo espectro. “Isso porque agirá em diversas micotoxinas o que eliminará os danos causados por elas”, reforça a zootecnista.
Novas pesquisas
Recente pesquisa realizada por outra zootecnista, Letícia Custódio, mestre em ciência animal e pastagens e conservação de forragens pela Esalq-USP e doutoranda em zootecnia pela FCAV-Unesp e pela Apta, apontou que a perda de desempenho em ganho de peso por consequência da ingestão de alimentos contaminados pode ser de até 200 gramas por dia.
Ainda, segundo o estudo, animais que receberam rações com baixo índice de contaminação ganharam por dia 1,770 quilos, enquanto animais que consumiram rações com contaminações mais elevadas o ganho diário foi de 1,510 quilos.