Tratamento racional e banho por aspersão são alguns dos métodos indicados para combate ao parasita
O carrapato, além de gerar desconforto e perda de produtividade do animal, pode fazer com que o produtor tenha um prejuízo de, em média, nove mililitros de leite por vaca em lactação, por exemplo. Pensando nisso, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) vem desenvolvendo estudos para controle do carrapato em bovinos.
Em um deles foram avaliados diferentes tipos de equipamentos e técnicas de banho por aspersão, com o objetivo de identificar os aspectos positivos e negativos e qual o procedimento mais adequado para os pecuaristas da região de Prudente de Morais, Estado de Minas Gerais. A técnica de banho por aspersão por meio de pulverizador estacionário motorizado foi considerada a mais eficaz.
“O equipamento de aspersão e um reservatório para a calda carrapaticida ficam juntos ao corredor de cordoalha, onde os animais são mantidos para serem banhados. Isso permite que dois operadores, utilizando equipamentos de proteção individual – EPI, realizem o procedimento com conforto e segurança”, explica Daniel Sobreira, médico veterinário e pesquisador da Epamig.
Banho por aspersão
Ele lembra que, “o equipamento de aspersão deve ser específico para uso com pesticidas e possuir manômetro e válvula para ajuste de pressão, além de entrada para mangueira de sucção, e saída para mangueira de retorno”.
O banho dura por volta de dois minutos e são consumidos cerca de quatro a seis litros de medicamento por animal, gerando um custo de R$ 200,00 para um rebanho de 100 vacas.
“O tratamento com carrapaticida é um importante ponto crítico limitante para o controle do carrapato dos bovinos. Falhas no procedimento comprometem a eficiência dos tratamentos químicos, que ainda são fundamentais na maioria das situações. Entretanto, existem outros aspectos que precisam ser observados quando se trata de controle população de parasitos”, complementa Daniel.
Testes feitos no Campo Experimental da Epamig em Santa Rita, Minas Gerais, comparando a situação de dez anos atrás do rebanho, identificaram que a média da carga parasitária caiu de 66 para 15 (4,4 vezes ) e o número de tratamentos carrapaticidas foi reduzido de 18, realizados ao longo do ano, para entre seis e oito, feitos de forma concentrada em um período de quatro meses.
O pesquisador alerta que é importante que sejam respeitadas as recomendações de bula e do veterinário responsável para fazer o uso de medicamentos e pesticidas com ação antiparasitária.
O parasita
O Rhipicephalus (Boophilus) microplus é conhecido como o carrapato dos bovinos e está presente em todos os Estados do Brasil, causando grandes perdas econômicas. Os prejuízos ocasionados por este ectoparasita estão associados à perda de peso, baixa conversão alimentar, redução na produção de leite, perdas na qualidade do couro, toxicoses, lesões de pele que favorecem a ocorrência de miíases, anemia e transmissão de agentes patógenos que provocam graves enfermidades, como a babesiose e a anaplasmose.
Fases de vida do carrapato
- Fase parasitária: Corresponde ao estádio que se passa sobre o hospedeiro e que tem uma duração relativamente constante (em média 21 dias). Ela tem início quando ocorre a fixação dos carrapatos no bovino e término quando as fêmeas ingurgitadas (teleógenas) caem do bovino no solo. No caso dos machos, eles não se ingurgitam como as fêmeas, e podem permanecer no corpo dos bovinos por até 50 dias, fecundando várias fêmeas neste período. Assim que as fêmeas ingurgitadas caem no solo, elas imediatamente procuram um local protegido de raios solares, e que tenha um microclima com temperatura e umidade relativa favorável. Estes locais são geralmente no solo embaixo de touceiras e estolões de capins.
- Fase não parasitária: É a fase que se passa no ambiente e a sua duração irá depender de fatores como a temperatura e umidade relativa. Começa com a fêmea fecundada e ingurgitada desprendida do hospedeiro, caindo no solo para realizar a oviposição. Esta fase do ciclo é a que possui a maior variação de duração, podendo ser de 36 a 453 dias.
Ciclo evolutivo
Considera-se que apenas 5% da população de carrapatos estejam sobre os bovinos. Os outros 95% estão no ambiente, na forma de larvas infestantes ou ovos (maioria). Isso prediz que os programas de controle estratégicos contra o R. (B.) microplus devem ser contínuos e com resultados a longo prazo.
Distribuição populacional de R. (B.) microplus
Combate de carrapatos
O controle do R. (B.) microplus no Brasil é realizado principalmente na fase parasitária, através do emprego de diversos grupos químicos. A aplicação de carrapaticidas é a principal medida para o combate do carrapato. Porém, o uso indiscriminado e a má utilização do remédio vêm acarretando sérios problemas de resistência, além de implicações na poluição do solo, resíduos do produto no leite e na carne, como também contaminação do homem.
Além da escolha da droga a ser utilizada, é necessário atentar-se aos conhecimentos adquiridos na epidemiologia e ecologia do carrapato, a fim de planejar um programa de controle efetivo.
Tipos de tratamento
Os tratamentos podem ser distinguidos em dois tipos: tratamento curativo e tratamento racional.
O curativo se baseia na aplicação de carrapaticidas após a constatação de carrapatos no animal. Este tipo de intervenção é o mais utilizado no Brasil, porém é o menos eficaz, podendo acelerar o aparecimento de resistência.
O produtor que realiza o tratamento apenas com o objetivo de “curar” os animais geralmente não tem conhecimento da epidemiologia e de quais são as características do ciclo do carrapato. A grande problemática associada ao uso do tratamento curativo é que por serem implantados sem um planejamento prévio, ocorre a aceleração do desenvolvimento de resistência do R. (B.) microplus.
Neste tipo de controle o pecuarista nota que conforme o maior tempo de uso do medicamento ocorre uma perda de eficácia na eliminação do ectoparasita.
Já o tratamento racional é baseado no conhecimento do ciclo do carrapato, com o objetivo de diminuir a população de carrapatos nos bovinos e na pastagem. O controle estratégico consiste na concentração dos tratamentos em determinadas épocas do ano.
Este programa de manejo, quando realizado corretamente, diminui a quantidade de tratamentos e, consequentemente, reduz tanto os gastos com carrapaticidas quanto a probabilidade do estabelecimento da resistência.
Como elaborar um controle estratégico
Deve-se adotar o controle estratégico em todos animais, ou por lotes de animais, que necessariamente permanecerão na mesma pastagem durante todo tratamento.
Elaborar uma estratégia implica fazer um diagnóstico de situação e avaliar aspectos como nível tecnológico, tamanho de rebanho, modelo de produção, sistema de pastoreio, taxas de lotação, composição racial, clima e qualidade da pastagem. São fatores que interferem na forma como a população do carrapato se comporta e na definição das ações.
Por definição, o controle estratégico consiste em realizar tratamentos em intervalos regulares, por um período próximo ao tempo máximo de sobrevivência dos carrapatos que estão no ambiente o que, a rigor, pode ser feito em qualquer época do ano levando em conta a infestação da pastagem e dos animais. Os tratamentos realizados fora do período previamente determinado são chamados de táticos. O intervalo de quatro meses tem sido recomendado na maior parte das propostas.
O tratamento tático é aplicado dentro de um controle estratégico com vigilância constante sobre o nível de infestação, sendo administrado quando necessário. Os animais de compra e os animais mais susceptíveis a carrapatos, chamados popularmente de “animais de sangue doce”, devem ser tratados taticamente.