Desenvolvido pela Embrapa em parceria público-privada, BiomaPhos alia sustentabilidade e produtividade por ser biológico, considerando que é composto por duas bactérias identificadas: uma, no solo e outra, no milho
Pela primeira vez no mercado brasileiro e 100% desenvolvido com tecnologia nacional, um inoculante capaz de aumentar a absorção de fósforo pelas plantas poderá reduzir a dependência do País da importação de fertilizantes. Criado a partir da parceria público-privada entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a companhia privada Bioma, o BiomaPhos associa sustentabilidade e produtividade por ser biológico, considerando que é composto por duas bactérias identificadas por cientistas da estatal: uma, no solo e outra, no milho.
A Embrapa destaca que somente em 2018, conforme dados da GlobalFert – um dos principais provedores de informações estratégicas desse setor do agronegócio –, o Brasil importou 24,96 milhões de toneladas de fertilizantes NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), um volume 4% maior em relação ao ano anterior. Os adubos fosfatados, por exemplo, corresponderam a 23% desse montante, atingindo a marca de 5,69 milhões de toneladas importadas no mesmo período.
A detecção das bactérias que apresentam aptidão para solubilizar ou tornar disponível o elemento fosfato ficou a cargo de cientistas da Embrapa. Conforme a instituição, esse mineral é indispensável para o crescimento e a produção vegetal, levando em conta que ele interfere nos processos de fotossíntese, respiração, armazenamento e transferência de energia.
Índices de produção
Após a conclusão dessa etapa, a empresa Bioma estabeleceu os índices de produção em larga escala e a formulação do bioproduto, que permitiram melhor sobrevivência do inoculante na prateleira e nas condições de campo.
“As cepas das bactérias Bacillus subtilis (CNPMS B2084) e Bacillus megaterium (CNPMS B119) conseguem fazer com que maior quantidade de fósforo seja absorvida pelas raízes, recebendo em troca compostos fundamentais para o crescimento bacteriano, como fontes de carbono, em especial açúcares e ácidos orgânicos”, explica a agrônoma Christiane Paiva, mestre em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, doutora em Interação Planta-Microrganismos.
Entenda melhor
Antes de traçar os benefícios do novo produto da Embrapa, é importante informar que o inoculante é um biofertilizante que utiliza microrganismos vivos, capazes de promover o crescimento vegetal de forma direta ou indireta, por meio de diferentes mecanismos, tais como fixação biológica de nitrogênio, produção de fito-hormônios, solubilização de fosfato, biocontrole, entre outros. Esse produto contém uma determinada bactéria, que passou por seleção, e um veículo que a mantém viva, desde a sua produção no laboratório, até o momento de sua aplicação.
Em relação à importância do fósforo para os solos e plantas, a estatal cita que esse elemento químico desempenha um papel essencial em muitas moléculas da matéria viva, verificando sua associação a múltiplos compostos orgânicos, ácidos nucleicos, DNAs e RNAs, dos quais é a espinha dorsal, assim como muitas proteínas e lipídios que são chamados de fosfoproteínas e fosfolipídios.
O fósforo desempenha papel fisiológico em vários níveis:
• Na multiplicação celular em meristemas (DNA, RNA);
• Na respiração celular e transferência de energia (ATP, ADP);
• Na fotossíntese da planta para produzir carboidratos.
De acordo com a Embrapa, uma vez que as reservas da semente são esgotadas de fósforo, a planta deve encontrar imediatamente este elemento no solo perto de suas raízes, já que ele é praticamente imóvel no solo. Neste estágio, o fósforo pode ser um fator limitante e causar redução no desenvolvimento. A adição de fósforo promove o vigor inicial da planta e estimula o crescimento do sistema radicular, que explorará mais rapidamente as reservas de fósforo no solo.
A estatal também descreve que, em solos tropicais, as raízes de plantas absorvem, na solução do solo, o fósforo como íons H2PO4. Esses íons minerais vêm da solubilização de fosfatos e dos íons minerais adsorvidos/retidos nas várias fases sólidas do solo. O fósforo “orgânico” contido nas moléculas de adubos orgânicos deve ser mineralizado em íons fosfóricos para se tornar assimilável pelas plantas.
Produtividade cresce 10%
Resultados de experimentos com o BiomaPhos na cultura do milho, conduzidos em algumas regiões brasileiras, mostram o aumento médio de produção de grãos em cerca de 10%, o que pode equivaler a um ganho médio de até dez sacas por hectare.
“Esses experimentos avaliaram a inoculação combinada com a adubação reduzida de superfosfato triplo, o que pode diminuir o gasto para o produtor com fertilizantes sintéticos”, destaca Christiane, que também é pesquisadora da área de Microbiologia do Solo da Embrapa Milho e Sorgo (MG), unidade responsável pela pesquisa que culminou no lançamento do BiomaPhos.
Outro diferencial do uso do inoculante, conforme a cientista, é uma redução significativa no índice de emissão de gás carbônico (CO2) na atmosfera. “Com isso, os resultados demonstram que é possível empregar uma tecnologia limpa e de baixo custo na cultura do milho, contribuindo para a sustentabilidade na agricultura, sem perdas para o meio ambiente”, reforça a agrônoma, que gravou um vídeo explicando sobre a novidade.
Vantagens
Os inoculantes produzidos com esses microrganismos apresentam menor custo, não causam danos ambientais e ainda podem ser usados para suplementar os fertilizantes.
“A adição de inoculantes no solo pode acelerar a ciclagem de nutrientes, aumentar a liberação do fósforo presente na matéria orgânica e enriquecer o solo biologicamente. Além disso, esses inoculantes apresentam outros mecanismos de promoção de crescimento para as plantas”, informa a pesquisadora.
Estudos conduzidos pela Embrapa revelam que há um estoque bilionário de fósforo nos solos, que se encontra inerte e não pode ser aproveitado pelas plantas.
“Em alguns solos de plantio direto, cerca de 88% do fósforo encontra-se em forma orgânica, indisponível para ser absorvido pelas raízes, e precisa ser mineralizado para esse fim. As bactérias solubilizadoras de fosfatos conseguem disponibilizar o elemento para a planta, atuando de forma agronômica nesse grande estoque presente na natureza”, diz Christiane.
Ela também comenta que, “no caso do milho, por ser uma planta de ciclo curto e altamente exigente em nutrientes, o uso complementar do inoculante à adubação vem ganhando espaço”. “É realidade conseguirmos maiores ganhos de produção e de produtividade com o uso do produto”, reforça a cientista.
Outra vantagem é a estabilidade do inoculante por causa da sua capacidade de formação de esporos das bactérias selecionadas, permitindo sua adaptação a condições extremas, como temperaturas, pH ou exposição a pesticidas.
Outros países estão à frente do Brasil
No Brasil, o uso de inoculantes para suprir a demanda de fósforo pelas plantas ainda é incipiente. “No entanto, países como Argentina, Canadá, África do Sul, Índia, Austrália, Filipinas e Estados Unidos têm investido na linha de bioprodutos visando reduzir o uso indiscriminado de adubos fosfatados, além de propiciar aumento na oferta de produtos que aumentem a tolerância das plantas a esses estresses de forma eficiente”, reforça a pesquisadora.
Christiane ressalta que, para a aquisição de outro elemento fundamental – o nitrogênio –, inoculantes à base de rizóbio e Azospirillum têm dominado o mercado de biológicos, tanto para culturas de grãos quanto para leguminosas, com significativa redução do uso de adubos nitrogenados, principalmente no bem-sucedido caso da cultura da soja.
Para mais detalhes sobre a nova tecnologia da Embrapa Milho e Sorgo, clique aqui! Informações sobre o produto, acesse www.bioma.ind.br/product/bioma-phos.
Fonte: Embrapa Milho e Sorgo