Viajar com menor impacto ambiental possível pode estimular passageiros a pagarem entre R$ 5,00 e R$ 8,00 a mais por bilhetes aéreos, desde que saibam que essa quantia seria usada para reduzir ou compensar as emissões de carbono de seu voo
Uma pesquisa feita no País sobre os hábitos de consumo, percepção e opinião em torno das emissões de gases de efeito estufa da aviação civil mostram que os brasileiros estão cada vez mais conectados com as questões que envolvem a sustentabilidade do meio ambiente aqui e lá fora.
Produzida pela rede de organizações brasileiras Aliança REDD+ Brasil, a pesquisa revela que 68% dos respondentes pagariam entre R$ 5,00 e R$ 8,00 a mais por bilhetes aéreos se soubessem que o valor seria revertido para redução ou compensação das emissões de carbono do seu voo.
Encomendada à empresa IDEIA Big Data, a pesquisa foi feita com 800 passageiros de voos internacionais entre os dias 1º e 10 de abril de 2019. Todos os entrevistados viajaram de avião para fora do País nos últimos 12 meses ou pretendem viajar nos próximos 12 meses. Também e são responsáveis pelo pagamento da própria passagem aérea.
Sem exemplos positivos
De acordo com o Instituto Centro de Vida (ICV) – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), apartidária, sem fins lucrativos e que faz parte da Aliança REDD+ Brasil –, o estudo também revela que 89% dos entrevistados não conseguem citar nenhuma companhia aérea que tenha preocupação com a redução de carbono ou compensação.
Eles também não se posicionaram sobre a afirmação das companhias estarem prejudicando o meio ambiente: 52% não concordaram, nem discordaram. Mas a grande maioria (75%) afirma que voar em uma companhia área que se preocupa com a redução de carbono é importante.
“Em geral, jovens demonstram maior preocupação com as emissões de carbono emitidas durante voos internacionais de longa duração e seus impactos no meio ambiente”, destaca Pedro Soares, gerente de Mudanças Climáticas do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), uma organização não governamental sem fins lucrativos, sediada em Manaus (AM).
Preferência dos passageiros
Ao decidir comprar uma passagem aérea para viajar para fora do País, quase metade dos entrevistados revela não possuir preocupação com as emissões de carbono. Ainda assim, sete em cada dez entrevistados acreditam que companhias aéreas, que se comprometem a reduzir ou compensar essas emissões, terão maior preferência dos clientes.
As mulheres tendem a concordar mais com a afirmação (75%) se comparadas com os homens (65%). Com relação a preço, 68% dos respondentes mostraram disposição até de pagar entre R$ 5,00 e R$ 8,00 a mais por bilhete, se soubessem que o valor seria revertido para redução ou compensação das emissões de carbono do seu voo. Apenas 18% não estão dispostos a pagar a mais por isso.
“Os consumidores estão cada vez mais conscientes de sua responsabilidade nas emissões de carbono e precisam compartilhar os custos do combate às mudanças climáticas. As companhias aéreas que se anteciparem na adoção dessas ações terão mais chances de fidelizar esses clientes”, destaca Paula Bernasconi, coordenadora de Incentivos Econômicos para Conservação do ICV.
Uso de biocombustíveis
Com relação às medidas que poderiam ser adotadas para ajudar a reduzir os prejuízos ao meio ambiente, a maioria (57%) avalia que a melhor estratégia seria o uso de biocombustíveis ou melhorias tecnológicas nas aeronaves. A segunda melhor opção, considerada por 39%, é a conservação ambiental e a biodiversidade, com apoio a programas de reflorestamento e conservação florestal.
“A vinculação do CORSIA (sigla em inglês para Esquema de Redução de Emissões da Aviação Civil Internacional) para os mecanismos de mercado, como a aquisição de créditos florestais certificados oriundos da redução do desmatamento, é a estratégia mais eficiente, barata e imediata para reduzir emissões no País, promovendo incentivos reais à conservação da Floresta Amazônica e combatendo o desmatamento”, afirma o coordenador de projetos da Biofilica, Caio Gallego.
Eficiência energética
Por fim, a terceira medida para diminuição ou compensação das emissões em voos internacionais, preferida por 31%, é por meio do apoio a projetos de eficiência energética.
“O investimento em biocombustíveis e em melhorias tecnológicas das aeronaves deve ser a principal estratégia do setor no médio e longo prazo. Porém, devido à urgência das mudanças climáticas, novos investimentos em ações de conservação das florestas e da biodiversidade é fundamental”, diz Pedro Soares, do Idesam.
Um quinto das emissões até 2050
Segundo o Instituto Centro de Vida, com o aumento da população e a maior facilidade de acesso a viagens aéreas, a aviação civil internacional é séria candidata a assumir a liderança dos maiores emissores de gás carbono do planeta, já em 2050, quando o setor deverá produzir um quinto das emissões globais.
“Se a aviação civil internacional fosse um país, já estaria entre os 10 maiores emissores do planeta. É urgente atacar essa questão de forma imediata”, destaca Pedro Soares, gerente de Mudanças Climáticas do Idesam.
Esses dados preocupantes levaram a Organização Internacional da Aviação Civil (ICAO) a estabelecer o primeiro acordo global a fim de limitar as emissões do setor a partir de 2021. Para isso, criou o Esquema de Redução de Emissões da Aviação Civil Internacional (CORSIA, na sigla em inglês), que será implementado em três fases.
As duas primeiras, entre 2021 e 2026, serão por adesão voluntária, e a partir de 2027, se tornarão mandatórias para todos os países da ICAO, incluindo o Brasil.
Sobre a Aliança REDD+ Brasil
A Bolsa de Valores Ambientais do Rio de Janeiro (BVRio), Biofílica Investimentos Ambientais, Fundação Amazonas Sustentável (FAS), ICV, Idesam e Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que integram a Aliança, trabalham para divulgar o REDD+ como ferramenta com o intuito de colocar fim ao desmatamento ilegal e gerar recursos para o governo, produtores, comunidades tradicionais e indígenas.
Segundo o Instituto Centro de Vida, o Brasil tem potencial para captar até US$ 45 bilhões pelo REDD+ na Amazônia, até 2030. E a Aliança quer contribuir para que o País esteja em posição de liderar o crescente mercado de compensação de emissões de carbono por nações, unidades subnacionais, setores produtivos e grandes eventos.
Clique aqui e confira o estudo completo em PDF.
Fonte: Instituto Centro de Vida