Premissa básica do controle biológico é controlar as pragas agrícolas e os insetos transmissores de doenças, a partir do uso de seus inimigos naturais, que podem ser outros insetos benéficos, predadores, parasitoides e microrganismos, como fungos, vírus e bactérias
Se ainda pairam dúvidas de que a agricultura brasileira é uma das mais sustentáveis do planeta, os números comprovam que ela está no caminho certo. Somente em 2018, a indústria nacional de controle biológico alcançou o maior índice de crescimento de comercializações de sua história, ao contabilizar R$ 464,5 milhões em vendas totais.
O valor corresponde a um crescimento de 77% sobre os R$ 262,4 milhões do ano anterior. É o que revelam os dados do levantamento do Departamento de Estatística da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio), divulgados nesta quinta-feira, 21 de março, durante coletiva de imprensa em São Paulo.
Presidente da Associação, o empresário Arnelo Nedel afirma que esse desempenho expressivo do setor de biodefensivos tem ainda mais relevância, considerando que os números divulgados indicam apenas a média.
“Houve segmentos em que o aumento de vendas atingiu a espantosa marca de 148%, como é o caso de biofungicidas”, informa o executivo.
O que é controle biológico
É importante reforçar o significado desse segmento para a agricultura brasileira, que vem dando exemplo de sustentabilidade ao planeta.
Segundo resume a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), “a premissa básica do controle biológico é controlar as pragas agrícolas e os insetos transmissores de doenças, a partir do uso de seus inimigos naturais, que podem ser outros insetos benéficos, predadores, parasitoides e microrganismos, como fungos, vírus e bactérias”.
De acordo com a estatal, “trata-se de um método de controle racional e sadio, que tem como objetivo final utilizar esses inimigos naturais, que não deixam resíduos nos alimentos e são inofensivos ao meio ambiente e à saúde da população”.
Fase de consolidação
Durante coletiva da ABCBio, Nedel comentou que o principal motivo para esse inédito aumento de vendas é a maior taxa de adoção dos agricultores por agentes biológicos contra pragas e doenças.
Em sua opinião, “como o uso de biodefensivos ainda está em uma fase de consolidação no Brasil, qualquer aumento no índice de adoção em culturas que ocuparam grandes áreas, como por exemplo a da soja, é suficiente para resultar em um elevado volume de vendas”.
No caso da soja, cuja adoção não chega a 5% em algumas regiões produtoras do País, “se entende a forte evolução, assim como as projeções futuras de aumento, já que a maioria ainda não se vale desse insumo”.
Segundo Nedel, contribuiu também para maior adoção de biodefensivos agrícolas, pelos produtores rurais do Brasil, uma ação mais efetiva e coordenada por parte das indústrias do segmento, que têm se aproximado cada vez mais do agricultor.
Isso se deve ao oferecimento, por parte dessas empresas, de suporte, assistência técnica e, sobretudo, em relação às formas de aplicação de agentes, “que são organismos vivos e, portanto, demandam maior controle em seu manejo”.
Maior eficiência
Outro fator de incremento do uso de biodefensivos em campo, conforme o presidente da ABCBio, é sua maior eficiência no controle de pragas e doenças. Há casos de agentes biológicos que já apresentam a mesma eficácia dos produtos convencionais.
“O que se nota é que havia – e ainda há – uma demanda reprimida por soluções de defesa vegetal que resultem em menor impacto em termos de resíduos, principal característica dos agentes biológicos”, comenta Nedel.
Essa demanda reprimida ficou evidenciada em outra pesquisa feita pela ABCBio, na safra 2017/18, com 1.762 agricultores de todo o País. Uma das conclusões do levantamento foi a de que 43% dos produtores rurais disseram desconhecer os biodefensivos.
De outro lado, a aceitação desse insumo por aqueles que já o utilizam é enorme, uma vez que 98% dos entrevistados, que usaram defensivos biológicos naquela mesma safra, disseram que pretendiam usá-los também na próxima.
Entre os fatores mais citados para a decisão do uso de biodefensivos está a eficiência do controle, fato mencionado por 76% dos produtores ouvidos.
Lançamentos de produtos inovadores
Outro cenário que explica o excelente desempenho das vendas, em 2018, foi um aumento dos lançamentos de produtos inovadores pelas indústrias de controle biológico.
De acordo com a ABCBio, novas formulações foram colocadas à disposição do produtor, entre o final de 2017 e durante todo o ano passado. Algumas delas ganham espaço no pacote tecnológico de controle de pragas e doenças das lavouras, porque proporcionam um aumento de vida útil e, consequentemente, maior tempo de prateleira.
Os novos ativos que estão chegando ao mercado brasileiro, além disso, “possibilitam controlar diferentes pragas e doenças, sendo que alguns possuem mais de um ativo biológico em um mesmo composto e há ainda os chamados agentes híbridos, que combinam ativos biológicos com ingredientes de origem química”, ressalta Nedel.
Transformação de paradigmas
Conforme a ABCBio, por fim, o que se nota em relação à maior utilização de biodefensivos agrícolas no País “é que está havendo uma mudança na concepção do uso desses agentes biológicos”.
Para a instituição, “diante dessa transformação de paradigma, a expectativa é de maior crescimento do segmento nos próximos anos”.
“Nada menos que 96% dos produtores ouvidos pela ABCBio afirmaram que deve haver crescimento no uso desse tipo de insumo no Brasil nos próximos cinco anos”, afirma Nedel.
Os destaques
Entre os ativos biológicos mais utilizados, hoje, pelos agricultores brasileiros, o estudo constatou que os preferidos são: Bacillus sp (diversos tipos), Baculovirus, Beauveria, Cotesia, Metarhizium, Paecilomyces, Pochonia, Trichoderma e Trichogramma.
Já as principais culturas em que onde o insumo é aplicado são: soja, cana, café, hortaliças e frutas.
Para mais informações sobre o trabalho da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio) – fundada em 2007 com o objetivo de congregar as empresas do setor, reunindo a indústria de defensivos biológicos e buscando o fortalecimento e a representatividade do segmento em todas as instâncias relacionados com a atividade –, acesse www.abcbio.org.br.
Acesso online
No site, é possível encontrar links para uma lista de biodefensivos registrados no Brasil, legislação nacional e Programa de Conformidade, entre outros.
No canal do YouTube da instituição também é possível encontrar uma série de vídeos, que visam facilitar o acesso ao produtor rural e aprofundar o conhecimento sobre as novas tecnologias usadas no controle biológico de pragas e doenças que afetam a agricultura do País.
Ainda está disponível uma agenda para os próximos eventos voltados para o setor de controle biológico, como o 16º Simpósio de Controle Biológico (Siconbiol), promovido pela Sociedade Entomológica do Brasil e que será realizado entre os dias 11 e 15 de agosto de 2019, em Londrina (PR).