Plantas do gênero Arabidopsis thaliana (foto) são usadas em experimento científico na Austrália, que aponta mudança no crescimento desses vegetais depois de serem simplesmente tocados. Mesmo observando uma alteração de 10% do genoma, o que seria – a priori – negativo, pode favorecer cultivos agrícolas, segundo analisa cientista brasileira
As plantas são muito sensíveis ao toque – seja humano, de animais ou de outros agentes – e esse ato pode prejudicar, significativamente, seu crescimento e alterar seu genoma. É o que aponta um estudo realizado por australianos da Universidade La Trobe, que utilizaram o gênero Arabidopsis thaliana em seus testes.
A descoberta, no entanto, pode levar a novas abordagens científicas, que resultariam na otimização do crescimento e da produtividade de culturas agrícolas, conforme analisa a cientista brasileira Adriana Brondani, doutora em Ciências Biológicas.
Durante o experimento na Austrália, as plantas receberam diversos estímulos de toque e até mesmo os mais leves desencadearam uma grande resposta genética nesses seres vivos.
“Após um toque, dentro de meia hora, 10% do genoma da planta são alterados. Isso envolve um enorme gasto de energia, que é tirado de outras funções do vegetal. Se o toque se repetir, o crescimento pode ser reduzido em até 30%”, alerta o professor Jim Whelano, diretor do Instituto de Agricultura da Universidade La Trobe e líder da pesquisa.
Os cientistas envolvidos no estudo explicam que a razão por trás dessa reação ainda não está clara. Entretanto, um dos motivos pode estar associado à defesa contra o ataque de insetos. A hipótese é que, quando um inseto pousa em uma planta, por exemplo, os genes são ativados para defendê-la.
Biologia molecular
Publicadas na revista The Plant Journal, as observações desse experimento podem levar a novos horizontes para a agricultura.
“Por meio de técnicas de biologia molecular, esse gene poderia ser desativado em plantas cultivadas, permitindo a elas economizarem toda essa energia, que seria gasta para se defender de toques inofensivos”, ressalta a bióloga Adriana Brondani, diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), organização não governamental que tem como missão atuar na difusão de informações técnico-científicas sobre biotecnologia e suas aplicações.
Para a doutora, essa característica pode ter sido uma resposta evolutiva às ameaças: “É possível que as plantas selvagens tenham desenvolvido esse mecanismo de defesa contra toques, porque insetos podem danificar suas folhas e caules, prejudicando seu desenvolvimento”.
Vantagem para agricultura
Na agricultura, considerando que o plantio e o crescimento são constantemente monitorados, esse gene pode fazer com que a planta desperdice energia.
“A edição genética poderia silenciar esse gene, em culturas essenciais para a alimentação humana e animal, a exemplo da soja, milho, trigo, arroz, entre outras. Isso seria uma alternativa para tentar aumentar a produtividade, sem incrementar a área cultivada, contribuindo, portanto, com a sustentabilidade da agricultura”, comenta a executiva.
A pesquisa foi realizada com a espécie Arabidopsis thaliana, usada como modelo em pesquisas científicas. Entretanto, de acordo com o Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), é provável que seja aplicável à maioria das plantas. O próximo passo da pesquisa será testar a resposta ao toque em outras espécies vegetais.