Objetivo de expedição é identificar microrganismos com potencial de gerar bioinsumos prontos para uso por parte de indústrias do setor agrícola (Foto: Divulgação)
Referência em conservação ambiental, o arquipélago de Fernando de Noronha abriga uma biodiversidade marinha com cerca de 500 espécies catalogadas, entre elas peixes recifais, moluscos, cnidários e esponjas – muitas endêmicas, ou seja, exclusivas ao arquipélago. Essa riqueza é favorecida por uma combinação rara de condições naturais: suas águas são consideradas oligotróficas, ou seja, possuem baixa concentração de nutrientes e alta transparência, permitindo grande penetração de luz solar.
Aliadas a correntes oceânicas favoráveis e à baixa intervenção humana, essas circunstâncias criam um ambiente ideal para comunidades biológicas singulares, incluindo microrganismos raros e adaptados a condições extremas. Diante desse cenário, a Apoena Agro, realizou sua segunda expedição científica de bioprospecção em Fernando de Noronha, com o objetivo de identificar novas cepas microbianas com potencial para gerar bioinsumos inovadores destinados à agricultura.
O Brasil é hoje um dos pilares do agro mundial e o desempenho do setor segue decisivo para a economia. Em 2024, o agronegócio respondeu por cerca de 23,5% do PIB brasileiro, segundo estimativas de Cepea/CNA, com perspectiva de avanço em 2025 diante da retomada de diversas cadeias produtivas. Esse protagonismo, no entanto, vem acompanhado de um desafio global: garantir o aumento da produção de alimentos diante do crescimento populacional e, ao mesmo tempo, reduzir os impactos ambientais.

Além de contribuírem para a preservação dos recursos naturais e diminuírem a dependência de insumos químicos tradicionais, os bioinsumos favorecem sistemas agrícolas mais regenerativos e a produção de alimentos mais seguros, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.Foto: Divulgação
Para isso, é necessário ampliar o desenvolvimento de soluções que combinem produtividade, sustentabilidade e inovação – como é o caso dos bioinsumos. Essas soluções, que integram a chamada “Revolução dos Biológicos”, utilizam microrganismos vivos ou substâncias naturais para promover o crescimento das plantas, melhorar a saúde do solo, controlar pragas e doenças de forma mais equilibrada e, consequentemente, elevar a produtividade das lavouras com menor impacto ambiental. Além de contribuírem para a preservação dos recursos naturais e diminuírem a dependência de insumos químicos tradicionais, favorecem sistemas agrícolas mais regenerativos e a produção de alimentos mais seguros, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
Por meio da bioprospecção, o intuito da Apoena Agro é fazer parte desse movimento que vem transformando o setor. Para isso, desenvolve bioinsumos exclusivos, baseados em cepas brasileiras, utilizando a biodiversidade do país como matéria-prima. Além das duas expedições em Fernando de Noronha, a empresa já esteve na floresta tropical mais diversa do mundo, a Amazônia. Como resultado dessas iniciativas em regiões de alta diversidade biológica, mantém hoje um banco exclusivo com mais de 800 estirpes microbianas, que segue sendo ampliado a cada nova expedição.
Bioprospecção na prática
A bioprospecção é um ramo da biotecnologia que consiste na busca por compostos naturais de valor biológico, com o objetivo de desenvolver novos produtos e tecnologias. No contexto do desenvolvimento de bioinsumos agrícolas, o processo envolve a identificação, coleta, isolamento e caracterização de microrganismos presentes em ambientes naturais, a fim de mapear suas funções e metabólitos de interesse, possibilitando o desenvolvimento de soluções aplicáveis ao campo.
Quanto maior a diversidade do ecossistema investigado, maior a chance de encontrar cepas com propriedades inéditas com diferentes possibilidades de aplicação. Diante desse cenário, o Brasil se consolida como um verdadeiro laboratório natural a céu aberto, já que abriga mais de 20% de todas as espécies do planeta.
Dentro dessa lógica, o arquipélago de Fernando de Noronha, ao reunir condições naturais únicas, desponta como um lugar estratégico para o setor de biotecnologia e para o desenvolvimento de bioinsumos de nova geração. A primeira visita da Apoena no arquipélago, em 2022, possibilitou o isolamento de 62 cepas bacterianas, hoje preservadas e estudadas no banco de microrganismos ambientais da companhia.

O arquipélago de Fernando de Noronha, ao reunir condições naturais únicas, desponta como um lugar estratégico para o setor de biotecnologia e para o desenvolvimento de bioinsumos de nova geração. Foto: Divulgação
“Desta vez, coletamos 47 amostras, mas ainda é difícil estimar com precisão quantas novas linhagens de microrganismos serão isoladas, já que os diferentes perfis biológicos dos microrganismos-alvo tornam esse número imprevisível. Isso é, aliás, parte do fascínio da bioprospecção. Ao isolar as cepas, é possível identificar propriedades específicas que podem ser aplicadas no desenvolvimento de soluções inovadoras para a agricultura, como biofertilizantes, biodefensivos ou estimuladores de crescimento vegetal”, explica Paula Segura-Ramírez, líder do Laboratório de Bioprospecção da empresa.
As amostras foram coletadas em diferentes ambientes do arquipélago, desde piscinas naturais rasas, com apenas 30 centímetros de profundidade, até recifes e formações rochosas submersos a 27 metros. Esponjas, ascídias, corais, algas e sedimentos estão entre os materiais obtidos, revelando não apenas a riqueza ecológica da região, mas também a importância de compreender as diferentes camadas do ecossistema marinho para fins de bioprospecção sustentável.
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Planejamento
Agora, a expectativa da companhia é expandir ainda mais o rol de possibilidades e acelerar ainda mais o desenvolvimento de novos produtos. Para isso, outras estratégias foram utilizadas para explorar ao máximo a diversidade local: durante a coleta, por exemplo, ampliou-se a variedade de amostras, abrangendo diferentes pontos, microambientes e horários, considerando variações de profundidade e luminosidade. Já no laboratório, foram aplicadas técnicas capazes de estimular interações entre microrganismos, revelando comportamentos e compostos que não seriam detectados por métodos convencionais. Também foram ajustadas, de forma gradual, condições como temperatura, salinidade e nutrientes para identificar formas de vida e substâncias ainda ocultas.
Além disso, todos os microrganismos isolados passarão por análises especializadas, como é o caso da análise metagenômica. O método permite identificar, de forma abrangente, o DNA de microrganismos presentes no ambiente – inclusive aqueles que não podem ser cultivados em laboratório. Ao revelar a composição microbiana invisível a olho nu, amplia o potencial de descoberta de compostos bioativos inéditos, tornando a bioprospecção mais precisa, rápida e promissora para aplicações biotecnológicas.

No laboratório foram aplicadas técnicas capazes de estimular interações entre microrganismos, revelando comportamentos e compostos que não seriam detectados por métodos convencionais. Foto: Divulgação
Toda a coleta de material biológico foi autorizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por meio do Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (Sisbio), seguindo rigorosos padrões legais e de sustentabilidade. O projeto de bioprospecção também cumpriu integralmente as normas do Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético (SisGen), além de oferecer, como contrapartida, o compartilhamento de todos os resultados das coletas com a comunidade científica e instituições de conservação, fortalecendo redes de pesquisa e ampliando o conhecimento sobre a biodiversidade nacional.
Até o final de 2025, a companhia ainda planeja expedições em outros biomas brasileiros, afirmando sua missão de contribuir com o desenvolvimento sustentável do agronegócio. “Temos certeza de que ainda há muito por descobrir. Mas, ao explorar de forma ética e responsável os recursos microbianos de ecossistemas únicos como Fernando de Noronha, entendemos que é possível aliar pesquisa de excelência, respeito ao meio ambiente e geração de soluções biotecnológicas que atendam às demandas dos setores produtivos”, finaliza Paula.