A tecnologia foi desenvolvida para fortalecer o sistema imunológico da tilápia, conferindo mais resistência a doenças e promovendo ganhos no crescimento do peixe chegou ao mercado (Foto: Felipe Rosa/Embrapa)
O Terpenia Acqua foi criado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com a Terpenia Bioinsumos, a partir de uma tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da própria Embrapa.
Ele pode ser incorporado à ração em duas versões: em pó, para peixes adultos, e em solução líquida, para alevinos.
“O grande diferencial do Terpenia Acqua é sua ação sobre o sistema imunológico e digestivo da tilápia nas suas diferentes fases de desenvolvimento. O produto é capaz de impactar o crescimento do peixe ao melhorar o sistema imunológico, deixando-o mais resistente a doenças que acometem sua criação”, explica a bióloga Michelly Pereira Soares, doutora pela UFSCar e uma das inventoras da tecnologia.
A formulação permite que o composto seja incluído na ração junto ao premix – mistura pré-dosada de vitaminas, minerais e aditivos nutricionais. Isso possibilita a adoção em larga escala sem alterar o processo produtivo existente.
“Pensamos em uma formulação para ser integrada facilmente à rotina das fábricas de ração, sem impacto na cadeia produtiva existente. Isso facilita a adoção em escala comercial”, afirma Fernanda Garcia Sampaio, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente que coordenou o desenvolvimento do produto em parceria com a Terpenia.
Base natural e sustentável
O Terpenia Acqua é produzido a partir de um extrato da planta Artemísia, processado de forma a preservar seus compostos ativos sem gerar resíduos contaminantes. Testes laboratoriais conduzidos no Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA/Unicamp) comprovaram a eficácia do extrato contra bactérias patogênicas que afetam peixes.
“A aplicação da Artemísia na aquicultura é promissora por atuar de forma preventiva, ajudando o organismo do peixe a resistir melhor a infecções bacterianas, o que reduz a necessidade do uso de antibióticos”, explica a pesquisadora Marta Cristina Teixeira Duarte, da Unicamp.
“Além disso, o extrato que utilizamos foi padronizado a partir de um genótipo da planta domesticado no final dos anos 80 e mantido na Coleção de Plantas Medicinais e Aromáticas (CPMA), do CPQBA desde então. A padronização garante a qualidade e constância no efeito terapêutico”, completa.
Testes em viveiros realizados pela Embrapa Meio Ambiente confirmaram a melhoria no desempenho zootécnico e na saúde dos animais, dispensando antibióticos e reduzindo riscos de resíduos sintéticos na água e no alimento destinado ao consumidor.
“Por ser composto por extratos naturais, nosso produto é facilmente degradado no ambiente, não permanece na água e não causa prejuízo à saúde humana. É uma inovação que não afeta apenas o produtor, mas a todos os consumidores, que buscam cada dia mais produtos saudáveis”, conta Wolney Longhini, CEO da Terpenia.
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Do laboratório ao mercado

Testes com peixes feitos no Laboratório de Ecossistemas Aquáticos da Embrapa Meio Ambiente. Foto: Michelly Pereira Duarte
O desenvolvimento da tecnologia levou cerca de dois anos e meio, durante o doutorado de Michelly Pereira Soares, na UFSCar, e contou com uma rede de pesquisadores da Unicamp e da Embrapa. Para proteger a inovação, foi depositado um pedido de patente, com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp e da AIn-UFSCar.
“O Terpenia Acqua representa o resultado de anos de projetos de pesquisa com o uso de compostos naturais para a promover a saúde de peixes de forma segura e eficaz”, afirma Sônia Queiroz, pesquisadora da Embrapa. “Este projeto está alinhado com os princípios de saúde única que considera impactos simultâneos sobre os animais, o meio ambiente e a saúde humana”, completa.
A Terpenia Bioinsumos, empresa criada a partir de pesquisas da Unicamp, foi responsável por transformar a tecnologia em produto. Ela já licenciou outras três tecnologias do CPQBA para aplicação em diferentes setores.
“Nosso papel como empresa é justamente esse: integrar o conhecimento acadêmico com a realidade do mercado, transformando invenções em produtos com impacto direto na produção, na economia e na sustentabilidade ambiental”, destaca Longhini.