Em sistemas que combinam agricultura, floresta e produção de mel, o controle do sombreamento é fundamental
O manejo de podas de plantas em sistemas agroflorestais (SAFs) biodiversos é uma prática essencial para manter as condições de luminosidade e microclima adequadas para as espécies presentes e de interesse, ampliar a diversidade de plantas e fornecer biomassa para cobertura que promove diversos efeitos benéficos para saúde do solo e plantas.
Mais do que uma técnica de manejo, essa intervenção tem papel estratégico na sustentabilidade dos sistemas agroflorestais e na integração com a criação de abelhas nativas sem ferrão.
Joel de Queiroga, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, explica que a equipe de Agroecologia da instituição tem realizado cursos de capacitação em poda em áreas de agricultura familiar.
Segundo ele, foram realizados dois diferentes cursos de poda para capacitação de agricultores e técnicos na Cooperativa da Agricultura Familiar e Agroecológica de Americana (Cooperacra), em parceria com as instituições APTA, Cati, Itesp, Amesampa e a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
“Um curso teve ênfase na poda de bananeiras, de espécies frutíferas e arbóreas nativas e exóticas e outro com foco na abertura de clareiras de SAFs maduros e não manejados com frequência”, informa Queiroga.

Analista da Embrapa Meio Ambiente Bruno Scarazatti em um dos treinamentos Foto Embrapa/Divulgação
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Controle do sombreamento
Ele destaca que em sistemas que combinam agricultura, floresta e produção de mel, o controle do sombreamento é fundamental. “Com o crescimento natural das espécies, as copas fecham e a competição por luz, nutrientes e espaço se intensifica”, reforça.
O especialista completa que a poda para abertura de clareiras surge como uma solução que permite renovar o ambiente, revitalizar e favorecer o desenvolvimento de plantas existentes, bem como aumentar a oferta de recursos florais, essenciais para a criação de abelhas nativas.
Na avaliação do pesquisador, essa técnica promove benefícios diretos tanto para a produção agrícola quanto para a conservação ambiental.
“Ao permitir a entrada de luz, a poda estimula o crescimento de plantas que fornecem néctar e pólen, fortalece a regeneração natural e abre espaço para o enriquecimento do sistema com novas espécies, sejam alimentícias, madeireiras ou de interesse para a meliponicultura”, sublinha.
Os SAFs agroecológicos, quando manejados com práticas adequadas de poda, tornam-se sistemas altamente produtivos, resilientes e aliados àpreservação da biodiversidade. Além disso, a integração dos SAFs com a criação de abelhas-sem-ferrão (ASF) amplia os serviços ecossistêmicos, como a polinização, essencial para a manutenção dos próprios sistemas e para a produtividade agrícola.

A poda aumenta a oferta de recursos florais, essenciais para a criação de abelhas nativas Foto Universidade Passo Fundo -UPF
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Manejo de poda
Para Lucas José Beviláqua, mestre em Agroecologia e agrofloresteiro que foi um dos facilitadores convidados dos cursos, apesar da sua importância, o manejo de poda para abertura de clareiras ainda é pouco difundido entre agricultores familiares.
De acordo com sua informação, trata-se de uma prática que exige conhecimento sobre sucessão ecológica, dinâmica das espécies e técnicas específicas para a condução das podas e o reaproveitamento da biomassa gerada.
Bruno Scarazatti, analista da Embrapa Meio Ambiente, complementa que o processo envolve etapas que vão desde o entendimento da dinâmica da sucessão florestal até a execução de podas direcionadas em espécies específicas, como o manejo de bananeiras e outras plantas que podem sombrear excessivamente o sistema.
“A biomassa resultante das podas de árvores nativas e exóticas, por sua vez, é disposta no solo, contribuindo para o controle de plantas espontâneas, conservação da umidade e aumento da matéria orgânica”, enfatiza.

Apesar da sua importância, o manejo de poda para abertura de clareiras ainda é pouco difundido entre agricultores familiares Foto Embrapa/Divulgação
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Tipos de podas
“A poda de espécies frutíferas é uma prática essencial para garantir vigor, saúde, qualidade dos frutos e produtividade dessas espécies”, ressalta o pesquisador científico e facilitador convidado Nobuyoshi Narita. No curso teórico-prático realizado, Narita demonstrou os diferentes tipos de podas a serem realizados nessas espécies, como poda de formação, limpeza, produção e revitalização.
Queiroga reforça que, ao estimular práticas como essa, agricultores fortalecem seus sistemas produtivos, melhoram as condições para a criação de abelhas-sem-ferrão e contribuem diretamente para a conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos.

Ao abrir espaço, o agricultor pode enriquecer o sistema com plantas que oferecem recursos em diferentes épocas do ano, garantindo alimento contínuo para as abelhas Foto Ronaldo Rosa/Embrapa/Divulgação
Por que a poda é importante para as abelhas?
O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente destaca que, quanto mais flores, mais alimento haverá.
“A poda, principalmente a de abertura de clareiras, estimula a floração de espécies que dependem de luz, aumentando a oferta de néctar e pólen”, afirma.
Diversidade floral é outro benefício proporcionado pela poda. Ao abrir espaço, o agricultor pode enriquecer o sistema com plantas que oferecem recursos em diferentes épocas do ano, garantindo alimento contínuo para as abelhas.
“A poda também controla o sombreamento excessivo, favorecendo o desenvolvimento de plantas herbáceas, arbustivas e trepadeiras — fundamentais para a dieta das abelhas, proporcionando um ambiente mais equilibrado”, acentua Queiroga.
O fortalecimento das colônias é mais uma vantagem proporcionada pela prática da poda.
“Com maior oferta de recursos, as colônias se tornam mais fortes, saudáveis e produtivas, com melhores condições para reprodução e produção de mel”, afirma o pesquisador.
Finalmente, com a poda, segundo o especialista, há aumento da polinização: ambientes manejados e com clareiras favorecem a circulação e a visitação das abelhas, ampliando a polinização de culturas agrícolas e de outras plantas existentes nos SAFs.
Fonte: Embrapa Meio Ambiente
Foto abertura: Abelha nativa polinizando/Embrapa/Divulgação