O uso de tecnologias como as geomembranas é uma maneira viável para enfrentar os impactos da variabilidade climática e ampliar a resiliência hídrica no campo (Foto: Lonax/ Divulgação)
O Brasil enfrentou em 2024 a seca mais extensa dos últimos 70 anos, atingindo cerca de 5 milhões de km² — o equivalente a 58% do território nacional — segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Diante desse cenário, a adoção de tecnologias para garantir a segurança hídrica nas propriedades rurais tem se tornado cada vez mais relevante, especialmente com o avanço das mudanças climáticas.
Embora a maior parte da produção agrícola brasileira dependa da chuva, por meio de sistemas de sequeiro, o uso de irrigação vem crescendo. Em 2023, o país somava 9,2 milhões de hectares irrigados, considerando diferentes métodos como o gotejamento e o pivô central.
Nesse contexto, as geomembranas — películas plásticas impermeáveis utilizadas para revestimento de reservatórios e canais — têm sido adotadas por produtores rurais como solução para reduzir perdas por infiltração e aumentar a eficiência no uso da água.
A aplicação é especialmente relevante em solos arenosos, comuns em regiões do Norte e Nordeste, onde a retenção de água é mais difícil.
“Com o uso da geomembrana, os produtores rurais conseguem ampliar em até três vezes a produtividade do agronegócio em áreas em que a água é um recurso mais escasso”, afirma Pollyanna Penido, diretora de uma indústria brasileira de lonas.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Brasil responde por apenas 2,6% da área irrigada do mundo, apesar de deter cerca de 12% da água doce superficial do planeta. O país também abriga grandes aquíferos, o que indica um potencial significativo de expansão da irrigação.
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Uso no Matopiba
O uso de geomembranas tem sido observado com maior frequência em regiões como o Matopiba — área agrícola que abrange partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — onde as condições de clima e solo representam desafios adicionais à atividade agrícola.
A instalação de reservatórios com revestimento impermeável contribui para a previsibilidade da produção e permite melhor gestão dos recursos hídricos, inclusive possibilitando o bombeamento da água em horários de menor custo energético.
Essas membranas são geralmente fabricadas com polietileno de alta densidade (PEAD) ou de baixa densidade linear (PEBDL), materiais que oferecem resistência química, durabilidade e baixo impacto ambiental.
Em comparação com métodos tradicionais, como a compactação do solo ou o uso de concreto, o revestimento com geomembranas pode oferecer maior eficiência hídrica e menor risco de perda de água.
Estudos indicam que a intensificação das secas no Brasil tende a continuar. Um levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), baseado em 60 anos de dados climáticos, mostrou que o número de ondas de calor no país aumentou mais de quatro vezes nas últimas três décadas.
A pesquisa também registrou redução na média de chuvas em diferentes regiões do país, com quedas entre 10% e 40% no Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.