A iniciativa propõe soluções integradas para preservar o bioma e fortalecer atividades como pecuária, apicultura e piscicultura no Pantanal sul-mato-grossense (Foto: Divulgação)
A construção de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável para o Pantanal passa pela integração entre conservação ambiental, políticas públicas e a valorização das cadeias produtivas locais.
Essa é a premissa do Pacto do Pantanal, uma iniciativa que vem ganhando corpo no Mato Grosso do Sul e que conta com o apoio técnico de instituições como o Instituto Taquari Vivo (ITV).
Segundo o diretor executivo do ITV, Renato Roscoe, o pacto busca uma abordagem sistêmica para o desenvolvimento da região.
“As ações de conservação nas cabeceiras dos rios e no entorno do bioma são fundamentais para evitar problemas como o assoreamento, que já causou impactos severos no Rio Taquari. Ao mesmo tempo, discutimos formas de promover o desenvolvimento sustentável das cadeias produtivas na planície pantaneira, especialmente a pecuária”, explica
O Pantanal abriga uma diversidade de sistemas produtivos, e essa complexidade exige políticas públicas adaptadas.
“Temos lotações que variam de menos de 0,2 a 2 animais por hectare, o que mostra a complexidade do território. Por isso, as políticas precisam considerar essa diversidade e adaptar suas ações às diferentes realidades ambientais e socioeconômicas”, destaca Roscoe.
O Instituto Taquari Vivo tem atuado em projetos como o ProSolo Alto-Taquari e o ProSolo Bonito, focados na proteção das nascentes e na redução da carga de sedimentos que desce para os rios pantaneiros. A estratégia é preservar os cursos d’água que sustentam a vida e as atividades econômicas na planície.
Articulação entre governo e comunidades
A iniciativa conta com respaldo do governo estadual. Para a secretária-adjunta de Meio Ambiente do Estado de MS, Ana Trevelin, o grande mérito do pacto está na articulação entre diferentes esferas.
“A ideia é trabalhar de forma coordenada nos nove municípios do bioma, promovendo o desenvolvimento com respeito às comunidades locais e com foco na qualidade de vida e na conservação ambiental”, afirma.
O secretário executivo da Semadesc, Rogério Beretta, reforça que é preciso ampliar a visão sobre o território.
“O Pantanal é um importante berçário de bezerros que abastecem o restante do Estado. O que acontece lá impacta diretamente toda a cadeia produtiva sul-mato-grossense. Precisamos ter esse olhar interligado e de longo prazo”, ressalta.
Além da pecuária, o Pantanal abriga outras cadeias produtivas importantes, como a apicultura, piscicultura, equinocultura, ovinocultura e a criação de jacarés. Um mapeamento conduzido pela Rondon Consultoria identificou seis cadeias produtivas com relevância econômica no bioma.
“Foi feito um levantamento detalhado de todas as cadeias pecuárias existentes no Pantanal, aquelas com relevância econômica, e nós identificamos seis cadeias presentes. A bovinocultura, com grande pujança, é a maior e realmente tem uma significação muito grande economicamente, mas nós temos outras cadeias, como a criação de abelhas, a equinocultura, a ovinocultura, a piscicultura, a criação de jacarés, que também são relevantes e são existentes no bioma”, explicou o consultor Marcelo Rondon.
Os dados coletados subsidiarão políticas públicas e investimentos privados.
“O Pacto do Pantanal é uma ação guarda-chuva, e todo esse trabalho diagnóstico subsidia as ações que vão ser adotadas pelo programa. Todas essas iniciativas estão integradas dentro do plano de governo e contribuem para minimizar impactos e orientar o desenvolvimento sustentável da região”, afirmou.
A pecuária, carro-chefe da produção no Pantanal, vem ganhando reforço com o Programa Carne Sustentável e Orgânica do Pantanal, que já repassou mais de R$ 63,1 milhões em incentivos diretos aos produtores desde sua criação. Apenas entre 2022 e 2025, 554.774 animais foram abatidos, dos quais 96,4% se enquadraram no protocolo e receberam o incentivo.
“O valor médio do incentivo por animal, que era de R$ 86,26 em 2019, chegou a R$ 134,58 em 2025, o maior da série histórica”.
Os números reforçam a consolidação do Mato Grosso do Sul como referência em produção pecuária de baixo impacto ambiental. Só em 2024, foram R$ 20,5 milhões pagos, e em 2025 o valor já ultrapassa R$ 12,2 milhões — antes mesmo da metade do ano.
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Rastreabilidade e nova fase do protocolo
Durante o evento Pantanal Tech, em Aquidauana, o secretário Rogério Beretta destacou o amadurecimento da política pública.
“Por esse animal criado dentro desse protocolo, nós teríamos o que eu chamo do ideal: o governo pagando pelo programa de incentivo e o mercado remunerando, reconhecendo a importância dessa carne sustentável de qualidade que chega na gôndola dos supermercados e dos açougues nas grandes cidades e em todo o Brasil.”
Beretta também anunciou que o programa passará por uma revisão do protocolo de produção.
“A gente agora vai estabelecer esse programa de transição. Estamos, em conjunto com a ABPO analisando o que devemos implementar, a fim de continuar evoluindo dentro do programa Carne Sustentável e Orgânica do Pantanal”.
Conexão entre pecuaristas, mercado e inovação
Hoje, 147 propriedades estão cadastradas no programa, além de 90 responsáveis técnicos e 12 frigoríficos credenciados. A categoria de fêmeas 8 dentes foi a que mais recebeu incentivo no período, com 146.858 animais.
Para o diretor executivo da ABPO, Guilherme Oliveira, o programa já demonstra efeitos concretos.
“Temos um case de sucesso do Leonardo de Barros, que é nosso associado, que criou uma startup de carne, onde já vão lançar essa nova modalidade, que é a carne sustentável, isso já é uma representatividade do protocolo e a certificação que a gente busca, demonstrando que todo pecuarista dentro do Pantanal é capaz de acessar esses incentivos e esse protocolo para ter uma diferenciação do seu produto”.
Leonardo de Barros, pecuarista e proprietário da Biocarnes, endossa a importância da articulação entre poder público e iniciativa privada.
“Temos uma grande vitrine para o Pantanal, reunindo a comunidade pantaneira, o governo com a políticas públicas voltadas a incentivar a produção sustentável, e a ciência, por meio da academia. Então acho que é um ganha-ganha, que beneficia todo um setor”, afirma.
Fontes: Instituto Taquari Vivo e