Estruturas oferecem não apenas abrigo contra ameaças externas, como ajudam na proteção térmica e na manutenção do microclima.
Um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros na Reserva Natural Serra do Tombador, no interior de Goiás, revela que a interação entre besouros do gênero Actinobolus e os cupinzeiros – estruturas semelhantes a pequenos montes de terra onde vivem os cupins, comuns na paisagem do Cerrado – é capaz de gerar abrigo para diferentes espécies da fauna em situações adversas, como incêndios florestais.
Os cientistas descobriram que o besouro, ao depositar suas larvas no interior dos cupinzeiros, pode destruir colônias de cupins e modificar a “arquitetura” interna dessas construções naturais, facilitando o acesso de outros insetos, além de cobras, roedores e aves.
“Os cupinzeiros são conhecidos como ‘engenheiros de habitat’ por sua importância ecológica no Cerrado, transformando-se em abrigos para muitas espécies, especialmente durante incêndios florestais e períodos de seca”, afirma o biólogo Reuber Brandão, que coordenou o estudo.

Interação entre besouros e os cupinzeiros é capaz de gerar abrigo para diferentes espécies da fauna em situações adversas, como incêndios florestais. Foto: Reuber Brandão
O estudo mostrou, no entanto,que essa infestação ainda é rara, ocorrendo em apenas 2% dos cupinzeiros examinados. “Localizamos apenas 4 entre 179 cupinzeiros analisados, mas o impacto observado é bem significativo, pois a destruição do ninho pelos besouros facilita o acesso de animais de maior porte, que passam a usar as estruturas como abrigo”, explica o professor.
O cupinzeiro tem uma camada de terra externa muito resistente. Internamente, entretanto, onde fica o ninho dos cupins, o abrigo é mais maleável, feito de terra, fezes, saliva e matéria vegetal digerida. As estruturas oferecem não apenas abrigo contra ameaças externas, como ajudam na proteção térmica e na manutenção do microclima.
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Cenário e vulnerabilidade
O professor relata que ainda há muito a ser descoberto sobre o comportamento e o ciclo de vida do besouro do gênero Actinobolus. “A interação entre esses insetos e os cupinzeiros pode ser um fator importante na gestão de áreas sujeitas a incêndios florestais, que infelizmente tendem a se tornar mais frequentes com as mudanças climáticas”, alerta Brandão, e acrescenta que o estudo continuará a acompanhar o comportamento desses besouros e os efeitos de suas atividades nos ecossistemas do Cerrado.

Além de contribuir para a conservação da biodiversidade, a observação das interações entre as espécies na natureza pode inspirar soluções para a sociedade. Foto: Pixabay
Apesar do benefício para outras espécies, essa transformação gera consequências negativas a longo prazo na estrutura dos próprios cupinzeiros, que se tornam mais vulneráveis à erosão por chuva e ao desgaste provocado pelo fogo.
Diante dessa constatação, o pesquisador ressalta que, embora o número de cupinzeiros afetados pelo besouro do gênero Actinobolus seja baixo, o monitoramento a longo prazo é essencial.
Além de contribuir para a conservação da biodiversidade, Brandão sugere que a observação das interações entre as espécies na natureza pode inspirar soluções para a sociedade. “Imagine um prédio construído com a lógica dos cupinzeiros, capaz de resistir a condições climáticas adversas e criar um abrigo microclimático de forma natural. Muitas soluções para melhorar nossa qualidade de vida estão na observação da natureza”, conclui.