Pesquisa oferece panorama inédito sobre a pesca de espécies importantes para os recifes de coral (Foto: Carlos Hackradt/Projeto Budiões)
Um estudo recém-publicado na revista Reviews in Fish Biology and Fisheries trouxe novas perspectivas sobre a situação das populações de peixes-papagaio no Brasil, a partir do conhecimento ecológico local (CEL) de pescadores artesanais. A pesquisa coletou informações em 200 entrevistas realizadas em 14 comunidades do Nordeste, oferecendo um retrato das mudanças nas capturas dessas espécies ao longo dos últimos 70 anos.
Os resultados indicam que, apesar de adaptações nas estratégias de pesca — como a busca por áreas mais profundas e o aumento do esforço de captura —, pescadores relataram reduções na quantidade e no tamanho de algumas espécies de peixes-papagaio capturados, entre elas as espécies endêmicas Sparisoma axillare, Sparisoma frondosum e Scarus trispinosus.
“Esses peixes desempenham um papel crucial na manutenção da saúde dos recifes, ao abrir espaço para novos organismos enquanto se alimenta. O que observamos, com base nos relatos dos pescadores, é uma tendência de declínio, que merece atenção”, explica a autora principal do estudo, Luísa Queiroz Véras.

Conforme explica a autora do estudo, Luísa Queiroz Véras (foto), esses peixes desempenham um papel crucial na manutenção da saúde dos recifes, ao abrir espaço para novos organismos enquanto se alimenta. Foto: Divulgação
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Cenário
Algumas dessas espécies, segundo Luísa, já constam em listas de conservação. Desde 2012, o Scarus trispinosus, conhecido como budião-azul, integra a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), e outras, como Sp. axillare, Sp. zelindae e Sp. frondosum, foram classificadas como vulneráveis pelo Ministério do Meio Ambiente. A pesquisa aponta que a fiscalização e as regulamentações ainda enfrentam desafios para garantir a efetiva recuperação dessas espécies.
O estudo também destaca o crescimento da pesca com armadilhas nas últimas décadas, especialmente voltada a espécies como Sp. axillare e Sp. frondosum. Segundo os autores, essa prática pode estar ocultando sinais de declínio ao acessar áreas mais profundas. “Este é o primeiro levantamento nacional com base no conhecimento histórico de pescadores sobre a pesca de peixes-papagaio. Essa abordagem é essencial para embasar ações de manejo que sejam eficazes e participativas,” reforça o coautor do estudo, João Feitosa

Desde 2012, o budião-azul, integra a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Foto: Carlos Hackradt/Projeto Budiões
Os cientistas fazem parte do Projeto Budiões, que trabalha pela conservação dos peixes-papagaio e recifes de coral brasileiros, com apoio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. A iniciativa promove a integração entre comunidades locais, pesquisadores e gestores públicos.
As informações do estudo devem contribuir para o novo plano de ação federal para a conservação dos peixes-papagaio, atualmente em desenvolvimento. Entre as recomendações dos autores estão o fortalecimento do monitoramento, a melhoria na rotulagem de pescado para exportação e a construção de estratégias adaptadas às realidades locais, com participação ativa das comunidades pesqueiras.