Além de cultivares, a Embrapa tem investido em processos tecnológicos que impactam diretamente a produção e a sustentabilidade da cultura
Presente no prato de milhões de brasileiros, a mandioca é muito mais do que um alimento tradicional. É uma cultura estratégica para a agricultura nacional, desempenhando papel essencial na segurança alimentar, na geração de renda e no fortalecimento da agricultura familiar — especialmente no bioma Cerrado.
Josefino de Freitas Fialho, pesquisador da Embrapa Cerrados informa que a mandioca pertence à espécie Manihot esculenta Crantz e se destaca por sua rusticidade, produtividade e capacidade de adaptação a diferentes condições ambientais.
“Das 98 espécies do gênero Manihot, é a única cultivada economicamente, capaz de armazenar até 50% da biomassa nas raízes, principalmente na forma de amido”, explica.
Ele completa que “por conta de sua ampla variabilidade genética, é cultivada em diferentes solos e climas, ocupando hoje o posto de sétima cultura mais produzida no mundo — são quase 300 milhões de toneladas por ano”.
Estima-se que cerca de 800 milhões de pessoas dependam da mandioca como principal fonte calórica, principalmente em países em desenvolvimento. No Brasil, a cultura está presente em todos os estados, com destaque para a agricultura familiar, que responde por mais de 85% da produção nacional. São cerca de 18 milhões de toneladas colhidas anualmente em 1,3 milhão de hectares.

Presente no prato de milhões de brasileiros, a mandioca é muito mais do que um alimento tradicional Foto Fabiano Bastos/Embrapa Cerrados/Divulgação
O desafio de cultivar no Cerrado
O pesquisador da Embrapa Eduardo Alano Vieira conta que, nos anos 1970, quando o Cerrado começou a ser explorado para a agricultura, surgiram desafios significativos: solos pobres em nutrientes, clima com verões secos e longos períodos de estiagem. A mandioca, por sua resistência e baixo custo de produção, mostrou-se uma excelente alternativa para os agricultores. “No entanto, as variedades então disponíveis tinham baixa produtividade e eram vulneráveis a doenças como a bacteriose, além de estarem inseridas em sistemas pouco tecnificados”, salienta.
Segundo ele, foi nesse cenário que a pesquisa da Embrapa Cerrados se destacou. Em parceria com outras instituições, a Unidade liderou um esforço contínuo de pesquisa e desenvolvimento, focado em adaptar e aprimorar o cultivo da mandioca no bioma. O resultado? Variedades mais produtivas, resistentes a pragas e doenças e adaptadas ao solo e ao clima do Cerrado.
LEIA TAMBÉM
Consórcio de feijão mangalô e milho crioulo fortalece tradições e garante segurança alimentar

No Brasil, a cultura está presente em todos os estados, com destaque para a agricultura familiar, que responde por mais de 85% da produção nacional Foto Breno Lobato/Embrapa Cerrados/Divulgação
Cultivares de destaque
Vieira informa que, entre as cultivares de destaque selecionadas e recomendadas para a região estão as variedades de mesa resistentes à bacteriose, como a IAC 24-2 (Mantiqueira), IAC 352-6 e IAC 352-7 (Jaçanã), lançadas nos anos 1980 e 1990. “Também se destacam as cultivares industriais IAC 12-829, IAC 7-127 (Iracema), Sonora, EAB-81 e EAB-653, todas com excelente desempenho em produtividade e resistência à bacteriose — principal doença da mandioca no Cerrado”, diz.
Ele informa ainda que, a cultivar IAC 12 (IAC 12-829), por exemplo, tornou-se amplamente adotada devido à sua alta produtividade, resistência a doenças e pragas, além do elevado teor de matéria seca. É hoje a principal fonte de matéria-prima para a produção de farinha e polvilho em diversas comunidades do Cerrado.
O pesquisador destaca também que, no mercado da mandioca de mesa, cultivares como Pioneira (IAPAR 19), BRS Moura, BRS Japonesa e Japonesinha (IAC 576-70) conquistaram os agricultores e consumidores do Distrito Federal e Entorno.
“Essas variedades, com raízes de polpa amarela ricas em betacaroteno, combinam alta produtividade, excelente qualidade culinária e forte apelo nutricional”, enfatiza.

Raízes desintegradas e secas ao sol são excelente alternativa alimentar para monogástricos e ruminantes Foto Joselito Motta Embrapa/Divulgação
Segundo Vieira, recentemente, a Embrapa lançou seis novas cultivares de mesa adaptadas ao Cerrado, com raízes coloridas e alto valor nutricional: três com polpa amarela e alto teor de betacaroteno BRS 396, BRS 397 e BRS 399, uma com raiz creme (BRS 398) e duas com raízes rosadas ricas em licopeno (BRS 400 e BRS 401). Essas foram as primeiras cultivares de mandiocas da Embrapa, desenvolvidas para as condições de Cerrado, protegidas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Também se destacam, de acordo com informação do pesquisador, a BRS 429, de alta qualidade culinária, e as cultivares industriais BRS 417, BRS 418 e BRS 419, com raízes ricas em matéria seca, ideais para a produção de fécula e farinha. Já a BRS 438 tem raízes açucaradas, com potencial para fabricação de xaropes, cachaça e cervejas.
“Além das cultivares, a Embrapa Cerrados tem investido em processos tecnológicos que impactam diretamente a produção e a sustentabilidade da cultura. Entre eles, estão a adubação e correção do solo, o uso da mandioca na alimentação animal, o manejo eficiente da irrigação, manejo de plantas daninhas, a cobertura plástica do solo no cultivo de mandioca de mesa e as tecnologias de conservação pós-colheita, fundamentais para manter a qualidade das raízes e garantir regularidade no fornecimento à indústria”, reforça Vieira.
LEIA TAMBÉM
Feijão guandu pode reduzir custos de alimentação de rebanhos

Cultivares industriais BRS 417, BRS 418 e BRS 419, com raízes ricas em matéria seca, ideais para a produção de fécula e farinha Foto Breno Lobato/Embrapa Cerrados/Divulgação
Uma conquista coletiva
Todo esse avanço só foi possível graças ao trabalho conjunto com parceiros como a Fundação Banco do Brasil (FBB), CNPq, Emater-DF, Emater-GO, Emater-MG, Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu) e, claro, os produtores rurais. Com apoio da assistência técnica e extensão rural, esses agricultores vêm adotando novas práticas e tecnologias que impulsionam a sustentabilidade e a competitividade da cadeia produtiva da mandioca no Cerrado.
Fonte: Embrapa Cerrados
Foto abertura: Colheita manual mandiocas cultivares industriais BRS 417-BRS 418 BRS 419 em Bela Vista de Goiás-GO- Foto Breno Lobato- Embrapa Cerrados/Divulgação