Projeto une saberes tradicionais e inovação agrícola em busca de sistemas produtivos mais sustentáveis e eficientes (Foto: Mila Cristian/Epamig)
O cultivo consorciado — técnica agrícola que aposta no plantio simultâneo de diferentes culturas em uma mesma área — está no centro de uma nova pesquisa desenvolvida pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). A proposta é estudar os benefícios da integração entre o feijão mangalô e o milho crioulo, resgatando práticas ancestrais, otimizando recursos e contribuindo para a segurança alimentar.
“O resgate e manutenção dos milhos crioulos vem sendo realizado por produtores e empresas de pesquisa e, diante disso, vimos como uma oportunidade de inserção do cultivo do feijão mangalô, uma espécie que faz parte do grupo das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC)”, explica Marinalva Woods, pesquisadora da Epamig.
A escolha das espécies não é aleatória. Ambas têm origem em sistemas agrícolas tradicionais e compõem o modelo MILPA, prática milenar das comunidades indígenas mesoamericanas que consorcia milho, feijão e abóbora. A pesquisadora destaca que essa é uma forma de unir “saberes tradicionais a práticas agrícolas eficientes”.
Sustentabilidade no campo
Os primeiros testes do projeto estão sendo conduzidos no Campo Experimental de Santa Rita, em Prudente de Morais (MG). Embora ainda em fase inicial, os resultados são promissores. A presença de insetos benéficos e o bom desenvolvimento das plantas, sem incidência de pragas ou doenças, indicam que o sistema tem potencial para promover um equilíbrio natural no cultivo.
Além disso, a pesquisa busca avaliar como o consórcio pode contribuir para a adaptação das lavouras às mudanças climáticas. Nesse aspecto, o feijão mangalô se mostra um aliado importante por sua capacidade de fixar nitrogênio no solo e fornecer boa cobertura vegetal, o que ajuda a preservar a umidade e favorece o crescimento do milho.
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Benefícios múltiplos

O sistema MILPA, modelo sustentável que combina o plantio consorciado de milho, feijão e abóbora. Foto: Mila-Cristian/Epamig
Mais do que ganhos agronômicos, a proposta também pode trazer impactos sociais e econômicos. Segundo a Epamig, o cultivo consorciado pode reduzir o uso de insumos químicos, diversificar a renda do agricultor, melhorar o aproveitamento da mão de obra e tornar o uso da água mais eficiente — um recurso cada vez mais valioso frente à crise hídrica.
Outro ponto importante é o fortalecimento da segurança alimentar e nutricional, ampliando a variedade de alimentos acessíveis à população.
“A pesquisa de cultivos consorciados busca reforçar a importância de se valorizar os conhecimentos tradicionais, e entender e favorecer interações positivas é o papel da pesquisa. Considerando a diversidade de plantas que temos, principalmente no contexto das PANC, acreditamos que estamos no caminho, mesmo que longo, para gerar informações e melhores condições de cultivo para os produtores”, pontuou Marinalva.
A expectativa é de que os resultados da pesquisa ofereçam novas perspectivas para a agricultura familiar e estimulem práticas agrícolas mais resilientes, sustentáveis e alinhadas com a cultura e biodiversidade brasileira.