Práticas sustentáveis no agronegócio, como o plantio direto, podem aumentar o estoque de gases de efeito estufa no solo. Foto: Maurício Chreubin
O solo desempenha um papel essencial na regulação climática por meio do sequestro de carbono orgânico, processo em que o CO2 é retirado da atmosfera pelas plantas e armazenado no solo.
Práticas como o plantio direto, a recuperação de pastagens degradadas e sistemas integrados de produção agropecuária são amplamente reconhecidas por sua eficácia no aumento do estoque de carbono no solo, aponta estudo inédito publicado durante a 29ª Conferência das Partes (COP 29), realizada em Baku, Azerbaijão.
Pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON/USP), do Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura (IICA) e da Ohio State University (OSU) revisaram mais de 13 mil estudos para avaliar o impacto de diferentes sistemas de manejo sobre a dinâmica de carbono no solo.
O estudo apontou que em cerca de 1,11 bilhão de hectares ocupados por sistemas agrícolas, as Américas apresentam um enorme potencial para expandir essas práticas e mitigar as mudanças climáticas.
Maurício Cherubin, professor da Esalq e vice-coordenador do CCARBON/USP, aponta que a adoção dessas práticas em 30% da área agrícola da região, aproximadamente 334 milhões de hectares, poderia sequestrar 13,1 (±7,1) Pg CO2eq em um período de 20 anos.
Isso equivale a mitigar cerca de 40% das emissões de GEE do setor agropecuário no mesmo período.
“Os resultados são promissores e podem ser ampliados com práticas mais eficientes e o aumento da área manejada”, afirma Cherubin.
Necessidade de dados padronizados
Apesar dos avanços, o estudo aponta a necessidade de mais dados, especialmente em regiões como América Central, Caribe e Andes. A padronização de protocolos de amostragem, incluindo análises em camadas mais profundas do solo (até 100 cm), é essencial para refinar as estimativas e reduzir incertezas.
Carlos Eduardo Cerri, professor da Esalq e coordenador do CCARBON/USP, reforça a importância de direcionar recursos para o monitoramento e priorizar áreas com baixa disponibilidade de informações.
O estudo, publicado na revista Frontiers in Sustainable Food Systems, integra a iniciativa Living Soils of the Americas, em colaboração com o IICA e financiado pela FAPESP.
Segundo Muhammad Ibrahim, Diretor de Cooperação Técnica do IICA, os resultados fornecem subsídios importantes para a formulação de políticas climáticas nos países das Américas, e representam um passo significativo para enfrentar as mudanças climáticas por meio da agricultura.