Promissor, nanopesticida precisa passar por novos testes antes de chegar ao mercado
Um inseticida mais eficaz e sustentável foi desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente (SP) em parceria com o Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Marcia Assalin, analista da Embrapa e coordenadora do estudo conta que trabalho resultou em um sistema de liberação controlada da molécula inseticida tiametoxam.
“O encapsulamento foi realizado em nanomicelas poliméricas, estruturas menores que um bilionésimo de metro, ou seja, mais de 80 mil vezes menor do que a espessura de um fio de cabelo”, explica.
Mais eficaz
Ela ressalta que estudos mostraram que a aplicação de nanopesticidas pode ser muito mais eficaz em comparação com os pesticidas convencionais já existentes e poderá, em futuro próximo, substituí-los completamente.
“Os nanomateriais apresentam propriedades físicas, químicas e biológicas únicas, diferentes das características dos mesmos materiais em escalas maiores, devido ao aumento da razão superfície-volume e dos efeitos quânticos”, afirma.
Segundo a pesquisadora, nanopesticidas referem-se a formulações que utilizam nanomateriais em sua composição e que apresentam elevada eficiência de aplicação e menos efeitos tóxicos ao ambiente em comparação com as formulações convencionais do mesmo ingrediente ativo.
Ela completa que nesse trabalho, “o método de formulação utilizado foi o nanoencapsulamento do ingrediente ativo estudado, resultando em uma liberação sustentada pelas nanopartículas, elevada estabilidade e especificidade.”
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Menor dose
A analista da Embrapa revela que os resultados do estudo – que contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) – indicaram que as nanoestruturas foram eficazes com uma dose aproximadamente duas vezes menor comparada às formulações comerciais.
Marcia detalha que a eficiência do nanoinseticida foi avaliada por meio do controle, em casas de vegetação, do inseto (Diaphorina citri), responsável pela disseminação do greening, também conhecido como huanglongbing e HLB, causado pela bactéria Candidatus Liberibacter spp.
“A doença acomete todas as plantas cítricas e não tem cura: uma vez contaminada, não é possível eliminar a bactéria da planta, que fica agindo como fonte de inóculo para contaminação de outras plantas”, explica.
Menos custos e menos impacto ambiental
A especialista desataca que, “além de aumentar a eficiência, o novo produto pode levar a uma redução do número de aplicações, atenuação no desenvolvimento de resistência das pragas ao inseticida, e diminuição do impacto ambiental e dos custos associados”.
Práticas agrícolas mais sustentáveis
De acordo com Ljubica Tasic, professora da Unicamp, o nanoinseticida apresentou reduzida toxicidade a organismos aquáticos utilizados em estudos de avaliação de ecotoxicidade (Raphidocelis subcapitata e Artemia salina).
Por isso, ela acredita que o produto obtido representa uma das maneiras pelas quais a nanotecnologia pode promover práticas agrícolas mais sustentáveis.
A professora ressalta que a agricultura, para ser considerada sustentável, deve garantir, às gerações futuras, a capacidade de suprir as necessidades de produção e qualidade de vida no planeta.
“Para isso, deve ser capaz de aumentar o rendimento agrícola, utilizando menos recursos, ao mesmo tempo em que reduz seu impacto ambiental e assegura a saúde dos ecossistemas de apoio, de forma a garantir a continuidade e qualidade dos recursos naturais necessários para a produção de alimentos”, orienta.
O tiametoxam e o greening
Marcia Assalin conta que o greening é uma das mais importantes e devastadoras doenças dos citros da atualidade.
“A sua severidade se dá principalmente pela rápida e eficiente disseminação das bactérias pelo inseto Diaphorina citri e pela ausência de resistência genética em citros”, revela.
E, segundo informação da pesquisadora, o tiametoxam, um dos princípios ativos utilizados no controle da doença, pertence a uma classe relativamente nova de inseticidas, os neonicotinodes, que estão no mercado desde o início dos anos 1990 e integram a lista dos produtos agrotóxicos mais vendidos.
“Esse produto químico apresenta elevada solubilidade em água, potencial de lixiviação e rápida degradação por fotólise, isto é, o processo de degradação de moléculas orgânicas por meio de luz”, esclarece.
Ela afirma que, na aplicação do inseticida convencional, inúmeras perdas podem ocorrer devido a diversos fatores, como técnicas de aplicação utilizadas, condições ambientais, degradação por fotólise e lixiviação.
“Isso leva a repetidas aplicações, resultando no uso de inseticidas em quantidades maiores do que o necessário para controlar o inseto vetor.”
Insetos polinizadores
Assim, segundo a especialista, acarreta uma série de problemas, como aumento do custo do tratamento, contaminação de corpos aquáticos superficiais e subterrâneos, risco de desenvolvimento de resistência do psilídeo ao inseticida, além de representar risco para a saúde humana e para invertebrados aquáticos.
“Além disso, é extremamente importante ressaltar que os inseticidas neonicotinoides são altamente tóxicos para insetos polinizadores como as abelhas, tendo sido banidos dos campos da União Europeia por esta razão”, sublinha.
Marcia acentua que formulações de pesticidas nanoencapsulados permitem a liberação controlada do ativo, bem como proteção contra sua degradação prematura, possibilitando o uso do inseticida convencional de maneira mais eficiente e sustentável.
“Por isso, avaliar a efetividade de formulações de pesticidas encapsulados é essencial para viabilizar seu uso na agricultura”.
Em sua opinião, estudos sobre os possíveis impactos nos seres humanos e no meio ambiente devem ser realizados.