O solo, quando cultivado com pastagens perenes, pode emitir cerca de duas vezes menos óxido nitroso em comparação a pastagens anuais estabelecidas com o revolvimento do solo (Foto: Epagri)
Um estudo de cinco anos realizado na Estação Experimental da Epagri em Lages, Santa Catarina, vem trazendo luz à questão da pecuária leiteira e suas implicações no combate às mudanças climáticas.
Conduzido como parte do projeto estadual Pecuária ConSCiente Carbono Zero, o estudo demonstra que o solo, quando cultivado com pastagens perenes, pode emitir cerca de duas vezes menos óxido nitroso em comparação a pastagens anuais estabelecidas com o revolvimento do solo.
Esse gás, juntamente com o dióxido de carbono (CO2) e o metano, são responsáveis pelo efeito estufa, mas é cerca de 300 vezes mais potente que o CO2 no aquecimento do planeta.
A pesquisa avaliou diferentes sistemas de produção animal. O coordenador do projeto, Tiago Baldissera, explica a importância dessas pesquisas para a realidade catarinense, onde ainda faltam informações sobre as emissões de Gases do Efeito Estufa e o sequestro de carbono dos sistemas de produção animal.
Segundo ele, tais dados são cruciais para a escolha de práticas produtivas que contribuam efetivamente para a mitigação das emissões de GEE.
“Atualmente, inexistem informações sobre a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) e do sequestro de carbono desses sistemas para a realidade catarinense. Essas informações são de extrema importância, explica Baldissera.
Pecuária tem papel importante na redução das emissões
Um dos grandes desafios enfrentados pela pecuária é o fato de que ela é responsável por uma parcela significativa das emissões de GEE, principalmente devido à produção de metano durante o processo digestivo dos bovinos e ao óxido nitroso proveniente da aplicação de fontes nitrogenadas no solo.
A agropecuária responde por cerca de 12% das emissões desses gases no mundo e, no Brasil, a pecuária responde por 76% das emissões do setor agropecuário.
O metano é produzido durante o processo de digestão dos bovinos e o óxido nitroso é oriundo da aplicação de fontes nitrogenadas no solo, como os dejetos dos animais (esterco e urina) e de fertilizantes minerais, como a ureia.
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No entanto, Baldissera ressalta que a pecuária também pode desempenhar um papel importante no sequestro de carbono, especialmente em pastagens bem manejadas. Ele destaca que práticas de manejo do solo e da pastagem podem resultar em um balanço positivo de carbono, compensando totalmente as emissões de GEE.
“O sequestro de carbono pode compensar totalmente as emissões de GEE. O relatório brasileiro de 2020 do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases do Efeito Estufa aponta que no ano de 2019 o balanço de carbono em pastagens bem manejadas foi negativo, enquanto que pastagens degradadas emitiram esse gás. Por isso, boas práticas de manejo do solo e da pastagem devem ser adotadas”, salienta.