Relatório do Fórum Econômico Mundial, “O Cerrado: Produção e Proteção” (em tradução livre) recomenda uma abordagem multissetorial focada na proteção da rica biodiversidade da região (Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília)
Um novo modelo de crescimento econômico no Cerrado brasileiro poderia criar US$ 72 bilhões por ano para a economia do país, equilibrando medidas de proteção ambiental, enquanto impulsiona a produção sustentável de alimentos, aumenta empregos e turismo e aproveita as indústrias verdes, de acordo com um novo relatório do Fórum Econômico Mundial.
O Cerrado é um celeiro global, respondendo por 60% da produção agrícola do Brasil e 22% das exportações globais de soja. No entanto, ele recebe significativamente menos atenção e proteção legal do que a floresta amazônica, resultando em um aumento de 43% no desmatamento no Cerrado no ano passado, em comparação com uma queda de 50% na Amazônia, de acordo com dados do governo.
O desmatamento para produção agrícola já eliminou metade da vegetação nativa do Cerrado. Se as tendências atuais continuarem, as produções de soja, gado, cana-de-açúcar e milho poderão sofrer consequências, causando escassez mundial de alimentos e extensos danos econômicos.
À medida que o Brasil se prepara para sediar a Cúpula do G20 e a COP30 neste ano, está bem posicionado para se destacar como líder climático ao liderar uma abordagem equilibrada que apoie o setor agrícola do país enquanto protege o Cerrado.
O relatório, O Cerrado: Produção e Proteção (em tradução livre), desenvolvido pela iniciativa Tropical Forest Alliance do Fórum Econômico Mundial em colaboração com a Systemiq, identificou que US$ 72 bilhões poderiam ser adicionados ao PIB do Brasil a cada ano até 2030, com base em uma análise de dados no Plano de Transformação Ecológica do Brasil, restaurando terras degradadas e aumentando a quantidade de áreas protegidas no Cerrado.
“O Cerrado é a maior e mais biodiversa savana do mundo, tornando-a um dos ecossistemas mais importantes do nosso planeta – e ainda assim ele recebe pouca atenção e menos proteção legal do que precisa. Isso resultou em uma degradação significativa da terra e exploração, que representa uma grande ameaça para os sistemas alimentares dos quais bilhões de pessoas em todo o mundo dependem”, afirma Jack Hurd, Diretor Executivo da Tropical Forest Alliance.
“Este relatório tem como objetivo iniciar uma discussão muito necessária entre os formuladores de políticas do Brasil, agroindústria e outros tomadores de decisão-chave sobre como podemos implementar um novo modelo agrícola na região – um que simultaneamente amplia a produção, aprimora a biodiversidade e garante os benefícios dos ecossistemas para as gerações atuais e futuras, e protege as comunidades indígenas e locais”, pontua.
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Métodos de produção sustentável
Baseando-se em pesquisas abrangentes e entrevistas com especialistas brasileiros, o documento propõe várias soluções, incluindo métodos de produção sustentável como agrofloresta e agricultura regenerativa, que criarão condições mais saudáveis para o crescimento dos alimentos, aumentarão a produtividade e resultarão em maiores lucros e mais empregos.
Além de ser uma potência agrícola, o Cerrado também tem um enorme potencial para bioenergia – energia derivada de plantas e outros recursos naturais – e já abriga um terço das instalações de biogás do Brasil.
Com a bioenergia destinada a desempenhar um papel fundamental no futuro sistema energético global, o relatório delineia como a indústria poderia ser escalada de forma sustentável no Cerrado, o que poderia abrir oportunidades para o Brasil em mercados em crescimento, como combustível de aviação sustentável e hidrogênio verde.
O novo modelo exigirá uma maior colaboração entre o setor público e privado e ação de todo o setor alimentício e além, incluindo formuladores de políticas, empresas, instituições financeiras e empresas de tecnologia.
Patricia Ellen da Silva, sócia da Systemiq no Brasil, destaca que, “com os olhos do mundo voltados para o Brasil na preparação para o G20 e a COP30, o país tem uma oportunidade única de se posicionar como líder em ação climática e de natureza integrando a segurança alimentar e a proteção da natureza na agenda do Cerrado, um dos biomas mais importantes do mundo”.
“O Cerrado deve estar no centro da transformação global dos sistemas alimentares e da produção de energia, bem como das estratégias e tecnologias de conservação da natureza. Isso não será uma tarefa simples, mas ao aumentar a conscientização sobre a importância do bioma e a conexão entre produção e proteção, este documento nos colocará em um caminho para um Cerrado mais sustentável.”
Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica do Banco Safra, Brasil afirma que “a agricultura no Cerrado é um sucesso extraordinário”.
Segundo ele, as atividades agropecuárias no bioma ajudam “a alimentar bilhões ao redor do mundo. À medida que o setor se torna mais robusto, muitas pessoas no Brasil, incluindo agricultores, acreditam que é o momento certo para abordar e minimizar seu impacto no meio ambiente para garantir a sustentabilidade dessa abundância para as próximas gerações”.