Destaque entre os bioinsumos, os biodefensivos, também conhecidos como produtos biológicos de controle (PBC), incluem bioinseticidas, biofungicidas, bionematicidas.
O principal objetivo dos PBCs é eliminar a praga alvo sem impactar no meio ambiente, permitindo a manutenção de insetos benéficos na lavoura (inimigos naturais) e diminuindo a dependência de aplicações constantes de outros insumos, como os agrotóxicos.
Amália Borsari explica que os biodefensivos se dividem em quatro grandes categorias:
- Microbiológicos: “são produtos formulados à base de ingredientes vivos que estão na forma viva. Nesta categoria entram cepas de fungos, cepas de bactérias e vírus”.
- Macrobiológicos: “são produtos à base de insetos, ovos de insetos e ácaros”.
- Semioquímicos: “são o feromônios liberados para confusão sexual, na comunicação entre os insetos, ou produtos que atuam como armadilhas”.
- Bioquímicos: “são os metabólitos dos microorganismos, como se fosse uma substância excretada por microorganismos, ou também extratos e hormônios vegetais
Microbiológicos
Empresa do agro especializada em soluções biológicas, a Biotrop aposta nos microbiológicos.
“Nós estamos muito focados nos microbiológicos, ou seja, fungos, bactérias, leveduras, vírus, enfim, todos os organismos benéficos para agricultura, particularmente em bactérias, que é o nosso forte”, destaca Antonio Carlos Zem, CEO da companhia.
Ele sublinha que a Biotrop também se concentra nos produtos naturais “e aí nós incluímos os extratos botânicos, a utilização de algas, particularmente derivados de alga marinha”, revela, acrescentando que “estão vindos outros produtos muito interessantes, se criando uma nova geração que vai tomar um espaço muito grande”.
Segundo Zem, agora é a hora e a vez dos biológicos na agricultura brasileira. “Os biológicos estiveram aí por muito tempo, mas agora eles têm qualidade e respaldo e ‘vida de prateleira’, hoje fator muito importante nos produtos por poderem ficar no mercado dois, três anos, ou mais tempo”, explica.
Exemplos no campo
O CEO destaca usos de produtos biológicos já consolidados no agro brasileiro. “A cana-de-açúcar tem uma tradição muito grande na utilização de controle biológico, particularmente com parasitas e parasitóides, Cotesia flavipes e Trichogramma galloi. Nós estamos falando de cerca de 9 milhões de hectares em que já se utiliza essa técnica”, diz.
Zem ressalta que “no pico de ocorrência da lagarta helicoverpa no Brasil, mais de 18 milhões de hectares foram tratados com Bacillus thuringiensis”.
“Eu creio que já estamos voltando a esse número à medida em que aumenta o uso de Bacillus thuringiensis como inseticida. No mercado de grãos, por exemplo, os bionematicidas já são prevalentes, já dominam esse mercado em mais de 90% e temos também cerca de 12 milhões de hectares tratados com Trichoderma, particularmente para manejo de doenças no solo”, destaca.
O executivo também lembra que o Brasil já tem uma larga adoção de organismos fixadores de nitrogênio. “Nós estamos hoje nesse mercado em grãos, soja e milho que já há praticamente 90% da adoção, tanto de bradyrhizobium como de azospirillum na semente”.
Segundo o CEO da Biotrop, também está crescendo muito a coinoculação, ou seja, colocar os dois microorganismos na aplicação no sulco de plantio.
“A aplicação em sulco de plantio dá uma resposta muito boa e estamos fazendo cinco doses de bradyrhizobium, mais duas doses de azospirillum. O azospirillum é notável e estamos descobrindo mais e mais mecanismos de ação”.
Zem sublinha que “o azospirillum é interessante não somente na fixação biológica de nitrogênio, mas é um grande produtor de ácido endoacético, um hormônio de crescimento”, ensina.
Biológicos nas pastagens
Além disso, segundo o especialista, os biológicos estão chegando massivamente nas pastagens que, até recentemente, estavam muito mais no controle da cigarrinha, no uso de Beauveria e de outros fungos. “Já temos evidências científicas bem claras de que o gado ganha peso quando os biológicos são aplicados nas pastagens”, salienta.
Zem adianta que a Biotrop também está preparando o lançamento de um programa nessa área.
Superbioestimulantes
O CEO da empresa acredita que, pela frente, ainda irão vir os superbioestimulantes e a entrada forte no mercado de extratos botânicos. “Os extratos botânicos oferecem perspectivas numa área que nós nunca falamos que são os bioherbicidas”.
De acordo com Zem, já existem produtos promissores chegando na área de bioherbicidas, com extratos botânicos, “inclusive um carrapaticida baseado em plantas”, avalia.
Macrobiológicos
Para Gustavo Herrmann, diretor da Koppert do Brasil, o macrobiológico é um pouco distante ainda da maioria das pessoas que trabalham nesse mercado de proteção de plantas.
“Diferentemente do micro que vai envasado como um produto tradicional, o macro são insetos. Eles fazem o trabalho de inimigos naturais. Ou seja, uma vez liberados na agricultura, eles controlam as pragas-alvo”.
Herrmann chama a atenção para o uso consorciado de produtos biológicos e químicos. “O conceito do Manejo Integrado de Pragas-MIP não é novo mas, a partir da utilização dos biológicos, começa a se tornar realidade”.
Ele cita o exemplo da cadeia de soja, que “diferentemente de lá trás, quando se tentava substituir o produto químico por um biológico, a gente trabalha agora num conceito de integrar os biológicos a todo um sistema de proteção da cultura do nosso cliente”.
Um bom exemplo é o “pretiobug”, ou Trichogramma pretiosum, uma microvespa capaz de combater a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), assim como a Lagarta-do-cartucho-do-milho (Spodoptera frugiperda), e a Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens).
O diretor da Koppert do Brasil explica que “as fêmeas pretiobug localizam no campo os ovos do hospedeiro e, neles, depositam seus ovos, interrompendo o desenvolvimento da praga logo no início do seu ciclo, tornando-os de coloração escura e dando origem a novas vespas, ao invés de lagartas. Este processo demora de 7 a 12 dias, dependendo da temperatura do ambiente”.
Sustentabilidade
Segundo Herrmann, hoje, também na cultura da cana-de-açúcar, a Koppert do Brasil procura integrar seu conceito e suas ferramentas à questão da sustentabilidade.
Para ele, a utilização de agentes macrobiológicos poderia, da mesma forma, favorecer os produtores de cana na emissão de Cbios (Créditos de descarbonização), no âmbito do Renovabio. “Uma vez que diminuem a utilização de químicos e o consequente impacto ambiental”, sublinha.
“Você pode pensar, por exemplo, que, no nosso negócio, em breve, poderemos liberar um milhão de hectares de macro biológicos por drones. Isto é, será um milhão de hectares onde não haverá nenhum produto químico sequer”.
O diretor da Koppert, conclui seu raciocínio afirmando que “uma aplicação de biológico no campo, hoje, tem uma pegada negativa de carbono muito interessante, e isso pode ser convertido em CBio para o cliente que cultiva cana-de-açúcar”.
Ele cita como exemplo o “Galloibug” (Trichogramma galloi), um agente biológico de controle utilizado no manejo da broca-da-cana (Diatraea saccharalis). “O agente é ideal para áreas com alto índice de infestação (11%), e pode ser consorciado ao uso de Cotesia flavipes”.
Herrmann finaliza explicando que “como não possui efeitos tóxicos ao meio ambiente ou a saúde humana, o produto promove uma agricultura sustentável, e é ideal para o manejo integrado de lagartas e administração de resistência aos defensivos químicos”.
Redação A Lavoura