Embutido de lombo suíno cru preserva a essência da receita passada pelos imigrantes de geração em geração
Originário da região do Vêneto, no nordeste italiano, o socol, um tipo de presunto cru, tem uma relação especial com a história de Venda Nova do Imigrante, cidade localizada no interior do Espírito Santo.
Os imigrantes italianos que se instalaram no município trouxeram com eles a tradição de preparar essa iguaria para celebrar ocasiões especiais. Porém, esse foi apenas o começo da história.
Com a promoção do agroturismo no município, o aperitivo ganhou visibilidade e espaço no mercado para complementar a renda das famílias desses imigrantes. O resultado é que, em 2022, o socol celebra, pelo quarto ano seguido, a certificação de Indicação Geográfica (IG), na espécie Indicação de Procedência (IP), registro concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), aos produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem.
A área a ser considerada como indicação de procedência está localizada na parte nordeste do município de Venda Nova do Imigrante, localizado no Estado do Espírito Santo, abrangendo as regiões de: Alto Bananeiras, Bananeiras, Lavrinhas, Sede, Tapera, Alto Tapera, Santo Antônio da Serra e Providência. “O socol é um bem do Município que tem muita história. Ele ganhou espaço, visibilidade, capacitação e a indicação geográfica. A produção desse tipo de embutido atrai turistas e pretendemos ampliar o acesso a isso”, destaca Jorge Uliana, secretário Municipal de Turismo, Cultura e Artesanato.
Socol
O nome socol está relacionado com a forma tradicional de produção do embutido: amarrado em tiras que remetiam às vértebras do pescoço do porco, passou a ser chamado de so colli, que, no dialeto do Vêneto, região italiana de origem de muitos imigrantes, é como se denominam os ossos do pescoço. Com o tempo, no Brasil, o nome do produto derivou para socol.
Essa iguaria é um tipo de embutido de lombo suíno cru, temperado com sal, pimenta e alho. A produção artesanal desse aperitivo teve algumas melhorias, mas preserva a essência da receita passada pelos imigrantes de geração em geração. Após o tempero, a carne é envolvida pelo peritônio, uma membrana que recobre a parede abdominal do porco, e depois é armazenada por cerca de seis meses para a cura e a maturação, até chegar ao produto final. Ele é servido em fatias nas para realçar o sabor.
“O socol não é só um pedaço de carne que é vendido no mercado. Ele carrega a história de um povo. Na bagagem do imigrante, com certeza, havia socol. Esse embutido faz parte da história de superação e sucesso da imigração italiana de Venda Nova”, destaca o presidente da Associação de Produtores de Socol (Assocol), Alexandre Zanete Cesquim.
Ele acrescenta que, além das características históricas, o presunto se destaca pela versatilidade para consumo. “Pode-se harmonizar o socol com bebidas como vinhos e cervejas artesanais da região. Ele pode ser consumido puro, com azeite ou limão a gosto. A alta gastronomia o utiliza na composição de pratos bem elaborados como em molhos, coberturas e recheios de massas, tanto de macarrão quanto de pães, na produção de risoto e hambúrguer artesanal”, informa.
Fabricação
Um dos produtores de socol de Venda Nova, o Sítio Lorenção tem total identificação não só com o produto como, também, com a história do município. A trabalhadora rural e proprietária do sítio, Bernardete Maria Lorenzoni Lorenção, conta que, antes de começar a produzir o socol, tanto ela quanto a família, se dedicavam a outras atividades no campo.
“Somos adeptos da agricultura familiar, sempre trabalhamos na roça produzindo brócolis, cenoura e outras verduras para levar para o Ceasa. E o meu marido, José Lourenço, ‘roubava’ socol que a mãe dele fazia, para comer com os amigos tomando cachaça”, lembra Dete, como é conhecida na região. “Nesse meio tempo, ele percebeu que todos gostavam do socol, como tira-gosto, e começou a fazer algumas pecinhas para vender, com a ajuda dos amigos, para comprar a carne que servia de matéria-prima para a produção.
Segundo ela, o socol era apenas um meio de conservação da carne, pois, à época, não tinha geladeira. “Assim, quando matávamos os porcos, fazíamos o socol como forma de conservar a carne”, explica.
Com o passar do tempo, de acordo com a empresária rural, eles foram, aos poucos, produzindo uma quantidade cada vez maior da iguaria. “Com a entrada do agroturismo aqui na cidade, o socol passou a ser conhecido também pelos turistas, através da propaganda ‘boca a boca’”, ressalta Dete.
Por conta do reconhecimento e do aumento da procura pelo socol do Sítio Lorenção, a proprietária começou a fazer outros produtos, como os antepastos. “O primeiro foi o tomate seco. Com isso, fomos saindo um pouco da roça e conseguindo nos manter com o agroturismo, que agora é a nossa maior fonte de renda”, salienta.
Equipe
A proprietária do Sítio Lorenção destaca o trabalho em família como um dos segredos do sucesso da atividade. “Depois de longa caminhada, os filhos estudaram, e voltaram, e, hoje, trabalhamos eu, meu marido José Lorenção e meus lhos Bernardo e Graccielli. Além disso, contamos com a ajuda de outros dois funcionários”, detalha.
Atualmente, o Sítio Lorenção produz 14 tipos de antepastos, o socol (cerca de 600kg por semana) e outro embutido chamado Culatello, que é produzido apenas no inverno e demora um ano para maturar. “Os antepastos são feitos de acordo com a saída, pois nossos produtos não têm conservantes e são totalmente artesanais”, pontua.
A empresária explica que a marca Socol era registrada por eles, porém, quando eles zeram a Associação do Socol para obter a IG, tiveram que ceder a marca para a Associação. “Hoje temos o Selo Arte para o Socol, que nos permite vender em todo território brasileiro e, também, a IG, que foi uma forma de proteção do nosso produto, da nossa receita e história”, arremata Dete.
A região
O Secretário de Turismo, Cultura e Artesanato, Jorge Uliana, enfatiza que Venda Nova do Imigrante “é um paraíso bucólico nas montanhas do Espírito Santo”.
O município está inserido numa região repleta de surpreendentes paisagens naturais, dentre elas, o Parque Estadual da Pedra Azul, uma das localidades mais belas e charmosas do Espírito Santo, e distante apenas 10 km de Venda Nova. Seu clima é espetacular, classificado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como terceiro melhor do mundo.
Quem gosta de um pouco mais de emoção, pode ainda praticar esportes de aventura como voo livre, rafting, trekking, escaladas, mountain bike, trilhas, entre outros.
Pedra Azul é uma das principais atrações turísticas do Estado. A região serrana capixaba, além das belezas naturais, é repleta de encantadoras rotas, com pousadas, restaurantes, bares, cafés, panicadoras, delicatésses e lojas de produtos do lugar. Muitos hotéis se abastecem com o que é produzido localmente.
O inusitado e emblemático cartão postal, a Pedra Azul, é uma formação de granito com 1.822 m de altitude, com um “lagarto” esculpido naturalmente, “subindo” em sua superfície. Sua coloração adquire tons entre azulado e esverdeado, conforme a movimentação da luz solar.
Agroturismo
Jorge Viana salienta que “merecidamente, Venda Nova do Imigrante é considerada, oficialmente, como a Capital Nacional do Agroturismo.
São diversas fazendas e sítios que abrem as portas e porteiras para visitação dos turistas, que podem vivenciar experiências diferenciadas e participar de atividades praticadas nas propriedades agrícolas, como, por exemplo, escolher e colher seu próprio morango, ou amora, diretamente do pé, no sistema ‘colhe e pague’”, conta o Secretário.
“Além disso, da produção de Socol, passando por vinhos, doces, cogumelos, milho, queijos, artesanatos e cafés premiados e também certificados com Indicação Geográfica, cada parada é um convite irresistível para quem busca uma imersão na vida do campo e conhecer mais de perto o cotidiano das famílias e suas atividades nas propriedades rurais”, enfatiza Uliana.
Dados Técnicos
Número: BR4020140000026
Indicação Geográfica: Venda Nova do Imigrante
Requerente: Associação dos Produtores de Socol de Venda Nova do Imigrante
Data do Registro: 12/06/2018
Delimitação: A área a ser considerada como indicação de procedência está localizada na parte nordeste do município de Venda
Nova do Imigrante, localizado no estado do Espírito Santo, abrangendo as regiões de Alto Bananeiras, Bananeiras, Lavrinhas, Sede, Tapera, Alto Tapera, Santo Antônio da Serra e Providência.
Redação A Lavoura