Agro brasileiro pode movimentar mais de US$ 160 bilhões com emissão de títulos verdes até 2030
O mercado brasileiro de títulos verdes ou, em inglês, Green bonds, alcançou, em 2021, a marca de US$ 11,7 bilhões. Desse total, a Agricultura foi responsável por cerca de 25% das emissões no Brasil desde 2015. O setor é considerado o maior potencial de emissões verdes do país, segundo o último estudo da Climate Bonds Initiative (CBI) – entidade responsável por estimular esse mercado pelo mundo.
“Em termos de potencial, segundo um relatório feito pela CBI, em 2020, foi mapeado um potencial de investimento verde de US$ 163 bilhões, até 2030, só no setor agrícola brasileiro”, armou Lilian Caetano, coordenadora de Agricultura da CBI no Brasil, em entrevista à revista A Lavoura.
Os Green bonds são um tipo de título de dívida para captação de recursos no mercado que servem como forma de financiamento para projetos. A grande diferença do título verde para um título comum é que todo o recurso captado com a emissão de Green bonds deve ser destinado para financiar um projeto comprovadamente categorizado e certificado como sustentável.
São exemplos de projetos verdes, ou sustentáveis, a energia renovável (eólica, solar e bioenergia) que lidera o ranking com 50% das operações de títulos verdes no Brasil, ferrovias, metrovias, edificações sustentáveis, gestão de resíduos, entre outros projetos capazes de reduzir emissões de carbono e o consumo de água, energia e matérias-primas.
A categoria de uso da terra, no qual entram emissões de agricultura e setor florestal, fica na segunda posição, com 25% das emissões.
Operações no Brasil
A primeira operação do tipo feita no Brasil veio da agroindústria. A brasileira BRF captou 500 milhões de euros no mercado europeu em 2015, por meio de Green bonds para nanciar tecnologias de eciência energética e hídrica nas suas plantas, e que promovessem também a redução de emissões de gases do efeito estufa.
“Desde sua primeira emissão com a BRF, em 2015, o Brasil já acumulou US$ 11,7 bilhões em emissões de títulos verdes, através de 86 operações, com 50 diferentes entidades e esse número só tende a crescer”, conta a coordenadora da CBI.
Somente de janeiro até setembro de 2021, o país emitiu 20 títulos verdes, somando US$ 1,7 bilhão. Com isso, o Brasil se estabelece como o principal mercado de Green bonds na América Latina.
Quanto às principais emissões desse ano relacionados ao agro, Lilian cita os títulos da Colombo Agroindústria (US$ 65 milhões), Ferrari Agroindústria (US$ 15 milhões), Solinftec (US$ 26 milhões) e Produzindo Certo (US$ 12 milhões).
“Além dessas, temos visto emissões de empresas do setor de biocombustíveis, florestal, agricultura e produção de alimentos”, diz a coordenadora da Climate Bonds Initiative.
Segundo ela, além da BRF, outra operação emblemática foi da Rizoma Agro, em agosto do ano passado.
“Essa operação foi não só primeiro CRA verde de uma empresa do setor de agricultura, mas também a primeira empresa do mundo que teve a operação certificada com base nos critérios de agricultura do Climate Bonds Standards, se tornando uma referência no mercado”, explica.
Requisitos para agricultura e pecuária
Até então, no setor agro, somente a agroindústria, bioenergia e orestas plantadas tinham critérios definidos para emissão de títulos verdes. A partir de 2020, a CBI desenvolveu os Critérios de Agricultura, permitindo a certificação de Green bonds para o setor, considerando diversos outros cultivos em lavoura.
Em junho do ano passado, a entidade também definiu critérios para incluir a pecuária, dando outro passo importante para o mercado de finanças sustentáveis.
O Critério de Agricultura e Pecuária engloba um conjunto de requisitos que demonstra se um projeto ou ativo é elegível para uma certificação verde da Climate Bonds Standards.
“Estes requisitos são um excelente parâmetro para classificar uma operação como verde e evitar green washing (falsa imagem de empresa sustentável)”, defende Lilian.
Entre os critérios que focam apenas na produção agropecuária dentro da porteira, estão aqueles que levam em conta principalmente a redução das emissões de CO2 ao longo do período que o projeto receberá os investimentos.
Nas lavouras, é levada em consideração, por exemplo, a preservação de vegetação nativa, práticas de fixação biológica de nitrogênio, uso de fertilizantes naturais e controle biológico de pragas. Já no caso da pecuária, são considerados, entre outros, padrões de bem-estar animal, utilização de ração feita de grãos provenientes de lavouras de áreas não desmatadas recentemente.
“Observamos que o setor de florestas é disparado o maior emissor de Green bonds, com operações da Suzano, Klabin, Forest Company Brasil e Celulose Irani. Também temos visto um aumento de emissões desses títulos verdes no setor de bioenergia, através da produção de etanol de cana-de-açúcar e milho”, explica Lilian.
Mercado potencial
Apesar das recentes operações, o volume está muito aquém do potencial do agro brasileiro, que tanto depende de novas fontes de financiamento para crescimento da produção.
“As emissões voltadas a produção agrícola ainda são incipientes, com a primeira operação, a da Rizoma, tendo acontecido em agosto de 2020. Desde então, tivemos as operações da SLC Agrícola, Solinftec e Produzindo Certo. Há um potencial significativo para emissões nos diversos segmentos do agro, uma vez que no Brasil podemos ter escala”, ressalta a coordenadora da CBI.
Para ela, os produtores rurais ainda não têm acesso ao conhecimento sobre títulos verdes. Lilian acredita que a informação, somada com a ambição dos produtores no quesito sustentabilidade, deverá impulsionar, ainda mais, as emissões de títulos verdes nos próximos anos.
“Considerando a agricultura, o Brasil, como um dos principais exportadores de alimentos do mundo, acaba tendo um papel fundamental nesse cenário, não só para a atração de investidores, como também, para garantir a produtividade agrícola e uso sustentável dos recursos e ativos do país. Nesse contexto, os títulos verdes acabam se tornando um importante aliado uma vez que conseguem unir captação de recursos financeiros com um ganho ambiental e social”, conclui.
Redação A Lavoura