Gestão estratégica é fundamental para a inclusão de novas tecnologias
O uso de tecnologias on-line, on-time e real-time, inter e hiper conectividade, interatividade e ciência de dados sinaliza o avanço da transformação digital no campo levando melhorias para o produtor. Porém, a sua vasta empregabilidade exige estratégias de gestão rural para a correta tomada de decisão.
Segundo Aryeverton Fortes, pesquisador da Embrapa Agricultura Digital (Campinas-SP), encher o produtor de dados não muda sua realidade, ao contrário, gera bagunça. “É necessário entregar ao produtor informações simples, objetivas e eficientes, capazes de ajudá-lo a tomar decisões com menos complicações”, afirma.
Para o pesquisador, o aumento da produção, a redução de desperdícios na aplicação de insumos e a otimização no processamento e distribuição são alguns benefícios dessas ferramentas. “São fatores positivos que proporcionaram ações assertivas no negócio rural.”
Zoneamento
Uma das ações apontadas por Fortes é o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), ferramenta desenvolvida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pela Embrapa e instituições há mais de duas décadas. O Zarc direciona diversas políticas agrícolas do País, como o Programa de Garantia de Atividade Agropecuária (Proagro) e o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR).
“Cerca de 20% da área plantada no Brasil é segurada pelo zoneamento. Nos Estados Unidos, o índice atinge 100% e chegar aos 40% já seria um considerável incremento à política agrícola”, avalia o pesquisador da Embrapa. Hoje, 44 culturas são cobertas e, de acordo com levantamento de 2016, a adoção do Zarc evitou perdas de produtividade estimadas em R$ 3,6 bilhões de reais/ano, a maioria relacionada a eventos meteorológicos.
Intensificação
Fortes afirma que é possível encontrar propriedades em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Maranhão, Piauí e Bahia que utilizam tecnologias de ponta e os conceitos ESG – rastreabilidade, certificações e sustentabilidade. Como resultado da intensificação, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul algumas dessas fazendas têm a terceira safra, com a introdução de pastagem e gado, fortalecendo a diversificação.
Na opinião de Ronei Sana, coordenador de agricultura digital do grupo SLC Agrícola, outro fator proveniente da intensificação é a maturidade da terra, que aumenta o potencial de produtividade e reduz o uso de áreas imaturas.
Na SLC, o ecossistema de inovação é uma ferramenta de gestão nas fazendas da organização. “Além da terceira safra e da manutenção do solo, o uso de biológicos é uma realidade, com 15 biofábricas instaladas a substituir produtos químicos por biológicos, gerando uma agricultura regenerativa”, conta.
Sana diz que as mudanças começaram pelas pessoas, com a capacitação dos colaboradores, que foram treinados em agricultura digital. “Depois, veio o centro de inteligência agrícola da empresa, com o foco nas pessoas, nos processos e tecnologias e nos níveis operacional, tático e estratégico para consolidação da missão da companhia”, ressalta.
Ele destaca que os sistemas intensivos aliados a ferramentas digitais economizaram R$ 82 milhões de reais em insumos, inclusive com o monitoramento de pragas e gestão do clima.
Monitoramento
Transformar dados em conhecimento é o foco de organizações como a canadense Farmers Edge, que enxerga o Brasil como mercado em expansão. Com coleta de dados por meio de estações medidoras, dispositivos telemáticos, imagens de satélite e informações sobre nutrição e fertilidade do solo, uma expansão sustentável acontece.
“O monitoramento climático é a solução inovadora que os produtores mais buscam para sua propriedade e é possível elaborar um estudo do microclima da fazenda”, entrega Leandro Barbosa, consultor da Farmers Edge em agricultura de precisão. Ele destaca que homogeneizar áreas não é um caminho, “é preciso descobrir e explorar as potencialidades de cada uma”.
Aryeverton Fortes, Ronei Sana e Leandro Barbosa participaram do painel “Uso de ferramentas digitais no planejamento, na adoção e na avaliação dos sistemas intensivos de produção”, no II Simpósio de Sistemas Intensivos de Produção, de 15 a 17 de agosto deste mês, no Campus da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. O evento foi realizado pela Embrapa e parceria com Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa).