Instalação da Maltaria Campos Gerais (PR) deve triplicar área de plantio nos próximos 5 anos; qualidade do grão é essencial para garantir um bom malte para produção da cerveja
A maior parte da produção comercial da cevada no Paraná tem sido exclusivamente para consumo na indústria cervejeira. O Estado lidera a produção brasileira do grão, sendo responsável por 60% das toneladas nacionais.
A expectativa é que a área cultivada triplique nos próximos 5 anos, especialmente com a instalação da Maltaria Campos Gerais, no município de Ponta Grossa, que contará com um investimento de R$ 1,5 bilhão na sua primeira fase. Prevista para operar a partir de outubro de 2023, a fábrica é uma parceria das cooperativas Agrária, Bom Jesus, Capal, Coopagrícola, Frísia e Castrolanda.
A Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento (Seab) estima um crescimento expressivo da área de cevada até 2025, podendo triplicar e chegar a 100 mil hectares. Estima-se que a fábrica dos Campos Gerais tenha uma produção anual de 240 mil toneladas de malte, volume que hoje corresponde a 15% do mercado nacional.
Paralelo ao crescimento da área de plantio, crescem também as exigências com o padrão de qualidade do grão da cevada e os investimentos feitos por produtores, cooperativas e indústrias paranaenses.
Controle de qualidade
O grão da cevada, é de longe o cereal mais importante na fabricação de cerveja, porque é com ele que se produz o malte em um processo relativamente complexo, que pode ser chamado de maltagem ou malteação. Só para ter um comparativo, 100 kg de grãos são transformados em cerca de 78 kg de malte.
Cultura tipicamente de inverno, o cultivo da cevada é mais forte nas regiões temperadas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde o clima favorece a produção com qualidade para fazer cerveja. Estados como São Paulo, Goiás também cultivam o cereal.
Para que a produção se constitua em um negócio agrícola promissor, o produtor rural que está nesta atividade deve ficar atento à qualidade do grão.
O primeiro passo está relacionado a questão da umidade do grão, pois a cevada é uma cultura muito sensível às chuvas. A umidade em excesso faz com que o grão germine e perca a qualidade.
Para ter menos custos com secagem, a melhor opção é que a colheita seja realizada quando as sementes atingirem a umidade entre 26% e 18%. Porém, para o armazenamento, o grão precisa passar por secagem até atingir 13% de umidade. Já o malte destinado à produção de cerveja deve conter no máximo 8% de umidade.
Outro fator importante é com relação ao tamanho dos grãos, que devem ser homogêneos, grandes e com baixa porcentagem de quebrados.
“Todas essas características são muito importantes para uma germinação rápida e igual das sementes no processo da fabricação de malte”, afirma o Especialista em Qualidade da Cooperativa Castrolanda, Joany Anthony Simão.
Importância da secagem dos grãos
Joany observa que o grão está relacionado à questão da qualidade do malte, por isso é crucial que a colheita seja realizada dentro dos percentuais toleráveis de umidade.
“Se colher muito úmido, o grão vai germinar e toda safra poderá ser comprometida”, explica. “É igual ao trigo. Se pegar um período longo de chuva germina e perde a qualidade”, compara Joany.
Segundo ele, a Cooperativa Castrolanda está investindo em secadores para começar a operar na safra de 2022. Essa estrutura vai permitir que a cooperativa faça também a secagem do grão. Atualmente, fazemos apenas a classificação dos grãos da cevada.
“Vamos fazer a secagem e o beneficiamento para entregar o grão à Cooperativa Agrária em condições de armazenagem, ou seja, com 13% de umidade.
A Castrolanda recebe para classificação pelo menos 15 mil toneladas de cevada produzidas em 3.300 hectares. A expectativa é dobrar a produção até o ano que vem para atender a maltaria que está em obra.
“Por isso estamos investindo em secador, pois nossas projeções são de dobrar a produção brevemente, por conta da Maltaria”.
Medidores de umidade
O engenheiro agrônomo Roney Smolarek, da empresa LocSolution, que detém a marca Motomco de medidores de umidade de grãos, lembra que a Portaria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estabelece os seguintes requisitos de qualidade do grão para a indústria da cerveja.
Segundo a Portaria, a umidade máxima é de 13,0%, proteína máxima de 12,0%, poder germinativo mínimo de 95,0%, matérias estranhas e impurezas máximo de 3,0% e grãos avariados máximo de 5,0%.
Esses requisitos, de acordo com Smolarek, são os principais motivos para que as maltarias, cooperativas e produtores optem por utilizar os medidores de umidade de grãos e, assim, garantir que seus produtos estejam em conformidade com os padrões de qualidade e teores de umidade exigidos no processo de produção, que ocorre em três etapas distintas: a maceração, a germinação e a secagem.
“Nessas três etapas o uso do medidor de umidade é necessário, pois ele fornece a porcentagem do teor de umidade do grão muito mais confiável do que a simples inspeção visual, já que um grão seco na superfície ainda pode conter umidade interna, além de contar com mais de 200 curvas de produtos in natura e subprodutos para medição, nesse caso inicia o processo utilizando a Curva Cevada e na sequência a troca para a Curva Malte direto no instrumento”, explica Smolarek.
No processo de secagem é fundamental a utilização do medidor de umidade de grãos pois é responsável pela determinação do ponto de encerramento dos processos químicos e biológicos, formando aroma, sabor e cor característica do malte.
“Sem esse controle teremos um produto final de baixa qualidade. O medidor de umidade faz a integração com processos de automação das fábricas diminuindo falhas humanas e rastreabilidade nos processos”, afirma o engenheiro agrônomo.