Aumento da remuneração dos produtores é insuficiente para manutenção da atividade
Nos últimos seis meses, a lenha que aquece os aviários, a energia elétrica e a mão de obra foram os itens que mais pesaram no bolso dos produtores de aves do Paraná. Segundo levantamento de custos de produção na avicultura, realizado pelo Sistema Faep/Senar-PR, a atividade continua trabalhando com margens apertadas, como nos anos anteriores, e se agravaram com a alta registrada em diversos itens fundamentais para a produção, que ultrapassam a inflação do período.
O levantamento também apurou que, quanto maior a escala de produção, menor é o prejuízo, e, nas regiões onde os produtores participam ativamente das Comissões de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs), existe mais capacidade de negociação junto às integradoras.
Sete reuniões foram realizadas, entre 16 e 20 de maio, para coletar dados em importantes polos de produção avícola do Paraná, localizados em Cambará, Campos Gerais, Cascavel, Chopinzinho, Cianorte, Paranavaí e Toledo.
Os gastos com a atividade (contas e luz, notas fiscais, holerite de funcionários, entre outros documentos) foram usados para compor o custo de produção de uma propriedade modal, ou seja, o perfil de um negócio que mais se repete naquela região, no que tange às dimensões, número de aviários e tipo de criação, além da empresa à qual o produtor está integrado. Esse trabalho é composto pela produção realizada em 26 diferentes modais de produção.
Modais
O levantamento de custos mostrou que 92% das propriedades analisadas estão trabalhando no vermelho, pois não conseguem cobrir os custos totais de produção com o valor recebido pelas integradoras. Em 88,5% dos modais, o saldo recebido cobriu os custos variáveis, o que significa que a remuneração recebida pelos produtores foi suficiente apenas para arcar com as despesas do lote. Mesmo assim, no médio e longo prazos, a atividade não se sustenta, pois não teria como cobrir o desgaste dos equipamentos, renovar nem ampliar suas instalações.
Na comparação com o último levantamento (novembro de 2021), a receita total recebida pelos avicultores aumentou em todos os modais analisados. Mesmo assim, os ganhos recebidos não foram suficientes para cobrir os custos totais, que em 77% dos casos registraram aumento maior que a receita.
“Subiu tudo. A maravalha que estava R$ 7 há 90 dias, agora está R$ 19. Diesel, mão de obra, e energia elétrica também estão mais caros”, atesta o avicultor Juarez Pompeu, que participou do painel em Chopinzinho, no sudoeste paranaense.
Segundo Pompeu, a situação dos avicultores, que já não era boa, vem piorando. “Ano passado cerca de 90 aviários fecharam na região. Alguns produtores fazem um financiamento no banco, para construção e adequação dos aviários, não conseguem acompanhar a tecnologia, nem investir, então acabam saindo da atividade”, afirma.
Sete modais
Em Chopinzinho, foram analisados sete diferentes modais de produção. Em todos, a receita total foi suficiente apenas para cobrir os custos variáveis. Quando analisado o custo total, o prejuízo chega a R$ 0,48 por ave entregue. O maior custo de produção levantado nesse painel foi mão de obra, com 30% dos custos variáveis de um barracão de 100 x 12 metros com produção de frango griller na região. Em segundo lugar está o aquecimento (lenha), com participação de 19,54%.
Segundo a técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema Faep/Senar-PR, Mariani Benites, em praticamente todas as regiões e modais analisados, a remuneração dos produtores não aumentou na mesma proporção que os custos de produção. Das 26 propriedades modais analisadas, apenas duas apresentaram saldo sobre o custo total positivo. Ainda, 11,5% não conseguiram arcar com o custo variável.
“O cenário a médio e longo prazos é preocupante, pois o produtor não está conseguindo ter reserva para quando precisar renovar suas instalações e equipamentos e nem a remuneração sobre o capital investido na atividade”, comenta a técnica.
Dois modais que conseguiram arcar com os custos totais de produção estão localizados na região de Cianorte. São barracões de 160 x 16 metros e 180 x 18 metros que produzem frangos pesados para a integradora Avenorte e registraram saldo sobre o custo total de R$ 0,05 e R$ 0,39 por ave, respectivamente. A relação dos produtores com a integradora está estruturada com uma Cadec atuante. Dessa forma, as negociações entre as partes ocorrem de forma equilibrada e assentada sobre dados técnicos.
Ganho em escala
Outra informação do levantamento foi o ganho de escala. Em alguns modais que possuem mais de um barracão, é possível notar que as despesas se diluem conforme aumenta o número de aves alojadas, melhorando as margens dos produtores. É o caso do produtor Carlos Maia, que possui 12 barracões em São João do Caiuá, na região noroeste, no qual aloja 500 mil aves.
“Com produção em escala eu consigo racionalizar o custo. Ao invés de comprar um saco de cal, negocio um caminhão fechado. Quando compro lenha, são 10 alqueires de eucalipto. Para mão de obra, a lógica é a mesma. Tenho dois tratores trabalhando 24 horas para atender os 12 barracões. Tem gente que tem dois barracões e tem um trator”, relata.
Outro ponto importante é a independência energética, alcançada quando o produtor consegue gerar o insumo para consumo na propriedade. Vale lembrar que na avicultura essa despesa representa quase 20% do custo de produção.
No caso de Maia, essa independência veio a com a instalação de painéis fotovoltaicos, permitindo que 100% da energia utilizada nos barracões venha do sol. “A gente gastava R$ 100 mil de energia num lote, média de R$ 50 mil por mês. Neste último mês paguei apenas R$ 200”, comemora o avicultor.
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Cianorte e dirigente da Comissão Técnica (CT) de Avicultura da Faep, Diener Santana, os produtores estão tendo vários incentivos, tanto por parte do governo estadual como federal, para que venham a ter fontes de energia sustentáveis, como eólica, biogás ou fotovoltaica.
O Sistema Faep/Senar-PR vem atuando de forma intensa para que as energias renováveis sejam difundidas no Estado. Além de uma cartilha informando as bases legais e técnicas para o uso dessas fontes energéticas no campo, a entidade promoveu, recentemente, um seminário sobre o tema, além de viagens técnicas para conhecer a realidade da energia renovável em outros países.