Produto é feito a partir do tratamento de quase 400 toneladas resíduos de frigorífico
Projeto desenvolvido por pesquisadores da Estação Experimental da Epagri em Itajaí (EEI), na unidade de compostagem Lauro Pamplona, no município catarinense de Trombudo Central, está permitindo o tratamento de quase 400 toneladas mensais de resíduos de frigoríficos.
A iniciativa, que vem de uma parceria entre a Epagri e a Pamplona Alimentos, tem transformado esses resíduos através em um composto orgânico com características que possibilitam seu registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) como fertilizante Classe A, o que permite o uso amplo, inclusive em cultivos orgânicos.
“O sistema confere um tratamento eficiente dos resíduos, transformando esses materiais em um composto orgânico de alta qualidade, seguro em relação a contaminações e com elevado valor agronômico”, afirma Rafael Cantú, pesquisador da EEI. De acordo com ele, a parceria começou em 2017, por meio de um contrato de prestação de serviço, e tem apresentado bons resultados.
Segundo Cantú, a compostagem absorve todo o material proposto a ser tratado, o que compreende todos os resíduos dos frigoríficos das plantas da Pamplona em Rio do Sul e Presidente Getúlio, além das fábricas de ração, cinzas de caldeira e das criações de suínos. “Em muitos casos, as agroindústrias desse setor destinam a maior parte dos resíduos a aterros sanitários especiais, muitas vezes são localizados distantes das agroindústrias, representando custos e riscos ambientais, especialmente no transporte”, observa.
O pesquisador informa que tanto o sistema de compostagem quanto o da produção do composto estão devidamente licenciados pelo Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA). “A tecnologia gerada pela Epagri poderá ser aplicada em outras agroindústrias da carne catarinenses, independente do tamanho”, informa o pesquisador, destacando que esse setor se firma como um dos principais impulsionadores do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado.
O sistema
O sistema é conduzido em um galpão, que se subdivide em quatro células, onde se desenvolve a compostagem. Uma máquina faz diariamente o revolvimento automatizado do material. Os pesquisadores também trabalharam para chegar a uma mistura ideal para o processo de compostagem.
O revolvimento diário promove a oxigenação dos materiais, proporcionando o rápido desenvolvimento de sucessivos grupos de microrganismos, constituídos predominantemente por bactérias heterotróficas aeróbicas. A mistura faz com que os microrganismos se desenvolvam e promovam a decomposição dos materiais, que dura 90 dias.
Nesse período, ocorre a elevação gradual de temperatura, que inicia próxima do ambiente e atinge 50°C após cinco ou seis dias. Dentro de 40 ou 50 dias a temperatura chega perto dos 70°C e começa a declinar. Ao fim de 90 dias, estará próxima a 45°C.
“A elevação da temperatura promove a eliminação dos microrganismos patogênicos, atendendo às exigências do Mapa, transformando o composto produzido em fertilizante seguro para ser utilizado em qualquer cultivo de alimentos”, esclarece Cantú.
Após três meses, o composto é acondicionado em outra célula para a “maturação” do material, sendo realizado apenas um revolvimento mensal com o auxílio de um trator. No período de mais 90 dias, ocorre intensamente a humificação do composto, quando a temperatura declina para próximo à do ambiente e o adubo fica pronto para uso.
O pesquisador da EEI explica que o maior ganho é a possibilidade de tratar adequadamente resíduos de frigoríficos. Além disso, ele lembra que a tecnologia permitirá a produção de adubo orgânico em outras regiões do Estado, a preços mais competitivos. Hoje, a maior parte dos adubos orgânicos utilizados vêm do Oeste de Santa Catarina, o que faz o custo com frete encarecer o insumo.