Experimento foi realizado a partir de levantamento fitossociológico, que avalia as plantas dos pontos de vista florístico e estrutural
Estudo da Embrapa Cerrados (DF) sobre consórcio de milho com a BRS Zuri, cultivar de capim colonião (nome popular da espécie Panicum maximum), mostrou um redução significativa na infestação de plantas. Além de registar produtividades semelhantes do cereal, o experimento comprou a diversidade de ervas daninhas no consórcio.
Segundo a pesquisa, o consórcio reduziu em 68% a infestação de plantas daninhas em comparação com o milho solteiro na entressafra agrícola (outono/inverno) do Cerrado brasileiro. Também foi comprovada a redução de 66% na ocorrência de buva (Conyza sumatrensis), espécie que possui indivíduos resistentes ao herbicida glifosato.
“A dificuldade de manejar espécies de plantas daninhas tolerantes ou resistentes a herbicidas exige mudanças não só na substituição ou inclusão de novos produtos no sistema de produção, como também no comportamento dos produtores, com a adoção do manejo integrado dessas plantas com o uso, na entressafra, de plantas de cobertura como as gramíneas forrageiras do gênero Urochloa (capins braquiárias) ou Panicum”, explica a pesquisadora Núbia Maria Correia.
“Essa prática é importante, já que além de melhorias na qualidade física, química e biológica do solo, favorece o manejo de plantas daninhas, seja pela interferência das plantas vivas das espécies forrageiras ou pela cobertura morta depositada sobre o solo após a dessecação antes da semeadura da cultura de interesse”, afirma Núbia, que é e responsável pelo estudo “Levantamento fitossociológico de plantas daninhas em áreas de milho com e sem consórcio com BRS Zuri.
Efeitos
De acordo com a especialista, já são conhecidos os efeitos dos consórcios de milho com a braquiária ruziziensis (U. ruziziensis), muito utilizados no Cerrado do Brasil Central para o controle das plantas daninhas. No entanto, a pesquisadora observa que o uso de espécies como o capim colonião como planta de cobertura no período de entressafra na região, quando as chuvas são reduzidas e o acúmulo de massa de forragem fica comprometido, também é promissor tanto para a formação de pastagem como de palhada para o Sistema Plantio Direto para a safra de verão seguinte.
“As plantas do colonião têm sistema radicular vigoroso e profundo, além de elevada tolerância à deficiência hídrica e absorção de nutrientes em camadas mais profundas do solo, desenvolvendo-se em condições ambientais desfavoráveis para a maioria das culturas de grãos e de espécies utilizadas para cobertura do solo”, informa.
Metodologia
A pesquisadora explica que o trabalho buscou identificar e quantificar as plantas daninhas presentes em duas áreas paralelas de milho safra – uma faixa de milho solteiro e outra do cereal consorciado com o capim colonião BRS Zuri. As áreas foram semeadas no mesmo dia, em outubro de 2020, e receberam os mesmos tratos culturais. Na faixa do consórcio, a BRS Zuri foi semeada antes do milho.
Em julho, 72 dias após a colheita do milho, foi realizado o levantamento fitossociológico das plantas daninhas que emergiram nas duas faixas, com amostragem de 12 pontos aleatórios de 9m2 em cada uma. Em cada ponto, foi realizada a avaliação visual da infestação, considerando quantidade, altura e enfolhamento das plantas.
Foram identificadas 18 espécies de plantas daninhas infestando as duas faixas, distribuídas em 17 gêneros e 8 famílias. A porcentagem de infestação de cada espécie foi estimada em função da cobertura do terreno pelas plantas. A partir desses valores, foram calculados outros parâmetros fitossociológicos.
A fitossociologia é o estudo das comunidades vegetais do ponto de vista florístico e estrutural e compara as populações de plantas daninhas em um determinado momento. Indivíduos da mesma espécie compõem uma população e grupos de populações que ocorrem juntas caracterizam uma comunidade. Repetições desses levantamentos em outras épocas do ano podem indicar tendências de variação da importância de uma ou mais populações, e essas variações podem estar associadas às práticas agrícolas adotadas, segundo a Núbia.
A pesquisadora afirma que o levantamento fitossociológico é muito importante para auxiliar na escolha mais adequada do método de controle das plantas daninhas, pois pode influenciar diretamente na eficiência do manejo utilizado. “O levantamento fitossociológico pode possibilitar, ainda, a obtenção de parâmetros confiáveis sobre a florística das plantas daninhas de um determinado talhão”, explica.
“Os dados do estudo reforçaram, portanto, a importância da cobertura viva do solo na entressafra agrícola durante o período de outono/inverno para reduzir a infestação de plantas daninhas de difícil controle como buva, capim-amargoso, poaia-branca e erva-de-santa-luzia”, conclui a pesquisadora.